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Peso mexicano sofre a pior queda do planeta com efeito Donald Trump

Moeda despencou mais de 15%. Dólar é vendido a 21,45 pesos. A Bolsa sofre sua pior queda em cinco anos

Pesos mexicanos e dólares.
Pesos mexicanos e dólares.EDGARD GARRIDO (REUTERS)
Jan Martínez Ahrens

O pânico bate na porta do México. A vitória de Donald Trump, o campeão da xenofobia antimexicana, provocou um furacão financeiro de consequências imprevisíveis em seu vizinho do sul. A moeda mexicana entrou em parafuso e, com uma queda de 15%, se tornou nos últimos três dias na mais golpeada do planeta. E ninguém acha que vai se recuperar logo. Os mercados locais tremem com as ameaças do republicano e a própria Bolsa mexicana sofreu sua maior queda em cinco anos. Uma era turbulenta começou.

O que todos temiam aconteceu. O terremoto Trump começa a ser sentido. Sua promessa de completar o muro na fronteira e deportar milhões de imigrantes sem papéis fazem parte de um arsenal contra o qual o México tem pouca defesa. Mas o medo financeiro vai muito além. O republicano repetiu várias vezes que quer acabar com o atual Tratado de Livre Comércio e que não duvidar na hora de cortar as remessas dos mexicanos, um maná de cerca de 30 bilhões de dólares por ano, cujo desaparecimento estrangularia a economia de milhões de famílias.

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A mera suspeita de que Trump vai realizar esses planos atua como chumbo nos pés dos afogados. O arrastão poderia ser catastrófico e, em todo caso, ninguém duvida de que voltar à superfície vai exigir um esforço titânico. A economia mexicana depende muito dos Estados Unidos. Não só 80% das suas exportações vão para aquele país, mas Washington é o primeiro investidor estrangeiro. Com uma fronteira de quase 3.200 quilômetros em comum, o comércio entre os dois países significa um milhão de dólares a cada minuto. A destruição desse ecossistema trará, segundo os especialistas, consequências desastrosas. Embora o golpe atingirá os dois lados, há consenso de que a pior parte será do México, um país com 46% da população na pobreza e no qual a crise do petróleo cortou drasticamente a margem de manobra do Estado.

“Já estávamos à beira da recessão, com a atividade da indústria praticamente parada. E agora, independente do que Trump fizer, a incerteza vai se acentuar. O investimento estrangeiro vai desacelerar, os projetos serão suspensos e veremos repatriações voluntárias por causa da hostilidade antimexicana que Trump fomenta. O crescimento para o próximo ano vai estar entre 0% e 1%, muito longe do esperado”, afirma Gerardo Esquivel, professor pesquisador do Centro de Estudos Econômicos do Colégio do México.

Com essa perspectiva, o Governo de Enrique Peña Nieto está tentando controlar os danos por todos os meios possíveis. O presidente se apressou a entrar em contato com Trump e já concordou com uma reunião antes da posse. O objetivo declarado é abrir “um novo capítulo” nas relações bilaterais e criar uma agenda que minimize os danos. “Somos aliados, vizinhos e sócios; se o México estiver bem os Estados Unidos também estarão e vice-versa. Há laços inseparáveis entre os dois países”, lembrou Peña Nieto.

Neste esforço para acalmar as águas também intervieram o ministro de Fazenda, José Antonio Meade, e o presidente do Banco do México, Agustín Carstens. Em uma mensagem conjunta à nação reafirmaram os pontos fortes do México para enfrentar o vendaval e recordaram que o México tem os pés ancorados no rigor orçamentário, reservas de 175 bilhões de dólares e uma inflação próxima aos 3%. Para arrematar, Carstens insistiu em que “vai fazer o que for preciso” para parar o ataque contra o peso. Entre as medidas esperadas está uma nova elevação da taxa de juros na próxima semana. Seria a quinta em um ano (por enquanto, passou de 3% para 4,75%). E, se continuasse a tempestade cambial, possivelmente seja combinada com um mecanismo de intervenção reservado para momentos de crise: a venda controlada de dólares.

Efeito Trump no Real

Heloísa Mendonça

O real também sofreu com o efeito Trump e o Banco Central brasileiro teve de intervir, com três leilões de swaps tradicionais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro, com mais dólares no mercado, o preço da moeda norte-americana tende a ficar menor). Na sexta, o dólar chegou a R$ 3,50, mas fechou a R$ 3,4053 (+1,3%), que, de todo modo, é o maior valor desde 21 de junho de 2016, quando o Brasil ainda vivia o auge da crise política. Somando os dois dias de turbulência, a valorização na semana é de 5,4%.

Tudo isso não impediu que a moeda mexicana entrasse em queda livre e que os analistas de bancos e agências de classificação estejam reduzindo suas previsões de crescimento do PIB. “É difícil que o peso piore muito, mas a economia ainda vai sofrer”, diz Esquivel.

Com os preços baixos do petróleo, um orçamento em corte permanente e uma moeda que antes da vitória de Trump já tinha desvalorizado 20% em relação ao dólar, as perspectivas são ruins. Qualquer movimento ou declaração do republicano pode afogar ainda mais o México. E se alguma coisa distingue o futuro presidente dos Estados Unidos é sua imprevisibilidade. A pior das qualidades para um relacionamento. O México treme.

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