_
_
_
_

A realidade mais trágica entra nas salas de Veneza

Festival acolhe documentários e filmes de ficção que enfocam dramas como terrorismo e imigração

Fotograma de 'American Anarchist'.Vídeo: El País Vídeo
Tommaso Koch
Mais informações
O filme que o Irã quis aniquilar
Começa o baile em Veneza

A Mostra é um mundo à parte. Ao cruzar a fronteira do festival de Veneza, entra-se em um universo fantástico, onde a cada vez que se apagam as luzes centenas de desconhecidos sonham juntos. No Lido, a fantasia é anfitriã e rainha.

No entanto, a mostra tampouco escapa da realidade. Em parte, para seu pesar, com um reforço da segurança, para reduzir o risco de ataques terroristas. Mas, por outro lado, abriu as portas e convidou os dramas cotidianos a entrar: daí que nesta edição haja coincidentemente muitos filmes centrados nas piores páginas recentes dos jornais. O Estado Islâmico, a guerra na Síria, os atentados e os refugiados se juntam no programa. E além de agradar, esperam fazer o público pensar.

“Os filmes não podem mudar a realidade, mas, sim, melhorar nosso conhecimento do mundo, com uma linguagem que tem uma força extraordinária. Porque um de nossos principais problemas é a desinformação, que faz crescerem os medos, os populismos e os muros”, resume Alberto Barbera, diretor do festival. Por exemplo, o cineasta Midi Z propõe The Road to Mandalay, relato das misérias da imigração ilegal no Sudeste Asiático: “Não me atrevo a pensar que ele mude o mundo, mas espero que possa ser visto. Estas histórias estão ocorrendo no planeta. É algo universal, e também de humanidade, separação ou de ter um lugar”. E The Last of Us narra o mesmo drama, mas muito mais perto da Espanha: o primeiro longa do tunisiano Alaeddine Slim se concentra na tentativa desesperada de um africano de alcançar as costas europeias e em todas as balsas que o Mediterrâneo engole sem piedade.

Se esses filmes de ficção se inspiram em tragédias conhecidas de sobra, os documentários gravam-nas diretamente, como em The War Show. Obaidah Zytoon, condutora de um programa radiofônico na Síria, se arma de câmera e a direciona para a primavera árabe e o conflito em seu país. Encontra-se com cidadãos desejosos de mostrar suas feridas para que o mundo inteiro as veja e filma os enfrentamentos entre laicos e islamistas sobre o futuro da Síria. Grava, com extrema crueza, os sonhos despedaçados: de seu grupo de amigos que abraçam a revolta, só ela e poucos mais sobrevivem.

Mais sorte tiveram os protagonistas de Our War: por ora, continuam intactos, embora aqui os riscos também sejam altíssimos. O documentário relata a história de três ocidentais que se alistam voluntariamente nas milícias curdas que lutam por cada centímetro da Síria contra o Estado Islâmico. E um de seus diretores, Claudio Jampaglia, explica que confiam pelo menos em fazer o público refletir: sobre a razão de os três entrevistados brigarem, sobre os conflitos e sobre as perspectivas, porque um ataque suicida na Europa nos gela o sangue, mas no Oriente Médio as explosões nunca cessam.

Veem-se também muitas bombas em American Anarchist. E não poderia ser de outra forma, considerando o tema tratado. O documentário de Charlie Siskel tem como foco William Powell, que em 1970 fez algo de que no filme parece mostrar-se, ao menos em parte, arrependido: escreveu um livro, The Anarchist Cookbook, onde detalhava todo tipo de receita para construir armas e explosivos caseiros e estimulada todo cidadão a substituir a Justiça. O manual do perfeito terrorista vendeu até dois milhões de cópias, foi encontrado no lugar onde ocorreram muitos atentados e ainda hoje se suspeita que alguns jihadistas o adquiram na Internet. “Minha esperança é que a história de Bill nos ajude a nos compreendermos melhor e mutuamente”, argumenta Siskel em um comunicado.

“Quando há um ato de violência, a primeira reação é o horror. Depois, a indignação. No final, só resta a apatia, até o ato violento seguinte, porque nos permitimos deixar de olhar. Meu filme não quer fazer isso. Ao contrário, nos leva a observar até o fundo uma paisagem que está longe do sensacionalismo para criar uma experiência que ilustre as fragilidades da vida”, afirma o diretor, Tim Sutton. Assim resume Dark Night, no qual aborda as recentes ondas de tiroteios e ataques de lobos solitários nos EUA. O ponto de partida é emblemático: o massacre que James Holmes provocou em 2012 em Aurora, Colorado. Foi durante uma projeção de Batman, em um cinema.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_