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Cinco policiais são mortos em Dallas durante protesto contra violência racial

Suspeito identificado declarou que “queria assassinar brancos” antes de ser morto pela polícia

Vídeo mostra o suposto atirador.
Pablo Ximénez de Sandoval

Cinco policiais morreram e outros sete ficaram feridos na quinta-feira à noite pelos disparos de pelo menos um franco-atirador durante uma manifestação contra a violência policial em Dallas (Texas), nos Estados Unidos. A emboscada, com detalhes de inquietante sofisticação, ocorreu no final de um protesto, que reuniu umas 800 pessoas pelo centro da cidade, convocado por grupos ligados ao movimento Black Lives Matter (vidas negras importam, um movimento social contra o racismo e a violência policial nos EUA). Era a resposta à morte de dois homens negros em mãos da polícia num período de 48 horas. Dois civis também ficaram feridos pelas balas. Dois civis também foram feridos pelas balas. A cada vez há mais indícios de que o atirador, Micah Xavier Johnson, atuou só, embora as autoridades disseram nesta sexta-feira as investigações continuam em busca de possíveis cúmplices.

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A manifestação transcorria com relativa calma até o início dos disparos, o que provocou pânico. O atirado foi identificado nesta sexta-feira como Micah X. Johnson, de 25 anos, se entrincheirou em uma instituição de formação profissionalizante, chamada El Centro College, onde morreu na explosão de um artefato enviado por um robô das forças de segurança, várias horas depois. O chefe da Polícia local, David Brown, confirmou a morte e afirmou que as autoridades tentaram negociar com ele. Segundo Brown, Johnson disse que estava “chateado com os brancos” e queria liquidar “policiais brancos”.

O agressor se entrincheirou no estacionamento anexado a um centro de formação profissional chamado El Centro College, onde morreu várias horas depois da explosão de um artefato enviado por um robô pelas forças de segurança. O chefe da policial local, David Brown, explicou que as autoridades tentaram negociar com ele durante horas antes de tomar a decisão de o abater. Johnson, disse Brown, reconheceu que estava "chateado com os brancos" e queria liquidar a "policiais brancos".

“Disse que estava chateado com o Black Lives Matter, chateado com os recentes tiroteios da polícia, chateado com os brancos, disse que queria matar brancos, disse que não estava ligado com nenhum grupo e que agiu sozinho”, declarou o chefe de Polícia.

Depois de uma noite nefasta, o centro de Dallas amanheceu tomado pelas forças de segurança. O tráfego estava bloqueado em uma dúzia de quadras do centro, com a polícia em estado de alerta e os helicópteros sobrevoando a cidade. O lugar da matança, o edifício do Bank of America, estava cercado de carros da polícia de Dallas. Este não foi apenas o evento mais trágico desse departamento, mas a maior matança de agentes de polícia desde os ataques de 11 de setembro de 2001.

Em chocantes vídeos de testemunhas publicados em redes sociais, ouvem-se disparos de armas automáticas. As forças de segurança detiveram três pessoas. Tanto Brown como o prefeito da cidade, Mike Rawlings, se negaram até o momento a dar detalhes sobre os suspeitos, além do nome de Johnson.

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Suas palavras de ira contra os brancos são o único dado que poderia relacionar diretamente a matança de policiais com a indignação desencadeada pelas duas mortes recentes de negros nas mãos da polícia, uma em Baton Rouge e a outra em Minnesota. Mas o próprio Brown acrescentou: “Nada do que disse faz sentido. Não podemos especular os seus motivos. Só sabemos o que disse aos nossos negociadores.”

O presidente Barack Obama condenou os fatos em uma declaração em Varsóvia, onde participa da cúpula da OTAN: “Esse foi um ataque atroz, calculado e desprezível contra agentes de segurança”. Obama ressaltou seu apoio aos integrantes das corporações policiais porque “têm um trabalho difícil” e “a imensa maioria deles faz um bom trabalho”. O presidente disse que assim que forem esclarecidos os fatos será preciso reabrir o debate sobre o fácil acesso às armas de fogo muito potentes “que tornam esses ataques mais letais”.

“Vimos tragédias como esta muitas vezes”, dissera Obama horas antes, tão logo chegou à capital polonesa, referindo-se às mortes, gravadas em telefones celulares, de negros por disparos de policiais. “Não é só um problema dos negros. Não é só um problema dos hispânicos. É um problema americano, e todos nós deveríamos nos preocupar”, disse.

A candidata democrata às eleições presidenciais dos Estados Unidos, Hillary Clinton, e seu rival republicano, Donald Trump, cancelaram os atos de campanha previstos para esta sexta-feira. Trump, sempre incendiário, evitou desta vez elevar o tom: “Nossa nação está muito dividida. Muitos americanos perderam a esperança. As tensões raciais pioraram, não melhoraram. Este não é o sonho americano que queremos para nossos filhos”, afirmou por meio de um comunicado.

O prefeito de Dallas, Mike Rawlings, declarou: “Nosso pior pesadelo ocorreu”. E acrescentou: é um momento desanimador”. A primeira vítima identificada entre os policiais é o agente Brent Thompson, de 43 anos, que integrou a corporação em 2009.

Nos primeiros momentos de grande confusão, a polícia divulgou pelo Twitter a foto de um suspeito, identificado como Mark Hughes, que se entregou quando viu sua imagem nas redes sociais. Na foto ele usava traje de camuflagem e portava um fuzil de assalto no ombro, mas depois foi posto em liberdade. “Tão logo vi minha foto, fiz parar um carro de Polícia”, explicou Hughes diante das câmeras da CBS. “Meu irmão poderia ter sido morto porque alguém cometeu a irresponsabilidade de postar sua imagem no Twitter”, declarou o irmão mais novo dele, Corey Hugues, à mesma emissora. “Não fizemos outra coisa, a não ser cooperar com a polícia”, garantiu.

Os protestos se sucederam ao longo da quinta-feira em diferentes cidades, de forma espontânea, depois da morte de Philando Castile, em Minnesota, e Alton Sterling, em Louisiana. O tiroteio transcorrido depois da manifestação em Dallas levantou o temor de novos distúrbios, como os desencadeados há dois anos em Ferguson (Missouri), quando Michael Brown, um rapaz de 18 anos que estava desarmado, foi morto a tiros por um policial branco.

Esses casos mostram as feridas raciais dos Estados Unidos, seus problemas ainda por resolver. O próprio governador de Minnesota, Mark Dayton, admitiu à imprensa na quinta-feira à tarde que via um viés racista no caso e sentia que “teria acabado de um modo diferente se fossem brancos”.

Na quarta-feira, Castile, de 32 anos, morreu abatido por um agente de polícia que o havia parado porque seu veículo tinha uma lanterna traseira quebrada. No vídeo, que sua namorada transmitiu ao vivo, ele é visto agonizando enquanto o policial continua apontando sua arma e a mulher relata sua versão dos fatos. Um dia antes, Alton Sterling, foi morto em Baton Rouge, Louisiana, por disparos dos agentes quando já tinha sido dominado.

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