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Cameron enfatiza no Parlamento que não haverá um segundo referendo

Primeiro-ministro defende a permanência na UE e adverte que “não é o momento de dividir o Ocidente”

Pablo Guimón
Cameron no Parlamento nesta segunda-feira.
Cameron no Parlamento nesta segunda-feira.AP
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David Cameroncompareceu na tarde desta segunda-feira no Parlamento para explicar os detalhes do acordo com a União Europeia alcançado na sexta-feira em Bruxelas e defender que o futuro do Reino Unido será melhor dentro do bloco europeu. O primeiro-ministro alertou os deputados que um Brexit (termo que se refere a Britain's exit, a saída Britânica da União Europeia, em inglês) representaria uma “ameaça à segurança econômica e nacional” do Reino Unido e que, no caso de os britânicos decidirem ficar sós, não haverá um segundo referendo.

O primeiro-ministro deixou claro que o voto do referendo de 23 de junho será definitivo. Cameron quis assim neutralizar os argumentos expostos por Boris Johnson, o prefeito de Londres, em sua coluna desta segunda no Daily Telegraph, na qual anunciou sua intenção de fazer campanha para que o país abandone a UE. “Há quem tenha sugerido que poderia haver um segundo referendo”, advertiu o primeiro-ministro, que não se esquivou de comentários irônicos sobre aqueles que querem utilizar seu voto em favor do Brexit como estratégia para a permanência na UE.

Cameron confirmou que, se o Reino Unido decidir sair, recorrerá ao procedimento do artigo 50 do Tratado de Lisboa. Uma vez iniciado o processo, afirmou, há dois anos de negociação, depois dos quais o Reino Unido abandona o clube automaticamente, a não ser que todos os Estados membros concordem em estender o prazo. Haverá, pois, “um período de incerteza” enquanto se negociam novos acordos e, em seguida, o Reino Unido perderia acesso ao mercado único. Trata-se de “uma decisão irreversível”, insistiu Cameron.

A decisão de Boris Johnson de desafiar Cameron e apoiar o Brexit foi um duro golpe para o primeiro-ministro. Johnson é um dos políticos conservadores mais influentes e Cameron acreditava no apoio de seu velho amigo. Mas, provavelmente respondendo a cálculos de suas ambições políticas de ocupar um dia o número 10 de Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro, Johnson anunciou no domingo que iria apoiar o Brexit. Em sua coluna, Johnson deixava entrever que uma vitória da opção de sair da UE poderia exercer pressão em Bruxelas para concordar com mais demandas de Londres. “Só há um meio de obter a mudança de que necessitamos e esse meio é votando pelo abandono da UE”, escreveu, “porque toda a história da UE diz que somente escutam de verdade uma população quando ela diz não”. “Conheço muitos casais que se divorciaram”, respondeu Cameron. “Mas não conheço nenhum que tenha iniciado os trâmites do divórcio para poderem permanecer juntos.” O primeiro-ministro quis deixar claro que, ao contrário de Johnson, não é movido por interesses políticos. “Já anunciei que não me apresentarei à reeleição”, lembrou. “Não tenho outra agenda além do que for melhor para o nosso país.”

O primeiro-ministro apelou à segurança nacional e à influência do Reino Unido no mundo. Sair da União Europeia não daria ao Reino Unido mais influência, alertou. “Os desafios que o Ocidente enfrenta hoje constituem genuínas ameaças”, disse. “As agressões de Putin no leste, o extremismo islamista no sul. Na minha opinião, não é o momento de dividir o Ocidente. Quando enfrentamos ameaças ao nosso modo de vida, nossos valores e nossas liberdades, é hora de reforçar os números.”

Embora ministros destacados –como o de Economia, George Osborne, e a do Interior, Theresa May– tenham confirmado que respaldarão Cameron na campanha, outros seis, entre os quais o ministro da Justiça, Michael Gove, anteciparam que apoiarão a saída da UE. Calcula-se que mais de cem dos 330 deputados conservadores desafiarão seu líder e farão campanha pela saída do bloco.

O acordo que Cameron firmou na sexta-feira em Bruxelas permitirá ao Governo britânico limitar os benefícios públicos aos trabalhadores de outros países da UE no Reino Unido durante um período de sete anos, bem como adaptar a ajuda por filhos que vivem fora das ilhas britânicas ao nível de vida desses países.

Também exclui o Reino Unido de qualquer medida destinada a forjar uma maior integração política com a Europa e cria mecanismos para que os países externos à zona do euro forcem um debate sobre leis que consideram contrárias a seus interesses.

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