Avião da EgyptAir enviou alerta de fumaça a bordo antes de desaparecer
Egito e França dizem que esses alarmes são insuficientes para determinar o que aconteceu
O avião Airbus 320 da Egyptair que desapareceu na quinta-feira no Mediterrâneo enviou ao centro de operações da empresa aérea pelo menos três alertas sobre a existência de fumaça a bordo. Os alarmes foram registrados poucos minutos antes de o aparelho desaparecer dos radares, deixando de emitir qualquer sinal.
O aviso de fumaça é emitido automaticamente pelo sistema ACARS (Sistema de Endereçamento de Comunicações e Notificações de Aeronaves, na sigla em inglês), que transmite continuamente dados do voo e possíveis incidências ao centro operacional da empresa. O envio desses alertas foi citado pela imprensa norte-americana, tendo como fonte um porta-voz egípcio, e confirmado no sábado à France Presse por uma fonte do centro de investigação de acidentes aéreos da França, conhecido pela sigla BEA.
Nas mensagens automáticas recebidas pela empresa, consta que há fumaça no banheiro próximo à cabine dos pilotos. Outro alerta indica que também havia fumaça no sistema eletrônico de controle do avião. Outras mensagens automáticas do ACARS nesses minutos prévios à queda indicam falhas no piloto automático do avião e apontam a ativação de sensores no sistema de degelo de uma janela da cabine de pilotos e no mecanismo de abertura de outra janela. Todas essas mensagens apareceram em um curto intervalo, pouco antes de o Airbus desaparecer.
Os especialistas concordam que, apesar de os dados serem significativos, não explicam sozinhos o ocorrido, e que para determinar as causas da catástrofe é preciso encontrar os restos do avião e, sobretudo, as duas caixas-pretas. Na verdade, nem o centro operacional da EgyptAir nem os centros de controle dos países próximos receberam nenhum aviso de emergência ou de perigo por parte dos pilotos.
Mais de dois dias após a queda, não existe nenhuma explicação sólida sobre o que ocorreu. “Todas as hipóteses permanecem abertas", repetem os dois Governos diretamente envolvidos, o da França e o do Egito, países de origem e destino daquele voo. As autoridades egípcias consideram crível a hipótese de atentado, e as francesas não a descartam, mas nenhuma organização terrorista assumiu qualquer ataque até este sábado. Dificilmente a fumaça detectada seria de uma bomba, porque nesse caso os alertas não durariam pelo menos dois minutos, como consta no registro do centro operacional da EgyptAir.
Por outro lado, pilotos acostumados ao modelo Airbus A 320 comentaram que o comportamento do avião tampouco é compatível com uma queda provocada por problema técnico. Segundo o Governo grego, a aeronave iniciou uma descida brusca antes de sumir dos radares, virou repentinamente 90 graus à esquerda e, em seguida, 360 à direita. Os especialistas acreditam que essas manobras oscilantes podem ter sido uma ação provocada pelos pilotos ou por algum fato indeterminado no interior do avião.
Uma hipótese levantada pelos pilotos consultados é que, de fato, tudo pode ter começado com um incêndio no sistema elétrico do avião, que fica sob a cabine dos pilotos e o banheiro adjacente. Em caso de fumaça na cabine, o procedimento consiste em iniciar imediatamente um descenso de emergência, até uma altitude na qual seja possível abrir as janelas da cabine – provavelmente tentaram abrir uma – e respirar o ar da atmosfera. Durante essa manobra, os pilotos, como os passageiros, usam máscaras de oxigênio. Ao mesmo tempo, o comandante ou o copiloto devem iniciar a desconexão, um a um, dos sistemas eletrônicos, para tentar eliminar a origem da fumaça.
Nessas circunstâncias, em plena descida, o avião aumenta rapidamente de velocidade, e fica difícil controlá-lo. “Na cabine, o ruído é ensurdecedor", contam os pilotos, o que explicaria por que os pilotos, além do mais com a boca tampada pelas máscaras de oxigênio, não comunicaram nenhuma emergência por rádio. Esse aumento brutal de velocidade pode provocar a quebra de alguma peça importante para a sustentação do avião – uma parte da asa, um leme –, o que explicaria as duas curvas bruscas no último instante.
A hipótese encaixaria, por exemplo, com o fato de que as falhas no piloto automático ocorreram três minutos depois do alarme por fumaça no banheiro. Certamente, nesse momento o piloto automático foi desligado para que o descenso de emergência começasse. Os pilotos consultados explicam que, nos treinamentos em simuladores de voo, o exercício com a presença na cabine de fumaça procedente do sistema elétrico de controle “é o mais complexo de todos”.
Como resultado do desaparecimento do avião, a França está revisando e analisando todos seus sistemas de segurança nos aeroportos, onde a vigilância foi redobrada. Neste sábado, o terminal Oeste do aeroporto de Orly foi parcialmente esvaziado e interditado devido a uma ameaça de bomba, segundo relatou uma passageira que se dirigia ao local.
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