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Abud Said, um ‘outsider’ na Flip, é vaiado e aplaudido pelo público

Escritor sírio, que lançou ‘O cara mais esperto do Facebook’, se recusa a falar de seu país Odiado por uns, celebrado por outros, autor foi o mais inflamado desta edição

Abud Said na Flip.
Abud Said na Flip.Walter Craveiro

Abud Said, o autor sírio que foi convidado a esta edição da Festa Literária de Paraty, não gosta de falar sobre a Síria. Estranho posicionamento, afinal ele concordou em participar de um debate intitulado Síria, mon amour ao lado da jornalista especializada na cobertura de áreas em conflito (como a Síria), Patricia Campos Mello. Mas possível também – considerando que ele explicou, a partir do ângulo de onde ele observa, por que se coloca assim, e sobretudo por que se manteve disposto a conversar com o público ali presente. Seja como for, Said, de 33 anos, foi xingado de “babaca" e vaiado ao final da conversa, conduzida pelo jornalista Daniel Benevides.

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Só que isso não resume a conversa que abriu os trabalhos do último dia de evento na tenda dos autores. Abud Said foi bastante aplaudido também. Com uma atitude franca e direta, o autor de O cara mais esperto do Facebook, livro lançado agora no Brasil pela editora 34, explicou sua posição: “Não quero ser a voz da Síria, não represento a guerra. Escrevi um livro de poesia sobre a minha vida”, declarou o autor, que trabalhava como ferreiro em Aleppo, ao norte da Síria, até deixar seu país e emigrar para a Alemanha depois de passar pela Turquia. Seu livro é um compilado de textos breves que ele passou a publicar no Facebook em 2009, antes do início do conflito sírio, que desata em 2011, e com fins intelectuais não ambiciosos de “contar a própria vida e se divertir”.

Os textos de Said contêm a sensibilidade de quem observa o cotidiano com olhar agudo, ainda que sem pretensões literárias ou políticas maiores que o próprio ato de escrever. São materiais que transportam o leitor a outra parte, fazem rir e, na beleza dos detalhes, oferecem inclusive um registro subjetivo de como é um cotidiano possível na Síria. Um exemplo é esse:

A vida no Facebook não é justa como fora / porque todos aqui falam. Até eu. / Enquanto lá fora, o silêncio matou e continuará matando milhares. Mas isto é justiça.

O público da Flip se inflamou mais quando ele passou a se posicionar sobre o que ele considera ser os maiores males contemporâneos: a mídia e os grupos de Direitos Humanos. “As pessoas levantam bandeiras do jornalismo livre e dos Direitos Humanos. Não existe isso. Existe gente querendo ganhar dinheiro. Não quero participar disso. Eu sou egoísta. Não há sociedade mais doente do que a culta e a intelectual. Eles que precisam de ajuda”, opinou. Para Said, “a vida é simples, é bonita” e "esses jornalistas e o pessoal da cultura só falam da guerra”."Para que valorizar coisas que não devem ser valorizadas?", questionou, negando que qualquer traço de lirismo no seu texto seja indício de uma "mensagem especial” que queira transmitir.

O discurso forte e controverso tinha uma dose de ironia com a qual não todos quiseram compactuar. Seu próximo projeto literário é um romance sobre um irmão que morreu na Síria no ano passado. “Ele era um criminoso, foi preso seis anos por traficar drogas. Tinha um bigode como o de Salvador Dalí e sonhos de ser poderoso, tornar-se um grande líder. Estava ajudando umas crianças. Foi morto por uma bomba”, relatou.

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