_
_
_
_

As crianças zumbis chegam ao cinema

Os zumbis sempre foram seres anônimos. Agora, filmes mostram relação entre pais e filhos infectados

Gregorio Belinchón
Sennia Nanua, a protagonista de 'Melanie, the girl with all the gifts'.
Sennia Nanua, a protagonista de 'Melanie, the girl with all the gifts'.
Mais informações
Como o criador de ‘The Walking Dead’ imagina o final da série
Backstreet Boys e NSYNC estrelarão um ‘western’ zumbi
Zumbis se aliam a super-heróis

Em Guerra Mundial Z, provavelmente o filme de zumbis com maior orçamento até hoje – acima dos 150 milhões de euros (540 milhões de reais) –, os zumbis vinham em ondas, como insetos ao estilo A Selva Nua. Uma massa devastadora, anônima, contra a qual Brad Pitt pouco podia fazer. Os zumbis sempre foram os outros, os não vivos que querem comer o protagonista, que não causavam muitas divagações no momento de cortar-lhes as cabeças (o método mais eficiente para destruí-los). Mas até bem pouco tempo ninguém se atrevia a revolver a dor que deve significar ter sua própria família infectada. Ocorreram algumas tentativas sobre o tema e, com certeza, Todo Mundo Quase Morto (2004), de Edgar Wright, trabalhava com essa possibilidade, da mesma forma que Extermínio e sua continuação, um fato levado ao paroxismo por Meu Namorado é um Zumbi (2013), com sua vibrante e estranha relação sentimental. Mas pais humanos e filhos zumbis é um gênero novo que, anunciado em edições anteriores do festival de cinema fantástico de Sitges, na Espanha, vive sua eclosão na edição atual.

Richard Matheson e Narciso Ibáñez Serrador. Dois clássicos. Dois visionários. Eles falaram desses sentimentos antes da safra atual. Matheson escreveu Eu Sou a Lenda, livro indispensável para essas questões sobre a normalidade / anormalidade e a dicotomia o outro / eu. E nesse livro o escritor norte-americano se aprofundava na família e na despedida aos entes queridos. O outro talento, Chicho Ibáñez Serrador, adaptou ao cinema em 1976 o romance de Juan José Plans, ¿Quién puede matar a un niño? (no Brasil, o filme saiu com o título Os Meninos), e soube focar na aparente inocência infantil como arma de destruição em massa.

Faltava o salto ao zumbi, e no ano passado Maggie: A Transformação mostrou Arnold Schwarzenegger sofrendo para encontrar uma cura para sua filha adolescente, interpretada por Abigail Breslin. Mesmo infectada, continuava sendo sua filha. Não passava por sua cabeça interná-la ou mesmo matá-la. É sangue de seu sangue, e basta. Nessa edição, em dois dias essa reflexão se multiplicou na tela. No coreano Train to Busan, de Yeon Sang-ho, que estreou na sessão da meia-noite de Cannes e em Sitges foi muito aplaudido, um pai divorciado leva sua filha à casa da mãe em Busan em um trem de alta velocidade, lutando contra todos os elementos possíveis, incluindo a enxurrada canibal. Em The Wailing, mais cinema coreano, dessa vez dirigido por Na Hong-jin (The Yellow Sea), um sargento da polícia meio bobalhão vê como seus vizinhos e amigos começam a se comportar de forma violenta na cidadezinha em que vive. E tenta encaixar os estranhos acontecimentos em um esquema racional... até que a infectada é sua filha. A partir desse momento, suas decisões são prejudicadas pelos sentimentos. O perigo emana do ser que mais ama. Os dois filmes mexem com a emoção do espectador ao mostrarem em flashbacks momentos de felicidade entre pais e filhos antes do sangue infantil apodrecer.

E também foi exibido Melanie, The Girl With All The Gifts, de Colm McCarthy, no qual o diretor mostra mais uma infecção de um tipo de raiva – como fez Danny Boyle em Extermínio – do que o zumbi clássico. A protagonista, uma garota chamada Melanie, leva em seu sangue a provável salvação da raça humana contra a doença. Uma pesquisadora e uma professora protegem a menina além do social para entrar no sentimental. Glenn Close e Gemma Arterton assumem, respectivamente, esses papéis em um filme marcado pela melancolia e a tristeza, o tom que também coloca Maggie: A Transformação em um patamar acima da média de qualidade desse gênero. Porque é preciso ver quem consegue matar uma criança, mesmo que seja zumbi.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_