Sete sindicatos da França aumentam os protestos e greves contra a reforma trabalhista
Governo, dividido em relação à reação a ser adotada, promete desbloquear todas as refinarias
A população e a economia da França sofrem há dias as graves consequências da onda de protestos e bloqueios contra a reforma trabalhista, mas as centrais sindicais acabam de decidir por fincar o pé no acelerador ainda mais. As sete organizações que promovem a revolta, com a CGT à frente, decidiram “continuar e ampliar as mobilizações” com mais greves e manifestações. O Governo, de seu lado, expõe divergências internas entre os que tendem a ceder, como o ministro da Fazenda, e os defensores de um endurecimento, como o primeiro-ministro Manuel Valls.
As centrais exigem ser recebidas pelo Presidente François Hollande. Essa exigência mostra que elas já não consideram o primeiro-ministro um interlocutor válido. Segundo alguns analistas de diferentes jornais, Valls já pensa em uma possível renúncia. Maior defensor da reforma, ele se opõe a qualquer nova concessão no projeto.
Essa não é a posição de alguns membros importantes do Governo, como o ministro da Fazenda, Michel Sapin, um dos melhores amigos de Hollande. Sapin acredita que há margem para amenizar o artigo 2 do projeto, considerado essencial e segundo o qual os acordos por empresa deveriam prevalecer sobre os acordos por categoria. O artigo estabelece uma mudança radical na legislação trabalhista clássica do país.
Valls tem dito que não negociará esse artigo. Se essa negociação ocorrer, ele se veria obrigado a pensar em deixar o Governo. Mais ainda se o texto for retirado, que é o que os sindicatos exigem e para o que tendem os deputados rebelados do Partido Socialista, no governo.
Hollande afirmou nesta sexta-feira, no Japão, onde participa da reunião do G7, que “o diálogo é sempre possível”, mas que não pode se basear em um “ultimato” como o colocado pelas centrais sindicais. “Não se pode admitir a existência de um sindicato que diz que não respeita a lei”, disse o presidente, fazendo referência à CGT, principal central do país e a mais atuante nos protestos.
Hollande se disse disposto a “fazer de tudo para garantir o bom funcionamento da economia” e, portanto, a viabilizar pela força a distribuição de combustível para os postos, garantir o funcionamento das centrais nucleares e retirar as barricadas erguidas nas estradas e na frente de centros estratégicos de produção e logística.
Unidades policiais antidistúrbios tomaram posição na manhã desta sexta-feira em algumas das seis refinarias bloqueadas, como a de Donges, na Bretanha, com a intenção de retirar as centenas de trabalhadores que impedem o acesso aos tanques desde o dia 19 de maio. Mesmo que consigam fazer isso, o problema do desabastecimento de combustível que atinge 4.000 dos 12.000 postos franceses não será resolvido, pois a maioria dos funcionários das refinarias estão em greve.
Pressão sindical ganha força em progressão geométrica à medida que se aproxima a realização da Eurocopa
Devido à grave crise de abastecimento, o Ministério da Agricultura baixou nesta sexta-feira um decreto permitindo que os agricultores utilizem óleo de calefação em seus tratores.
As sete centrais sindicais que organizam os protestos afirmam, em texto divulgado na noite desta quinta-feira, que “a mobilização se amplia e ganha força” com o “maciço” repúdio da população à reforma. Segundo as pesquisas, mais de 60% dos franceses apoiam os protestos e se opõem ao projeto de lei.
Por isso, os sindicalistas decidiram realizar a partir desta sexta-feira assembleias nos locais de trabalho, que se somarão às manifestações e greves. Eles também querem realizar, a partir de segunda-feira, dentro das empresas, votações sobre a reforma e os protestos a fim de encaminhar seus resultados ao presidente François Hollande. A força de pressão dos sindicatos aumenta em progressão geométrica à medida que se aproxima a realização da Eurocopa no país, com início previsto para 10 de junho.
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