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Argentina receberá 3.000 refugiados sírios

Em Bruxelas, Mauricio Macri oferece ajuda à UE, mas “considerando a capacidade local de absorção”

Federico Rivas Molina
Mauricio Macri e a comitiva argentina na Comissão Europeia
Mauricio Macri e a comitiva argentina na Comissão EuropeiaPresidencia

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, apresentou, ao lado de suas propostas de integração econômica com a União Europeia, uma oferta de apoio humanitário que ajude a mitigar a crise dos refugiados sírios, a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial. Em comunicado com sua assinatura e a da representante da União Europeia para Política Externa, Federica Mogherini, Macri se comprometeu a “receber novos refugiados das regiões em conflito”. A ideia é que Buenos Aires abra suas portas para cerca de 3.000 sírios e que a União Europeia entre com um “apoio técnico”, segundo detalha o texto, divulgado depois da visita realizada por Macri a Bruxelas.

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A decisão argentina se alinha à mudança promovida por Macri na política externa de seu país, que carece de alianças internacionais capazes de dar sustentação às reformas econômicas do novo Governo. Com isso, a Argentina se tornou o primeiro país da América Latina a fazer uma oferta concreta relacionada à questão dos refugiados. Somente no ano passado, chegaram à Europa, em especial à Alemanha, Áustria e Suécia, mais de um milhão de pessoas em fuga da violência no Oriente Médio. Em setembro passado, os governos europeus chegaram a um acordo de distribuição de 160.000 pessoas, mas até hoje esse total, na prática, não chegou a 2.800, segundo dados recentes da Comissão Europeia. A oferta argentina ocorre no momento em que a questão dos refugiados ocupa o centro da agenda europeia.

O Governo argentino já havia antecipado a sua intenção no começo de junho, por meio do chefe de Gabinete, Marcos Peña. O funcionário argentino, que falava em nome de Macri, disse à assessora de Segurança Nacional dos EUA, Susan Rice, que a Argentina tem a intenção de “fazer parte da solução de um problema global”. Rice comentou o gesto em sua conta no Twitter dizendo que o governo de Macri demonstrava com isso a sua “liderança” regional. A oferta levada agora a Bruxelas pelo presidente argentino coincide com aquela intenção, embora fontes da chancelaria tenham informado que sua implementação não será imediata. “A Argentina se comprometeu a receber refugiados sírios e pretende que elas sejam 3.000”. É um plano de longo prazo. É preciso ver como isso será pago, entre outras coisas. Trata-se de um plano, e, como tal, terá de ir avançando em sua implementação”, afirmaram essas fontes ao EL PAÍS. A questão do financiamento será essencial na hora de concretizar o acordo.

Programa Síria

O fato é que a Argentina já recebeu quase 1.000 sírios, 197 deles por meio do chamado Programa Síria, da Direção Nacional de Migrações, mas com a condição de que haja um familiar ou alguma instituição que os acolha.

“O Programa Síria é parcial. Esta nova proposta é humanitária, não surgiu porque gostemos ou porque sentimos vontade de fazer. Por isso, receber refugiados deve ser uma responsabilidade do Estado. Parece-me louvável que isso seja feito, mas que seja feito de forma correta”, comentou Roberto Ahuad, embaixador na Síria durante o kirchnerismo e ex-presidente da Confederação de Entidades argentino-árabes. A maioria dos sírios que chegaram à Argentina desde a eclosão da crise em 2011 obtiveram o estatuto de refugiados, mas tiveram pouco apoio logístico oficial, velha reivindicação das comunidades sírias que vivem no país.

O arcebispo da Igreja Síria Ortodoxa de Antioquia, Crisóstomo Gassali, disse considerar fundamental que o acordo com a União Europeia contemple medidas de reinserção. “Devemos aprender com a experiência de outros países, onde há programa de ensino do idioma, reinserção de trabalho e moradia”. Eu recebi 7 refugiados da Síria e do Iraque e não tive ajuda nenhuma. Por isso digo que é preciso preparar o terreno”, afirma Gassali, nascido na Síria e que vive desde 2013 na Argentina, para onde fugiu depois de passar por dois anos de conflitos em Alepo.

A Igreja liderada por Gassali teve de obter alojamento e uma ocupação para os recém-chegados, que entraram no país em grupo vindo dos Brasil e tiveram problemas migratórios na fronteira. “Fizemos o que foi possível, com poucos recursos”, disse o arcebispo. De toda forma, as possibilidades de acolhimento por parte da Argentina são muitas, avalia Ahuad, sobretudo porque a adaptação nem sempre precisa ser total ou de longo prazo. “O que se deve levar em conta é que muitas vezes o refugiado procura ajuda durante o período que dura o conflito. Por conhecer muito bem o caso sírio, creio que esse será o caso, e que muitos irão querer voltar depois para seu país”, explica. A Argentina receberá refugiados, é verdade. Mas, por enquanto, tudo o que houve foi uma oferta baseada nas boas intenções do governo de Macri. A sua concretização ainda levará algum tempo.

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