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América Latina precisa voltar a crescer para avançar contra a extrema pobreza

Para alcançar objetivo da ONU, região deveria superar índices de crescimento da década passada

Favela na periferia de Salvador, Bahia.
Favela na periferia de Salvador, Bahia.Scott Wallace (Banco Mundial)

A meta número 1 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas deve ser uma das mais difíceis de alcançar nos próximos 15 anos: acabar com a pobreza em todas as formas, em todo o mundo. E, para a América Latina, na qual os tempos de bonança da década passada ajudaram milhões de pessoas a chegar à classe média, o desafio é ainda maior, pois a região atravessa o quinto ano de desaceleração econômica.

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Segundo os Indicadores de Desenvolvimento Global 2016, o percentual de latino-americanos vivendo em extrema pobreza em 2030 será praticamente igual ao de 2012 se forem mantidos os índices nacionais de crescimento econômico registrados na década anterior. Em 2012, 5,6% dos latino-americanos viviam com até US$ 1,90 ao dia, ante os 17,8% registrados em 1990, de acordo com o Banco Mundial.

Os números também deixam claro que a região terá dificuldade em contribuir para o primeiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) — adotado com mais 16 metas em setembro de 2015 — caso a economia siga andando devagar até 2030. Em 2016, por exemplo, a economia regional deve retrair 1%.

Por esse motivo, e também para não perder os avanços sociais conquistados na época de vacas gordas, os economistas buscam promover novas formas para estimular o crescimento econômico latino-americano sem depender tanto das matérias-primas.

Também é importante impulsionar o crescimento econômico das demais regiões em desenvolvimento. Se a economia global continuar crescendo como nos últimos 10 anos, o índice de pobreza extrema no mundo cairá para 4% em 2030. E, se forem considerados os índices de crescimento nacionais dos últimos 20 anos, a população global vivendo em extrema pobreza será 6%.

Proteção social

Uma diferença importante entre a América Latina e as demais regiões está no funcionamento de programas de transferências de renda (como o Bolsa Família, do Brasil, e o Prospera, no México), alimentação escolar, mercado de trabalho e seguridade social, entre outros. Entre os latino-americanos mais pobres, cerca de 60% estão cobertos por iniciativas de proteção social.

Enquanto isso, nas regiões menos favorecidas, os programas não são grandes o suficiente para combater a pobreza, segundo o estudo do Banco Mundial. Na África Subsaariana, por exemplo, apenas 15% dos mais pobres têm acesso a um benefício desse tipo.

A América Latina ainda se destaca pela maneira como registra e examina os indicadores de pobreza. “Recentemente, alguns países, como Colômbia e México, adotaram medidas que visam captar a natureza multidimensional da pobreza, avaliando o quanto as famílias são carentes de formas diferentes (em termos de saúde, educação, habitação e oportunidades do mercado de trabalho)”, informa o relatório.

Conquista global

Apesar dos desafios para todo o mundo em desenvolvimento, pela primeira vez na história, o índice global de pobreza extrema ficou abaixo de 10% em 2015. Trata-se de uma redução de mais de dois terços desde 1990, quando 37% da população vivia com até US$ 1,90 por dia.

O documento do Banco Mundial também destaca que o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de reduzir a pobreza pela metade foi cumprido, e que o novo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 1 se baseia nessa conquista.

Mariana Kaipper Ceratti é produtora online do Banco Mundial

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