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Caso Delcídio do Amaral abre novo capítulo na crise do Governo Dilma

Mesmo sem confirmação oficial sobre a sua existência, acordo de Delcídio complica Dilma e Lula

Rodolfo Borges
Dilma e Cardozo na posse de Wellington César Lima no Ministério da Justiça.
Dilma e Cardozo na posse de Wellington César Lima no Ministério da Justiça.Fernando Bizerra Jr. (EFE)
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O Governo Dilma Rousseff segue paralisado há meses por conta de dificuldades no Congresso Nacional e dos constrangimentos impostos ao Palácio do Planalto pelas intermináveis fases da Operação Lava Jato. E o horizonte do atropelado segundo mandato de Dilma só parece piorar. Já agravada por uma crise econômica que fez o país encolher quase 4% em 2015, a situação do Governo ficou ainda mais difícil nesta quinta-feira, quando começou a circular a informação de que o senador Delcídio do Amaral (PT) implica, em delação premiada, a presidenta em atos para tentar interferir no andamento da Operação Lava Jato.

A revista semanal IstoÉ antecipou sua edição em dois dias para noticiar que Delcídio do Amaral, recentemente solto após passar semanas detido por suspeita de tentar interferir nos rumos da Lava Jato, fechou um acordo de delação premiada que comprometeria diretamente a presidenta Dilma. O advogado do senador chegou a negar a existência do acordo — que, de qualquer forma, ainda não foi homologado, ou seja, não foi validado pelo Supremo —, mas, ainda que a delação não venha a se confirmar, seu impacto foi imediato, com repercussão instantânea nos veículos brasileiros que levaram o assunto a suas manchetes. Enquanto a notícia circulava, a presidenta participava de cerimônia de posse do no ministro da Justiça, Wellington César Lima e Silva, que substituiu José Eduardo Cardozo. Segundo a Folha de S.Paulo, a presidenta convocou uma reunião de emergência para tratar do assunto.

De acordo com a reportagem da IstoÉ, o acordo teria 400 páginas e foi fechado no dia 19 de fevereiro. Nele, o senador diria que a presidenta e o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo tentaram interferir na Operação Lava Jato em pelo menos três ocasiões. A primeira teria ocorrido na misteriosa reunião entre Dilma e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, em Portugal, em julho do ano passado. Como o suposto pedido a Lewandowski para interferir na Lava Jato não vingou, José Eduardo Cardozo, sempre de acordo com a reportagem da IstoÉ, tentou emplacar o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Nelson Schaefer, no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Sem sucesso novamente, o Governo teria partido para a indicação do desembargador Marcelo Navarro para o STJ, sempre pensando em interferir na Lava Jato.

“É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação”, teria dito Delcídio na delação. Cardozo reagiu desqualificando o senador, que "não tem credibilidade" e "não prima por dizer a verdade". "Recebíamos muitos recados de que se o Governo não agisse para tirá-lo da prisão, ele faria retaliações. Se efetivamente houve [delação premiada], é forte a possibilidade de ser retaliação, porque isso foi anunciado previamente: se o Governo nnao fizesse nada para ele sair da cadeia, ele retaliaria", diz Cardozo, que assumiu a Advocacia-Geral da União após deixar o Ministério da Justiça. Horas depois, Cardozo convocou uma entrevista coletiva para reforçar as críticas à possível delação.

Pasadena

Delcídio também teria dito que “Dilma Rousseff, como então presidente do Conselho de Administração da Petrobras, tinha pleno conhecimento de todo o processo de aquisição da Refinaria de Pasadena e de tudo o que esse encerrava", segundo informa a revista.

Além da presidenta, Delcídio também comprometeria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua delação. “Lula pediu expressamente a Delcídio do Amaral para ajudar o (empresário José Carlos) Bumlai porque supostamente ele estaria implicado nas delações de Fernando Soares e Nestor Cerveró. No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró com recursos fornecidos por Bumlai", diz o texto reproduzido pela revista. Além disso, Lula teria cedido às chantagens do publicitário Marcos Valério, que exigiu 220 milhões de reais para se calar na CPI dos Correios sobre o esquema do mensalão.

O vazamento da delação de Delcídio do Amaral segue o roteiro que se estabeleceu na atual crise política brasileira. Mesmo sem homologação, a versão do senador sobre irregularidades cometidas em nível federal na última década já provoca seus estragos antes mesmo de se provar oficial, e vai obrigar o Governo a dar explicações para atenuar seus impactos. No início da semana, já havia vazado a informação de que executivos da Andrade Gutierrez, segunda maior empreiteira do país, confirmaram o pagamento ilegal de dívidas da campanha da presidenta Dilma em 2010.

Se de fato há alguma intenção do Governo de tentar frear a Operação Lava Jato, como se especulou por conta da substituição de Cardozo no Ministério da Justiça, a tarefa parece cada vez mais ingrata. A delação oficial de Delcídio do Amaral, ex-líder do Governo no Senado, torna-se, a partir de agora, uma das mais esperadas. De qualquer forma, engrossa o caldo dos que são favoráveis ao impeachment de Dilma, que pode voltar a esquentar no Congresso.

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