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Destruição de emprego, um problema cada vez maior na Argentina

Relatório de uma consultoria fala de 100.000 demissões, que acrescentam mais de meio ponto percentual à taxa de desemprego

Cerca de 10.000 trabalhadores petroleiros esperam uma trégua para evitar mais demissões.
Cerca de 10.000 trabalhadores petroleiros esperam uma trégua para evitar mais demissões.Ricardo Ceppi
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A destruição do emprego tornou-se um dos principais protagonistas da mudança de Governo na Argentina. Os dados sobre o terceiro trimestre de 2015 indicam que a população economicamente ativa é composta por 16.800.000 trabalhadores e pouco mais de 1.300.000 de desempregados. Gastronomia, comércio, metalurgia e construção são algumas das áreas que concentram mais mão de obra. No entanto, um estudo realizado pela consultoria Tendências Econômicas e Financeiras mostrou que 107.000 pessoas foram demitidas no bimestre que acaba de terminar, e que esses setores são os mais comprometidos.

A pesquisa, feita a partir da publicação de artigos de jornal, faz uma clara distinção entre janeiro e fevereiro. Durante o primeiro mês do ano, 41.900 pessoas perderam o emprego, metade no setor público e metade no setor privado, enquanto que em fevereiro 65.800 pessoas foram para a rua, das quais apenas 10.600 pertencentes ao setor público.

O economista José Luis Blanco, diretor da Tendências Econômicas, realiza esse estudo desde 1986 e disse ao EL PAÍS que “o problema está bastante localizado, 80% das demissões pertencem ao setor da construção e isso tem muito a ver com o fato de que (os Governos) interromperam obras públicas desde maio de 2015 por falta de pagamento”.

“Um fato importante é que este Governo mostrou disposição para regularizar a falta de pagamento dessas obras; anunciaram que em maio pagariam a dívida de dezembro e que querem pagar a dívida pendente entre maio e novembro com um título. Se isso ocorrer, é provável que muitas dessas obras voltem a ser retomadas”, analisa Blanco.

Fontes da UOCRA, o principal sindicato da construção, reconheceram que há um “atraso nos pagamentos desde o ano passado, algo que se arrasta e que piorou nos últimos dois meses”. No total, cerca de 54.000 postos de trabalho foram perdidos em um universo de cerca de 400.000, segundo essas fontes. Desses empregos, 20.000 são sazonais e como nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro o nível de atividade cai, a crise atingiria cerca de 30.000 trabalhadores do setor. “Desses 30.000 que preocupam, mais de 90% está vinculado com obras públicas. Especialmente na área da habitação social”, revelam.

Na semana passada, as mais altas autoridades da UOCRA e da Câmara de Empresários da Construção se reuniram e propuseram ao Governo organizar reuniões tripartites com os ministérios envolvidos para agilizar as alocações de fundos. Trata-se dos ministérios do Interior, Energia e Transportes. Só o ministério do Interior mostrou vontade de diálogo. As outras duas pastas não responderam até agora.

Luciano Cohan, diretor da consultoria Elipsis, foi mais cauteloso: “Os sinais que existem até agora são de que o mercado de trabalho está fraco e não de um mercado de trabalho em quebra. Minha impressão é que estamos vendo as consequências de uma recessão que certamente afetará o mercado de trabalho, mas não com a intensidade que mencionam alguns artigos na imprensa”.

Para o economista, “os problemas no âmbito do trabalho estão sendo superestimados. A situação é delicada, porque a atividade está encolhendo, mas tenho a impressão de que a fragilidade do mercado de trabalho não tem nada de anormal em comparação com os anos anteriores, quando não sabíamos bem quais eram as taxas de desemprego porque eram maquiadas pelo Indec (órgão público responsável pelas estatísticas)”.

“No que diz respeito à construção, o próprio relatório suaviza os dados, uma vez que esclarece que se trata de uma atividade sazonal”, diz Cohan, “Mas concordo com a afirmação de que a atividade está tendo números ruins e que isso se deve à diminuição das obras públicas, embora em nenhum caso os números sejam alarmantes”.

Cohan disse que “o Observatório de Emprego do Ministério do Trabalho faz uma pesquisa que descreve a rotação do emprego. Em um trimestre normal, se pode ter entre 200.000 e 220.000 empregos formais destruídos. Diante disso, se esses números persistirem ao longo do tempo são grandes, mas não são anormais no mercado de trabalho”.

O estudo da Tendências Econômicas também observa que há problemas com a paralisação ou a desaceleração de obras termelétricas e petrolíferas. Entre as razões, um atraso nos pagamentos de certificações de obras por parte do Governo Nacional para as empresas de construção e a nova determinação dos preços entre o setor e os empresários com o Estado.

“No setor petrolífero existem 10.000 trabalhadores esperando a renovação da trégua entre os empresários e o Governo para que não haja demissões depois de junho”, disse Blanco, que ao mesmo tempo afirmou que “o salário real está em queda e o consumo dependerá mais do que nunca dos pactos salariais”. “Não me lembro de ter visto um número semelhante de demissões nos primeiros meses do ano”, diz.

Outro fenômeno que surgiu com a queda do emprego na Argentina são as suspensões, especialmente nas indústrias exportadoras. As montadoras destinam mais da metade de sua produção ao exterior (87% ao Brasil). “Se a fábrica não vende, tem de diminuir a produção; então suspendem o pessoal e algumas indústrias já o fizeram num horizonte até maio”, conclui Blanco.

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