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Um ‘Baby’ de 160 quilos quer o ouro no Rio

Bronze em 2012, judoca quase ficou fora das Olimpíadas do Rio devido a uma lesão

Rafael 'Baby' Silva, ao conquistar a medalha de bronze nas Olimpíadas de Londres em 2012.
Rafael 'Baby' Silva, ao conquistar a medalha de bronze nas Olimpíadas de Londres em 2012.Jonne Roriz/ (Estadão Conteúdo)

O apelido fofo contrasta com o tamanho do atleta: são cerca de 160 quilos para 2,03m de altura, o suficiente para quebrar algumas camas nas hospedagens durante as competições. Rafael Silva, esse gigante de 29 anos apelidado de Baby, é a aposta do Brasil nas Olimpíadas do Rio na categoria peso-pesado (acima de 100 quilos) do judô, o segundo esporte que mais medalhas olímpicas trouxe para o país, atrás somente do vôlei: foram 19 pódios, sendo três ouros, três pratas e 13 bronzes —um deles, de Rafael, em Londres.

Um dia após a conquista do bronze inédito na categoria, em 2012, o judoca já passou a sonhar com a disputa pelo ouro nos Jogos Olímpicos 2016. Mas a convocação, confirmada no início de julho, não foi nada fácil: há um ano, uma lesão no tendão do músculo peitoral maior direito o deixou fora dos Jogos Pan-Americanos de Toronto e do Campeonato Mundial, e por muito pouco seu principal adversário brasileiro, David Moura, não foi o escolhido em seu lugar pela Confederação Brasileira de Judô.

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"Foi minha primeira lesão com intervenção cirúrgica. Eu operei há um ano e desde então foquei muito na minha recuperação, em lutar bem, pensando na chance de participar de mais uma Olimpíada e lutar por mais uma medalha. O começo foi bem difícil, voltar a competir internacionalmente, encarar os principais adversários, voltar a ter confiança pra lutar fora... Mas tive vitórias e o ganho de confiança foi gradativo. Agora estou recuperado", garantiu o atleta, em rápida entrevista ao EL PAÍS por telefone, da concentração em Mangaratiba, no Rio.

Rafael está acostumado com desafios. A começar pelo início da carreira: apesar de ter entrado no judô tarde, aos 15 anos, uma idade avançada para quem quer trilhar o caminho profissional, aos 18 seu "tamanhão" chamou a atenção de um professor de São Paulo, que o convidou para treinar a sério no Estado. De lá pra cá, atropelou adversários mais experientes, ganhou o apelido de Baby (graças a fama de bonzinho, apesar da assustadora estatura de armário) e, apenas dez anos após dar os primeiros passos em um tatame na pequena cidade de Rolândia (onde vivia, no Paraná), conquistou sua primeira medalha olímpica, ajudando o judô brasileiro a bater seu recorde na competição. 

Rafael Silva comemora a vitória sobre o sul-coreano Kim Sung-Min, que lhe garantiu o bronze olímpico em 2012.
Rafael Silva comemora a vitória sobre o sul-coreano Kim Sung-Min, que lhe garantiu o bronze olímpico em 2012.AFP

Foram meses de intensa fisioterapia e treinamento até a primeira disputa internacional após a lesão, no Pan-Americano de Judô em Havana (Cuba), onde Baby conquistou a medalha de ouro. Lá, voltou sentir que competir no Rio era algo possível. Convocação confirmada, agora sonha em subir os degraus mais altos do pódio. "Logo depois de 2012 a gente já se voltou para disputar 2016. Foram quatro anos de muito trabalho. Eu sempre entro numa competição com o foco de evolução, de ter um desempenho melhor. E isso vale agora: eu tenho consciência de que vou chegar e dar meu máximo. Não vou sair devendo da luta. Vou gastar tudo o que eu tenho, tudo o que é possível. Eu estou preparado pra dar o sangue lá dentro", disse. Atualmente, Rafael Silva é o 12º no ranking mundial da categoria.

Judocas brasileiros escalados para as Olimpíadas do Rio 2016

Masculino

Feminino

  • Felipe Kitadai (60kg)
  • Charles Chibana (66kg)
  • Alex Pombo (73kg),
  • Victor Penalber (81kg)
  • Tiago Camilo (90kg)
  • Rafael Buzacarini (100kg)
  • Rafael Silva (+100kg).
  • Sarah Menezes (48kg)
  • Erika Miranda (52kg)
  • Rafaela Silva (57kg)
  • Mariana Silva (63kg)
  • Maria Portela (70kg)
  • Mayra Aguiar (78kg)
  • Maria Suelen Altheman (+78kg).

A promessa de dar o sangue no tatame vem acompanhada de um trabalho intenso focado na competição: são cerca de cinco horas por dia de treinamentos, divididos em dois turnos, de segunda a sábado. Além de um profundo estudo sobre os principais adversários —entre eles, o maior rival, o francês Teddy Riner, número um no ranking mundial e invicto desde 2010, a quem Baby chama de sua "pedra no sapato".

Tranquilão e caseiro, costuma ouvir rock pesado nos dias que antecedem as competições, o que lhe rendeu a fama de metaleiro assumido. É fã principalmente das bandas AC/DC e Iron Maden, que escuta com mais frequência antes das lutas, numa espécie de ritual para entrar no personagem. "Nos dias anteriores, vou me ambientando pra entrar na guerra, pra entrar na porrada", diz, rindo. "Mas no dia da competição mesmo eu vou bem tranquilo. Não levo fone, vou sem celular... Prefiro ficar calmo, focado. Tem que deixar a ansiedade na beira do tatame e a agressividade pra dentro." Além do rock, reza bastante, vê lutas de MMA para "entrar no clima" e assiste ao documentário sobre a vida do piloto Ayrton Senna (que já viu incontáveis vezes), a quem tem como uma inspiração.

Sobre sua meta para as Olimpíadas do Rio, é direto: quer o ouro. Mas fala do objetivo com humildade e pés no chão. Sabe que a disputa é difícil. "Eu quero conquistar mais uma medalha. Um ouro em casa seria maravilhoso. Mas eu quero mais que isso: eu quero a sensação de dever cumprido, de fazer tudo o que for possível."

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