Vilão dos Jogos, o doping já marca presença no Rio 2016
Três atletas já foram afastados por testes positivos. Sob pressão desde o escândalo russo, COI testa política dura

Está aberta a temporada de casos de doping nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Depois de uma semana do início das competições, começaram a ser divulgados nesta sexta os resultados de testes realizados em atletas e, junto com eles, os primeiros nomes pegos no controle de substâncias ilícitas que alteram o rendimento esportivo. Além disso, na quinta-feira um dos técnicos da equipe do Quênia foi expulso ao tentar se passar por um dos atletas durante uma coleta de urina.
Entre os pegos no doping, até o momento, está a nadadora chinesa Chen Xinyi, que ficou perto de ganhar uma medalha na prova dos 100 metros (terminou em quarto lugar), a atleta búlgara Silvia Danekova, que competiria na segunda-feira nos três mil metros, e o halterofilista polonês Adrian Zielinski, ouro em Londres 2012, que também ainda não havia competido em terras cariocas. Nos três casos, as amostras de sangue e de urina dos esportistas foram coletadas vários dias antes do início das competições, e todos eles foram logo afastados – num esforço de controle que quer chamar a atenção pelo rigor.

Não é à toa. As medidas estritas comprovam que a política antidopagem está sob atenção minuciosa no Rio, que vive uma Olimpíada marcada pelo escândalo do atletismo da Rússia – completamente banido dos Jogos graças a um complexo esquema de doping encobertado pelo Estado – e pelo vai-vem na aprovação do laboratório brasileiro que realiza as análises oficiais durante a competição.
Dessa maneira, o Comitê Olímpico Internacional procura transmitir a mensagem de intolerância total que nem sempre marcou a história das Olimpíadas. Basta lembrar que a Agência Mundial Antidoping (WADA, pela sigla em inglês), que monitora e divulga o tema e é responsável pelos controles em nível mundial, existe somente desde 1999. Sem falar no Brasil, que só criou a Justiça Desportiva Antidopagem (JDA) a um mês do início dos Jogos, para garantir que houvesse controle efetivo de dopagens detectadas no país durante a competição, inclusive com cancelamentos de títulos e recordes.
Como é comum, ainda que os laboratórios realizem exames cada vez mais avançados e confiáveis, com prova e contraprova, a grande maioria dos atletas pegos nos testes nega o doping. A nadadora Chen Xinyi, que protagoniza o primeiro caso chinês, decidiu levar o caso às cortes para evitar uma suspensão, já que concorreria às provas dos 50 metros feminino e 100 metros borboleta. Silvia Danekova, do atletismo da Bulgária, sobre a qual pesam vários casos de doping desde 2008, assumiu que um dos testes que realizou detectou a presença de EPO em seu sangue, mas nega que tenha cometido qualquer infração. “Não violei as regras. A única explicação pode ser os aditivos alimentares que consumo", disse. Ainda sem ter tido tempo de se pronunciar, o halterofilista Adrian Zielinski deu positivo para nandrolona três dias depois que seu irmão Tomasz, inscrito na mesma categoria de até 94 kg, tivesse o mesmo destino.
O universo do doping
Um documentário lançado às portas dos Jogos Olímpicos tenta explicar o complexo universo da dopagem no esporte. A corrida do doping, do diretor Paulo Markun, reúne depoimento de especialistas e atletas que discutem as drogas mais utilizadas hoje, vastamente comercializadas no mercado negro da Internet, e a vaidade de treinadores e esportistas que cedem à tentação dos aditivos ilegais.
Entre eles, está o Lance Armstrong, protagonista do caso de doping mais famoso no mundo, revelado após as sete vitórias consecutivas do ciclista norte-americano no Tour de France – e as sete medalhas que ele teve de devolver. Fala também Yulia Stepanova, a atleta russa que denunciou seu país com o apoio do marido, ex-funcionário da Agência Russa Antidoping, e terminou se exilando nos Estados Unidos. Aos interessados, o filme terá novas exibições em salas paulistanas, como o Cine Olido e o Sesc, em setembro.
Corrida do doping TRAILER from MEDIA ARTS on Vimeo.