Chance de saída definitiva de Dilma é de 45% e eleva pressão sobre Temer
Cálculo é do 'Atlas Político', que dá como certo afastamento temporário da presidenta Pesquisa Ibope aponta que só 8% crê que Governo do vice é saída para a crise política
O afastamento provisório da presidenta Dilma Rousseff por decisão da maioria do Senado (41 dos 81 senadores) em 12 de maio é dado como certo, mas sua saída definitiva do poder, com o julgamento do mérito do impeachment, que precisa dois terços dos senadores ou 54 votos a favor, está longe de ser um resultado consolidado. O panorama eleva a enorme pressão já sofrida pelo futuro Governo interino de Michel Temer, que terá uma curta janela de oportunidade para provar ao sistema político e à opinião pública que merece ficar.
A avaliação é dos criadores da plataforma Atlas Político, que estreia nesta terça nova seção com o perfil de todos os senadores. O site fará nos próximos meses um acompanhamento em tempo real da probabilidade do impeachment ser aprovado de maneira definitiva no Senado. Nesta segunda-feira, o cálculo da plataforma era 99,9% de chance de Dilma Rousseff ser afastada em 12 de maio por até 180 dias (por aprovação da maioria simples dos senadores) e apenas 45% de probabilidade de afastamento definitivo da petista pelos senadores.
"Juntando as ameaças que vemos na perspectiva interna e externa, fica claro que, mesmo o Temer assumindo, a chance de ele sobreviver depois dos 180 dias de afastamento de Dilma é provavelmente ainda pior que os 45% que o modelo nos revela hoje", afirma o cientista político Andrei Roman, um dos gestores do Atlas. Além das declarações, o site calcula a probabilidade de que cada senador ainda indeciso ou indefinido escolha um lado ou outro, baseado no histórico completo de seu comportamento em votações. Durante o processo da Câmara, a plataforma também fez o acompanhamento.
Na análise de Roman, Temer vai ter relativamente pouco tempo para rever um quadro de baixa popularidade enquanto enfrenta múltiplos e simultâneos desafios. Se tentar reformas econômicas num contexto de contestação social, pode inflamar as ruas, ele diz. Por outro lado, medidas para agradar o eleitorado podem fazê-lo perder o endosso do mercado e complicar os problemas econômicos.
Ibope e Eurasia
Pesquisa do Ibope citada pelo portal G1 mostra que, na batalha da opinião pública, Michel Temer já enfrenta problemas. Levantamento feito entre 14 a 18 de abril mostra que 62% dos entrevistados prefere novas eleições presidenciais e apenas 8% deles acredita que um Governo Temer fruto do impeachment é a melhor solução para o país. O número é inclusive menor que os 25% que preferem que Dilma Rousseff fique onde está.
Não está claro se a pesquisa Ibope perguntou diretamente sobre apoio popular ao processo de impeachment. Segundo o Datafolha, o suporte à destituição de Dilma Rousseff já havia caído de 68% em março para 61% em abril, pouco antes da votação da Câmara. "Alegações da Lava Jato que impliquem a Temer e uma queda expressiva do apoio público à remoção de Rousseff são possíveis fatores que poderiam impedir o Senado de aprovar o impeachment da presidenta", escreveu nesta segunda a consultoria de risco Eurasia, para quem a chance de Dilma sair do poder é 80% - ainda que não esteja claro se a probabilidade se refere ao afastamento temporário ou a destituição definitiva. A consultoria lembra a composição do Senado, com representação por Estados, e que isso poderia ter impacto dado o maior apoio ao impeachment, comparativamente, no Sul e Sudeste do que no Norte e Nordeste.
A situação do vice-presidente se complica mais quando se considera que o custo votação da Câmara - o comando do processo pelo impopular Eduardo Cunha e a performance constrangedora dos deputados - parece não ter sido ainda completamente contemplado. A pesquisa Ibope mais recente, por exemplo, só esteve em campo um dia depois da votação do impeachment pelos deputados. Reportagem do EL PAÍS mostrou o impacto negativo da votação nas redes sociais, uma sinalização que poderia decantar nos próximos levantamentos tradicionais. Nas redes, também é intensa a movimentação de atores à esquerda e pró-Governo que colam o vice às palavras "golpe" e "golpista".
Por fim, Andrei Roman, do Atlas, não prevê vida fácil para o futuro em qualquer cenário. Enquanto presidente interino, Temer também seguirá disputando com Dilma o front externo. "Poucos líderes internacionais vão se arriscar apoiar alguém acusado de golpe, mesmo que isso não seja verdade, ainda mais se a chance dele de ir embora depois de 180 dias é considerável. O provável isolamento internacional de Temer pode ser bastante explorado pelo PT." Se Dilma conseguir sobreviver ao afastamento temporário, teria desafios ainda maiores à frente, afirma Roman. "Como é que Dilma vai conseguir governar o país se voltar no final do ano? Bem-vindo ao caos."
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