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Delcídio do Amaral, a metralhadora giratória da Lava Jato, cassado por 74 X 0

Ex-petista perdeu mandato no Senado. Flagrado tentando evitar delação, virou um delator

O plano de fuga e de ajuda financeira oferecido pelo então senador petista Delcídio do Amaral para evitar a delação premiada de Nestor Cerveró na Lava Jato custou seu mandato. Na noite desta terça-feira, um dia antes da votação que deve afastar a presidenta Dilma Rousseff, ele foi cassado pelo Senado Federal, em uma sessão rápida e sem polêmicas, em que não foi defendido por ninguém. Nem por ele mesmo.

Delcídio do Amaral, cassado nesta terça.
Delcídio do Amaral, cassado nesta terça.ANDRESSA ANHOLETE (AFP)

Amaral passou de obstáculo a pilar da Lava Jato em questão de meses. Agora colaborador da Justiça, tornou-se uma grande metralhadora de acusações nas quais envolveu a presidenta, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PSDB, Aécio Neves, e até o provável futuro presidente interino Michel Temer

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Sua saga começou quando foi preso em flagrante em novembro do ano passado, depois de ser gravado pelo filho de Cerveró oferecendo ajuda para interceder junto ao Supremo Tribunal Federal para que o ex-diretor da Petrobras fosse solto. Dizia que, em seguida, Cerveró poderia fugir do país e receberia uma mesada 50.000 reais paga pelo banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, outro investigado na Lava Jato. O objetivo era evitar que ele firmasse de fato uma delação premiada, que poderia complicar ainda mais a vida dos envolvidos. 

Depois de preso, o agora ex-senador foi renegado pelo Partido dos Trabalhadores, legenda pela qual atuou como senador por 13 anos. Rui Falcão, presidente do partido, emitiu após a prisão uma dura nota, em que afirmava que o PT não se julgava "obrigado a qualquer gesto de solidariedade". Queria evitar que o flagrante prejudicasse ainda mais a imagem da sigla. A falta de apoio do partido enfureceu o senador. Foi quando acabou aceitando, ele mesmo, firmar uma delação premiada com a Justiça.

Seria a delação do agora ex-senador que faria a presidenta ter o pior revés até agora na Lava Jato. Na semana passada, o Ministério Público pediu ao Supremo que abra inquérito para apurar se a presidenta atuou para atrapalhar as investigações. Delcídio disse que a presidenta atuou para influenciar na libertação de réus presos pela Operação Lava Jato e para para concretizar a indicação de Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora, um braço da Petrobras. Disse que a obra da usina de Belo Monte teve propina, que serviu como contribuição decisiva para as campanhas eleitorais de 2010 e 2014 do PT e de outras legendas. Além disso, citou Lula 186 vezes, entre elas, para dizer que o ex-presidente “pediu expressamente” que ele “ajudasse” o pecuarista José Carlos Bumlai - amigo pessoal de Lula-, a convencer Cerveró a não incluir o nome do empresário em sua delação. Suas acusações foram atacadas pelos acusados e taxadas de "desejo de vingança". Em março deste ano, ele pediu desfiliação do partido, de onde já tinha sido afastado para enfrentar um processo interno que deveria acabar por expulsá-lo.

O processo contra ele na Comissão de Ética no Senado transcorreu sem muitas polêmicas e teve seu relatório aprovado na noite da última segunda-feira em uma sessão-relâmpago de15 minutos. Nesta terça-feira, a votação final no Plenário também foi rápida. Ele não compareceu para fazer sua defesa e não enviou advogado. Um defensor dativo -chamado num processo quando o réu não comparece- foi designado: era o diretor da Consultoria Legislativa do Senado Federal, Danilo Aguiar, que apenas leu um documento da defesa. Dos 81 senadores da Casa, 74 concordaram que ele usou seu mandato para obter vantagens. Ninguém foi contra e um se absteve. Os advogados dele afirmam que vão recorrer no Supremo Tribunal Federal contra a decisão. Delcídio ficará inelegível por 8 anos, a contar do fim do seu mandato original: não poderá se eleger até 2027.

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