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O Rio submarino

Tormentas de verão trazem o caos ao Rio de Janeiro e viram piada na Internet

A chuva alagou, entre outros, o bairro de Botafogo, no Rio.
A chuva alagou, entre outros, o bairro de Botafogo, no Rio.Marcelo Sayão (EFE)
María Martín

Chove no Rio de Janeiro, e além de em estado de alerta, a cidade entra em uma espécie de clima surreal, onde fica difícil diferenciar as imagens verdadeiras das montagens. Só hoje, foi possível ver um homem nadando de braçada no meio de uma rua da Zona Oeste, assim como um grupo de moleques posando com a água turva pelo pescoço enquanto, atrás deles, um cara avançava com uma prancha de surf. Em Niterói, um jovem saiu a navegar entre os carros subido a um stand up paddle para resgatar um gatinho que se afogava e, na semana passada, na Zona Sul, um homem, segurando um guarda-chuva, escalava o alto de um veiculo para sortear as ondas da calçada da Senador Vergueiro.

As tormentas de verão estão enchendo as ruas e a paciência dos cariocas, mas afinando a criatividade de quem sofre com elas. Do desespero por não ter como voltar para casa, com críticas que ninguém parece ouvir, passou-se para o humor. As piadas nas redes sociais conseguiram superar a já extravagante realidade da Cidade Maravilhosa nos dias de chuva.

Na internet, o Rio já foi comparado com a Veneza brasileira e nas suas ruas foi divulgada a inauguração de todo tipo de Parques Aquáticos com atrações diversas. “A Paesfeitura e o DesEstado do Rio de Janeiro inauguraram essa noite o Parque Aquático do Catete. Uma das grandes atrações foi Moby Dick”, anunciava um dos moradores do bairro da Zona Sul, em um grupo de Facebook.

Enquanto a frente fria atravessava o litoral fluminense, o aeroporto Santos Dumont fechava mais uma vez suas pistas, as sirenes dos morros apitavam para alertar os moradores do perigo de deslizamentos, os comerciantes improvisavam barricadas anti-água, e os professores da Universidade Estatal do Rio de Janeiro davam por terminadas as aulas uma vez que a água começou a alagar as salas. As precipitações, concentradas em algumas horas, chegaram à metade da chuva registrada em todo o mês de fevereiro.

No mundo virtual, entretanto, as ruas do Rio recebiam a visita de orcas, tubarões e atletas de esportes aquáticos que aproveitaram o temporal para treinar a la selvagem. Uma notícia inventada por um morador, anunciava cursos de stand up paddle e apnéia nas calçadas da Zona Sul. Outro oferecia carona num submarino militar e um terceiro agradecia a chegada de uma nova iniciativa social: "Eu gostei muito desse programa social Meu Bairro Meu Oceano Atlântico, uma parceria público-privada, a privada é a Baia de Guanabara".

O site de humor Sensacionalista deu ao temporal dimensões bíblicas e está causando sucesso na rede: “Os cariocas foram orientados a juntar um casal de cada espécie de animal e guardá-los em uma arca. A Prefeitura declarou que as enchentes pela cidade são eventos teste para os esportes aquáticos nos jogos olímpicos que acontecerão em agosto na cidade. Mas não se pode afirmar ainda que haverá cidade em agosto”.

Em dezembro de 2013, a chuva mergulhou o Rio em um caos monumental até o ponto de ativar equipes de resgate e o prefeito Eduardo Paes recomendar aos cariocas que não saíssem de casa. Em abril de 2010 a cidade sofreu chuvas torrenciais semelhantes, que paralisaram a cidade por mais de 24 horas e deixaram um rastro de destruição sem precedentes nas últimas décadas. Na época, questionou-se as condições da cidade, que não está preparada para tais eventualidades, para sediar os Jogos Olímpicos. O prefeito disse a mesma coisa nas duas ocasiões: quando chove muito, não há maneira de evitá-lo.

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