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Lava Jato prende o ex-senador Gim Argello por corrupção na CPI da Petrobras

Ex-parlamentar do PTB é suspeito de receber propina para não convocar empreiteiros a depor Nova fase, intitulada Vitória de Pirro, chega às vésperas da votação do impeachment de Dilma

O ex-senador Gim Argello (PTB-DF), em foto de 2012 na CCJ do Senado.
O ex-senador Gim Argello (PTB-DF), em foto de 2012 na CCJ do Senado.José Cruz (Agência Senado)

A 28ª fase da Operação Lava Jato da Polícia Federal, intitulada Vitória de Pirro, prendeu preventivamente na manhã desta terça-feira em Brasília o ex-senador Gim Argello (PTB-DF). Ele é suspeito de ter recebido propina para não convocar empreiteiros para depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso e na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investigavam o esquema de corrupção na Petrobras, em 2014, quando a PF deu início à Lava Jato. O petebista era vice-presidente da CPMI da Petrobras e foi um dos principais articuladores da base governista no Senado no primeiro mandado de Dilma Rousseff, mas rompeu com o Governo em 2014. 

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O Ministério Público Federal informou que há evidências de que o ex-parlamentar (aliado da base governista) recebeu 5 milhões de reais da UTC Engenharia e 350 mil reais da OAS e investiga outros pedidos supostamente feitos por ele para empreiteiras investigadas no escândalo. As investigações apontaram ainda que o ex-senador do PTB atuou "de forma incisiva no sentido de evitar a convocação de empreiteiros para prestarem depoimento, mediante a cobrança de pagamentos indevidos travestidos de doações eleitorais oficiais em favor dos partidos de sua base de sustentação".

Em dezembro passado, Gim Argello já havia sido citado pelo executivo Ricardo Pessoa, dirigente da UTC que foi preso no escândalo, que afirmou em delação premiada ter pago ao ex-parlamentar para não ser convocado a depor no Congresso. Na ocasião em que a delação do empreiteiro se tornou pública, Gim Argello negou a acusação, lembrou que a UTC doou para várias campanhas eleitorais e disse não ser possível "blindar" qualquer pessoa numa comissão de inquérito "formada por 33 deputados e senadores de diferentes partidos".

Outras duas pessoas ligadas ao ex-senador foram presas temporariamente pela PF (Valério Neves e Paulo Roxo), que ainda cumpriu 14 mandados de busca e apreensão e cinco mandados de condução coercitiva —entre as pessoas levadas a depor estão o filho do ex-senador, Jorge Argello Junior, e executivos da OAS. Os mandados foram cumpridos nas cidades de São Paulo, no Rio de Janeiro, em Taguatinga (Distrito Federal) e em Brasília e expedidos pela 13ª Vara Federal de Curitiba, que também determinou o bloqueio de ativos de dois investigados e de três pessoas jurídicas.

De acordo com os procuradores responsáveis, essa fase da Lava Jato foi "pontual" e focada em Gim Argello. "Não há nenhum indicativo de que ele agia sob o mando de algum partido, seja da oposição ou do Governo. Todas as mensagens [analisadas] davam conta de que ele era responsável pelo esquema. Nenhuma mensagem apontavam para outra pessoa", disse em entrevista coletiva o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, em Curitiba. As doações das empreiteiras foram feitas aos partidos da coligação pela qual Gim Argello tentou se reeleger senador em 2014 (PTB, PR, DEM, PRTB e PMN), mas não há evidências de que as legendas sabiam que a verba seria usada pelo senador para atrapalhar as investigações na CPMI da Petrobras.

O procurador disse ainda que essa fase evidencia que a "corrupção no Brasil não é partidária". A declaração ocorre num momento em que a força-tarefa tem recebido críticas de setores que veem parcialidade nas investigações, o que a PF nega.

Vitória de Pirro e semana crucial em Brasília

A nova fase da investigação, intitulada Vitória de Pirro (uma referência à expressão usada para ilustrar uma vitória obtida sob um alto custo) chega numa semana crucial para o Governo, que após a derrota na comissão especial do impeachment negocia com partidos para tentar obter um número suficiente de votos para barrar a destituição da presidenta no plenário da Câmara, no próximo domingo.

Gim Argello era o vice-presidente da CPMI que investigava os desvios na Petrobras e foi um dos principais articuladores da base governista no Senado no primeiro mandado de Dilma. O ex-parlamentar que chegou a disputar a indicação a uma vaga no Tribunal de Contas da União em 2014, mas desistiu após enfrentar resistências ao seu nome. Naquele mesmo ano, ele rompeu com o Governo durante as eleições, quando tentou sem sucesso se reeleger senador e apoiou José Roberto Arruda (PR), que disputava o Governo do DF com o então governador petista Agnelo Queiroz. Nesta segunda-feira, o PTB —partido do ex-senador e durante muito tempo aliado do Governo petista— votou a favor da continuidade do processo de impeachment de Dilma.

Não é a primeira vez que Gim Argello tem seu nome ligado a escândalos. Ele assumiu a cadeira no Senado em 2007 com a renúncia de Joaquim Roriz (ex-governador do DF acuado por várias acusações de corrupção), e também é investigado por enriquecimento ilícito e outros delitos.

Gim Argello e os outros dois presos serão encaminhados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Os crimes investigados são corrupção ativa, concussão, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

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