Protestos obrigam Trump a entrar às escondidas em evento
“Foi como cruzar a fronteira”, disse na convenção republicana da Califórnia, onde inicia campanha das primárias
O milionário Donald Trump divertiu na sexta-feira à tarde os presentes na Convenção Republicana da Califórnia com uma atuação de 25 minutos de anedotas e comentários políticos, em meio a tamanha expectativa que poderia ter cobrado entrada. Começou com uma piada eficaz, quando se referiu ao modo como teve de entrar no hotel Hyatt do aeroporto de San Francisco, local do evento. Milhares de manifestantes bloquearam os acessos ao hotel, tomado pela polícia antidistúrbios, e o serviço secreto teve de colocar Trump no edifício saltando um muro e atravessando um terreno. "Foi como cruzar a fronteira", disse, para começar o discurso.
Assim, com um candidato que desencadeia protestos que beiram a violência onde quer que vá, começa a maior campanha das primárias desde Iowa. O que ninguém esperava, o pior pesadelo de um estrategista político, está aqui: a campanha pela nomeação republicana pode ser decidida na Califórnia. O Estado mais populoso do país (38 milhões de habitantes) vota em 7 de junho. Também é o Estado que elege mais delegados: 172, uma cifra suficiente para definir se Trump consegue a nomeação automática ou não.
O discurso de Trump diante dos californianos não incluiu uma só proposta. Quando alguém gritou "Construa o muro!", ele disse que seria um muro de apenas 1.600 quilômetros porque não é necessário em toda a fronteira, já que em alguns lugares há barreiras naturais. Foi tudo o que se pôde intuir de sua hipotética presidência. Em seu pronunciamento, Trump zombou do jeito de comer do candidato John Kasich, disse que não estava nem um pouco preocupado se o establishment republicano o apoiava ou não e afirmou que o sistema de primárias está "trapaceado" pela forma como os delegados são eleitos. Também afirmou que já ultrapassou a barreira dos 1.001 delegados. Precisa de 1.237 para garantir a nomeação.
Do lado de fora, milhares de pessoas com cartazes contra o racismo e comparando Trump aos nazistas se entrincheiravam diante da polícia. Viam-se grandes bandeiras do México. Em geral, eram pessoas jovens, algumas delas mascaradas e com símbolos antifascistas. "Trump é o mais fascista do partido republicano", dizia um jovem com um lenço preto sobre o rosto, sem querer dar seu nome. Garantiu que o protesto se formara de modo espontâneo e, em sua opinião, isso "vai ser assim ou pior" em cada aparição de Trump na Califórnia no próximo mês. Em um dado momento, os manifestantes queimaram uma bandeira dos Estados Unidos e destruíram uma pinhata representando Trump.
Esses incidentes, que se prolongaram até várias horas depois do discurso de Trump, ocorrem depois que na quinta-feira milhares de manifestantes rodearam o recinto em Costa Mesa, no sul de Los Angeles, onde Trump fez seu primeiro comício no Estado. A manifestação se tornou violenta e vinte pessoas foram presas.
As primárias da Califórnia são deixadas em último lugar no calendário para que não tenham importância. Trata-se de fazer com que a eleição chegue decidida no final e não seja necessária uma custosa campanha em um Estado do tamanho de um país de médio porte, extenso e diversificado. A divisão no campo republicano mudou essa dinâmica e os republicanos da Califórnia se encontram com a responsabilidade de ser decisivos na corrida pela primeira vez desde as primárias de Rockefeller contra Goldwater em 1964.
O presidente dos republicanos da Califórnia, Jim Brulle, reconheceu para a imprensa que a data da convenção foi mudada para maio precisamente por se constatar que a nomeação estava indefinida. Dessa forma, poderiam escutar todos os candidatos. Há dois meses, figurava no programa como convidada especial para falar na convenção Carly Fiorina, executiva da Hewlett-Packard e ex-candidata presidencial. Há um par de semanas os três candidatos confirmaram sua presença aqui. Trump falou na sexta-feira pela manhã, Kasich discursou à noite. Neste sábado falarão Cruz e Fiorina – a quem Cruz escolheu como sua candidata a vice-presidenta em uma hipotética nomeação, o que está sendo interpretado como uma última tentativa de ter uma boa atuação na Califórnia que impeça Trump de conseguir a nomeação matemática por número de delegados.
As convenções do Partido Republicano da Califórnia costumam ser modestas. O partido está há duas décadas sofrendo uma constante queda de filiados e representantes em altos cargos. Atualmente, não tem nenhum representante estadual eleito.
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