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Reino Unido fará referendo sobre a permanência na UE no dia 23 de junho

Cameron confirma que a postura do seu Governo será favorável a permanecer numa União Europeia reformada

David Cameron diante da residência oficial de Downing Street, neste sábado.Vídeo: Carl Court (Getty Images)
Pablo Guimón

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou neste sábado, diante da residência oficial da Downing Street, 10, que o referendo no qual os britânicos se decidirão sobre a permanência na União Europeia ocorrerá no dia 23 de junho. Ao final de uma reunião do Gabinete – fato inédito em um fim de semana desde a Guerra das Malvinas (1982) –, Cameron confirmou que a posição do seu Governo será favorável à permanência do país no bloco europeu, refletindo um acordo obtido na véspera entre os 28 países da UE.

Agora, disse o premiê conservador, cabe aos britânicos tomar “uma das decisões mais importantes das suas vidas”. “Trata-se do tipo de país que queremos ser”, afirmou.

“Não amo Bruxelas [cidade-sede da UE], amo o Reino Unido”, acrescentou. “A pergunta é se estaremos mais protegidos e seremos mais fortes numa Europa reformada ou caminhando sozinhos.”

Cameron chegou a Londres de madrugada, após a maratona de negociações em Bruxelas, e, após algumas horas de sono, já se lançou neste sábado à campanha por manter o Reino Unido na UE pós-reforma. Uma missão à qual, conforme prometeu na sexta-feira, se entregará “com toda a alma e com todo o coração”. O primeiro-ministro enfrenta o maior desafio político da sua carreira: convencer os eurocéticos do seu próprio Partido Conservador, os seus ministros e, em última instância, o eleitorado de que os novos termos negociados em Bruxelas são suficientes para que valha a pena continuar integrando o bloco.

Cameron reuniu seu Gabinete a partir das 10h (8h em Brasília) na residência de Downing Street para, durante duas horas, explicar à sua equipe os termos do acordo alcançado com os outros 27 membros, o qual, segundo o primeiro-ministro, consolida o “status especial” do Reino Unido dentro da UE. “Agora cada um poderá expressar individualmente sua postura com vistas à campanha”, afirmou Cameron ao final do encontro. “Minha posição é de que o acordo alcançado em Bruxelas nos oferece o melhor dos dois mundos”, defendeu. “Estaremos fora das partes da Europa que não funcionam para o nosso país.”

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A reunião marca o final do voto de silêncio imposto aos membros do Gabinete. A partir de agora, com o acordo sobre a mesa, os ministros poderão expressar publicamente suas posições pessoais.

Quarenta horas de negociação foram suficientes para que houvesse muitos cortes na lista original de desejos de Cameron para permanecer na UE, que alguns britânicos já consideravam insuficientes. E o primeiro-ministro já recebeu o primeiro duro golpe antes mesmo de decolar para Londres: o seu ministro da Justiça, Michael Gove, um velho amigo e aliado, fará campanha pela saída da UE. “É um de meus melhores e mais antigos amigos, mas está há uns 30 anos desejando que o Reino Unido deixe a UE”, disse o primeiro-ministro. “Então claro que estou decepcionado por saber que não estaremos no mesmo lado nesta discussão vital sobre o futuro do nosso país.”

A rebeldia de Gove poderia estimular outros ministros eurocéticos a darem o mesmo passo e aderirem à campanha pelo Brexit, recrudescendo assim uma batalha que já se antevê acirrada. “Outros políticos precisarão tomar suas decisões e fazer seus anúncios”, admitiu Cameron. “Mas no final é o povo britânico que decidirá.”

Pela manhã, Cameron recebeu uma boa notícia: o respaldo da ministra do Interior, Theresa May. Após um duríssimo discurso sobre a imigração no último Congresso do Partido Conservador, meses atrás, esperava-se que May poderia se posicionar pela saída britânica da UE. Com a decisão dela de apoiar a permanência, Cameron assegura o apoio de duas pessoas fortes – ela e o chancellor of the Exchequer (ministro do Tesouro), George Osborne, ambos candidatos a sucedê-lo em 2020, junto com Boris Johnson. Todos os olhares se voltam agora para Johnson, o popular prefeito de Londres, que poderá ter uma notável influência no voto de muitos indecisos. Alguns assessores de Cameron temem que ela siga a posição de Gove.

O acordo alcançado inclui um freio de arrumação que permitirá recusar durante quatro anos a concessão de benefícios sociais a trabalhadores de outros países da UE presentes no Reino Unido, quando houver níveis excepcionais de imigração, e por um máximo de sete anos. As ajudas aos filhos de migrantes europeus que vivam fora do Reino Unido serão pagas segundo um cálculo baseado no custo de vida do país de origem. Isso será aplicado imediatamente para quem chegar à Grã-Bretanha a partir de agora, e a partir de 2020 para os 34.000 cidadãos europeus atualmente beneficiados.

O acordo também prevê uma reforma dos tratados europeus de modo a estabelecer explicitamente que a exigência de perseguir uma união cada vez mais estreita “não se aplicará ao Reino Unido”. E será facultado a Londres acionar um mecanismo de emergência para proteger o seu mercado financeiro contra avanços na integração da zona do euro que possam prejudicar os interesses econômicos britânicos.

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