Trump nomeia um líder republicano e um agitador midiático para a Casa Branca
Reince Priebus, integrante do establishment, será chefe de gabinete, e o populista Steve Bannon, conselheiro e estrategista
Um membro do vilipendiado establishment e outro da guerrilha digital conservadora: estas são as duas figuras do trumpismo que estarão presentes na Casa Branca. Reince Priebus, até agora presidente do Comitê Nacional Republicano, será o chefe de gabinete do presidente Donald Trump. O chefe de gabinete é um cargo de muito poder em Washington, quase equivalente a um primeiro ministro. Ao mesmo tempo, o presidente eleito nomeou Steve Bannon, que trabalha no site extremista Breitbart News, como estrategista chefe e conselheiro sênior.
A designação no domingo dos dois cargos envia um sinal duplo. Primeiro, Trump quer governar com o establishment ao qual tanto atacou antes das eleições de 8 de novembro. Priebus, durante os turbulentos meses da campanha, foi dos poucos membros da cúpula do partido que se manteve fiel ao candidato. E, segundo, os círculos nacional-populistas que impulsionaram a candidatura terão acesso direto à Casa Branca com Bannon.
Bannon, ex-diretor da publicação conservadora Breitbart News e presidente da campanha de Trump, é o oposto de Priebus: um elétron livre e contrário ao establishment, um homem que, a partir do site Breitbart News, flertou com os elementos mais extremos do espectro político norte-americano.
A nomeação de Bannon, apesar de menor relevância que a do chefe de gabinete, é significativa. Indica que entrará na Casa Branca quem dirigiu uma veículo de mídia próximo à chamada alt right, a nova direita radical que agita ideologias até agora proscritas na ágora norte-americana, como o antissemitismo e o suprematismo branco.
A organização Southern Poverty Law Center, que acompanha os episódios de ódio racial nos EUA, define a alt right como “uma série pouco definida de ideologias de extrema direita em cujo núcleo se encontra a crença em que a identidade branca está sob ataque por meio de políticas que dão prioridade ao multiculturalismo, ao politicamente correto e à justiça social, e que deve ser preservada, normalmente por meio de comunidades online e etno-estados identificados como brancos”.
Uma manchete recente do Breibart News, por exemplo, chamava de “judeu renegado” o neoconservador William Kristol, diretor da revista Weekly Standard e crítico a Trump. Andrew Breitbart, fundador do site, definiu uma vez Bannon como “Leni Riefenstahl do movimento Tea Party”, em alusão à cineasta dos grandes documentários propagandísticos de Hitler.
Com uma imagem desalinhada, mais própria a um empreendedor do Silicon Valley do que a de alguém habituado aos corredores do poder em Washington, Bannon, de 62 anos, foi chave na estratégia vitoriosa de Trump diante da democrata Clinton. O Partido Republicano, vítima de seus ataques no Breibart News, o via com hostilidade.
Priebus, de 44 anos, é a primeira nomeação de peso na Administração Trump. Bem conectado aos líderes do Congresso, será o encarregado de levar as prioridades do novo presidente à maioria republicana e fazer com que se coloque em marcha a agenda presidencial. O cargo de chefe de gabinete ou chief of staff não exige a confirmação do Senado. Trump deve jurar o cargo em 20 de janeiro.
Priebus é um político de carreira, presidente desde 2010 do Comitê Nacional Republicano, o órgão que atua como secretaria do partido. Nesta posição, foi fundamental para ajudar a vitória eleitoral, pois colocou à disposição de Trump os recursos humanos e financeiros necessários para organizar a campanha.
Quando as saídas de tom de Trump provocaram deserções de figuras republicanas, ele sempre se manteve ao lado do candidato. Conseguiu estabelecer com ele uma relação de confiança, sem com isso perder a influência entre os líderes do partido no Congresso. Priebus, natural de Wisconsin, é próximo ao speaker, o presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, que é do mesmo estado. Ryan foi objeto dos ataques de Trump por expressar seu receio diante do candidato.
Trump chega ao poder com poucos contatos no mundo político, sem qualquer experiência e sem um programa definido. Em um momento em que o mundo procura indícios de como Trump governará, a escolha de Priebus e Bannon é vista como uma decisão que indicaria por onde irá a incerta presidência. Parecerá mais com a campanha populista e extrema de Trump? Ou adotará um tom mais afinado com a tradição institucional do Partido Republicano?
Priebus era o candidato do vilipendiado establishment. Bannon, o da insurgência populista que catapultou o magnata e showman nova-iorquino ao poder. Os dois representam as duas almas do trumpismo; os dois conviverão na Casa Branca de Trump.
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