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Pode uma equipe de poetas ganhar a copa mais valiosa da América?

César Vallejo, que honra um escritor peruano, é a equipe humilde que aspira a Copa Libertadores

César Vallejo festeja gol contra o São Paulo
César Vallejo festeja gol contra o São PauloMartin Mejia (AP)
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O Cesar Vallejo, do Peru, é uma equipe peculiar de futebol, quase melancólica. Carrega nas costas o pessimismo do poeta que lhe dá nome, que prognosticou a própria morte em versos memoráveis: “Morrerei em Paris com aguaceiro, um dia de que já tenho lembrança”.

O clube é pequeno, tem poucos torcedores e os títulos conquistados são mais exíguos ainda. Deve ser um dos raros casos no mundo em que o presidente chegou a dizer que não se importaria de ver o time rebaixado: “Economizaria dinheiro”. Apesar dos desejos de seu dirigente, a equipe se manteve na divisão principal e, se conseguir a difícil missão de eliminar o São Paulo, na quarta-feira, se classificará pela primeira vez em sua história para a fase final da Copa Libertadores.

Desde sua fundação, há apenas 20 anos, a equipe alternou momentos bons e ruins. Conseguiu três títulos nacionais (o Torneio do Inca, uma copa local) e se classificou para disputas internacionais, conseguindo uma modesta classificação nas quartas de final da Copa Sul-Americana em 2014. É, portanto, um time com projeção internacional nula. Sua torcida é claramente minoritária. Tanto que nem sequer é o clube mais popular de sua cidade, Trujillo. O Mannucci, mais enraizado no município, conta com mais apoio.

A equipe nasceu em 1996 pela mão do reitor da Universidade César Vallejo, um homem também chamado César, embora de sobrenome Acuña. É também o presidente do clube e candidato à presidência do Peru, acusado de plagiar sua tese de doutorado e um livro. Sua intenção era aproximar o esporte dos estudantes. O clube adquiriu, assim, o nome da universidade, mais que do escritor (1892-1938), embora nem por isso deixe de ser uma homenagem ao autor de Trilce. Seus jogadores são conhecidos como Los Poetas.

Como uma equipe tão poética chega a jogar a prosaica Copa Libertadores da América? A competição tem sido, ultimamente, mais vezes notícia pelos seus eventos sensacionalistas do que pelo jogo dentro do campo. Classificado em terceiro lugar no último campeonato peruano, o César Vallejo não está nem sequer entre as quatro equipes mais caras do torneio local, segundo o site Transfermarkt.

Cesar Vallejo
César Vallejo, poeta peruano

Seu quadro, avaliado em 8,35 milhões de dólares (32,5 milhões de reais), fica longe dos de clubes mais poderosos na América do Sul. O Boca Juniors, atual campeão argentino, tem um valor quase 11 vezes maior — 89,81 milhões de dólares (350 milhões de reais) — que a equipe universitária. O próprio São Paulo, rival direto pela classificação para a fase de grupos do torneio mais importante da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), está avaliado em 77 milhões de dólares (300 milhões de reais).

Como poetas que são, não têm medo de sonhar. “A aspiração na Libertadores é clara: chegar o mais longe possível. Apesar de ser uma tarefa muito difícil”, diz Johnny Aurazo, correspondente do diário El Comercio em Trujillo.

Os jogadores do clube, sempre resignados à decadência e à escassez em sua condição de poetas, necessitam na quarta-feira de uma vitória ou um empate por mais de um gol para derrotar seu adversário brasileiro, que, além de tudo, joga em casa. Depois de empatar a duras penas na partida de ida por 1 x 1, em Trujillo, o César Vallejo visitará, solitário e estrangeiro, tal como o escritor morreu em Paris, um campo onde não tem nada a perder.

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