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Chapecoense já tinha conquistado o torcedor brasileiro antes desta terça

Brasil seguia de perto a decisão da Sul-Americana de olho no então novo xodó dos torcedores

Atletas da Chape antes da semifinal contra o San Lorenzo.
Atletas da Chape antes da semifinal contra o San Lorenzo.N. A. (AFP)
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A tragédia desta terça-feira interrompe uma das trajetórias de maior sucesso dentro e fora de campo no esporte brasileiro nos últimos anos. A Chapecoense é exemplo de time bem administrado no meio do caótico cenário do futebol brasileiro. É exceção. Nas últimas temporadas, o clube da região oeste de Santa Catarina teve ascensão meteórica. Em 2009, subiu da série D para a C, e não parou mais. Foi ascendendo até chegar à primeira divisão há dois anos.

Nesse panorama, 2016 tinha sido simplesmente o ano perfeito para o clube. Foi campeão catarinense pela quinta vez na história e era finalista da Sul-Americana. Faria história mais uma vez caso vencesse o Atlético Nacional na decisão, título que garantiria presença na Libertadores da América de 2017. A vaga na decisão foi conquistada já na segunda participação do time no torneio. A primeira vez foi no ano passado, quando surpreendeu, mais uma vez, ao chegar às quartas de final.

Cada conquista era partilhada pelos 200.000 moradores da cidade de Chapecó. Mas a tragédia que o abateu, quando se dirigia à Colômbia para disputar o jogo mais importante de sua história, calou a alegria não só em Chapecó, como no Brasil inteiro. É que de tempos em tempos aparecem times pequenos que conseguem resultados expressivos e passam a ocupar um 'segundo lugar' no coração dos torcedores de todas as outras equipes. Foi assim quando a Portuguesa chegou à final do Campeonato Brasileiro, em 1996, contra o gigante Grêmio, ou quando o São Caetano jogou a final da Libertadores em 2002 contra o Olímpia, do Paraguai. Em ambas as decisões, o time pequeno, apoiado por todos os outros torcedores, foi derrotado pelo grande. A Chapecoense, que nasceu em 1973, tinha a chance de mudar essa história. O Brasil acompanhava de perto a expectativa da decisão contra o Atlético Nacional.

Sem pirotecnia

O sucesso da equipe não é obra de investimentos faraônicos ou de lances decisivos de grandes jogadores, como é comum no futebol brasileiro. O departamento de futebol da Chape é gerenciado por empresários experientes no setor privado da região, que pagam salários normais a atletas experientes, caso de Cleber Santana, e dão oportunidade a jogadores de pouco destaque no cenário nacional. O orçamento enxuto faz com que o time caminhe com as próprias pernas, sem depender de verba pública da Prefeitura de Chapecó para pagar as contas.

Nem sempre foi assim. Fundada por um grupo de atletas da cidade de 200.000 habitantes, a Chapecoense demorou quase 40 anos para se destacar no cenário nacional. Em 2008 o clube acumulava cerca de 1,5 milhão de reais em dívidas. Naquela temporada, um grupo de empresários locais da indústria da carne se reuniu para transformar a estrutura da equipe. Aos poucos, foram acertando as contas e modernizando a estrutura. Construíram o Centro de Treinamento com academia, sala de fisioterapia e cozinha em novembro de 2014, mesma época em que foi concluída a terceira fase da ampliação do estádio do clube, a Arena Condá, cuja capacidade passou de 15 mil para 22 mil torcedores. O ônibus antigo que transportava a equipe também foi trocado no mesmo ano, quando a verba da Série A permitiu que os dirigentes investissem mais no clube.

Em 2015, com a presença garantida pela primeira vez na Copa Sul-Americana, vieram as viagens internacionais, uma novidade para o time. Logo na primeira, os dirigentes do clube não conseguiram comprar passagens aéreas para a disputa das oitavas de final contra o Libertad, no Paraguai, e a delegação teve que viajar 15 horas de ônibus de Chapecó até Assunção. Mesmo cansados, os atletas conseguiram um empate por 1 a 1, que abriu caminho para a inédita classificação para as quartas de final, maior resultado da história do clube até então.

O ano de 2016 era a recompensa que os dirigentes esperavam para coroar o trabalho bem-feito nas últimas temporadas. O título do Campeonato Catarinense foi conquistado após cinco temporadas sem taças. Longe da zona de rebaixamento no Brasileiro, a Chape disputou vaga na Libertadores da América de 2017 até as últimas rodadas. A 9ª posição na tabela foi comemorada em Chapecó e deu tranquilidade para o time concentrar suas forças para a disputa da final da Copa Sul-Americana, conquistada na semana passada graças a uma defesa espetacular do goleiro Danilo no último minuto da semifinal contra o todo-poderoso San Lorenzo, da Argentina, que parou no time treinado pelo técnico Caio Júnior.

A final da Sul-Americana nunca acontecerá, e o futuro da Chapecoense passa agora pela solidariedade das outras equipes do futebol brasileiro. Alguns times grandes, como Corinthians e São Paulo, já se ofereceram para emprestar jogadores de graça para a equipe de Chapecó nos próximos anos.

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