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Negociação salarial é o primeiro grande teste de Macri na Argentina

O ministro de Trabalho argentino, Jorge Triaca, confia na “maturidade” dos sindicatos

C. E. C.

Viver em um país com 30% de inflação anual não é fácil para ninguém. Fazer uma negociação salarial assim é ainda mais difícil. Se a isso forem adicionados os sindicatos mais poderosos da América Latina, os peronistas, e um Governo que os kirchneristas acusam de neoliberal, o coquetel parece explosivo. Mas o Executivo da Argentina está otimista: Mauricio Macri tem uma boa avaliação da população depois de um mês de Governo, segundo as pesquisas. Agora vem uma grande prova de fogo: as negociações das “paritárias”, isto é, os acordos salariais.

Macri, em Davos, em 22 de janeiro.
Macri, em Davos, em 22 de janeiro.Laurent Gillieron (AP)

Jorge Triaca, o ministro do Trabalho, afirma em entrevista ao EL PAÍS que não acredita que os sindicatos peronistas vão começar a trabalhar para derrubar Macri, como fizeram com os outros dois presidentes não peronistas, Raúl Alfonsín (1987) e Fernando de la Rúa (2001). “De modo algum”, garante.

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“O Governo de Macri tem uma agenda política e social que vai resolver muitos dos problemas levantados pelos sindicatos nos últimos anos, como a redução de impostos ou a inflação. E eu vejo maturidade na maioria dos dirigentes sindicais. Optamos por escutar, mesmo apesar de não ter um vínculo político e ideológico. Mas todos os dirigentes sabem que, se discutem com pragmatismo, estamos à disposição.”

Nessa “maturidade” inclui Hugo Moyano, o sindicalista mais conhecido, agora próximo de Macri, embora sempre na dependência do aumento salarial que será concedido à sua entidade, a dos caminhoneiros. Alguns setores estão pedindo reajustes de 35%, o Governo fala de um porcentual entre 20% e 25% de inflação para 2016 (28% em 2015) e é nessa margem que vão negociar.

Milhares de demissões

O ambiente não é o ideal. Com a chegada de Macri há milhares de demitidos na Administração pública e algumas empresas privadas também estão despedindo funcionários. “Há problemas em alguns setores que estavam em uma economia subsidiada pelo Estado, superdimensionada. Havia muitos subsídios na mídia, por exemplo. Alguns estão perdendo seus privilégios. Mas a mudança de expectativas econômicas vai impulsionar o aumento do emprego no setor privado. Há alguns setores que já se puseram a trabalhar nisso, como o agroindustrial. Há outros com problemas, como o petroleiro. Estamos trabalhando para evitar demissões. É uma indústria estratégica, mas, claro, é muito diferente produzir a 100 dólares o barril em vez dos 26 de agora. Precisamos de uma economia saudável, não artificial e subsidiada”, diz.

Triaca é a face amável do Governo. Filho e neto de sindicalistas, seu pai chegou a ser, como ele, ministro do Trabalho, na época de Carlos Menem. Por esse contato histórico no mundo sindical, cabe a Triaca suavizar as posições e negociar para conseguir o mais difícil: frear a inflação e alcançar uma contenção salarial sem que haja uma explosão social. À porta de seu ministério, em pleno centro de Buenos Aires, todo dia há manifestações, explosões e bloqueios de ruas. “A Argentina vem dessa cultura de amigos e inimigos, de protestos. Temos de nos acostumar a que antes do protesto venha o diálogo. Nós queremos reconstruir a possibilidade de trabalhar acordos. É uma forte mudança cultural que teremos de fazer”, afirma.

Mas, ao mesmo tempo, defende as milhares de demissões na Administração. “O Estado foi tomado de assalto, pessoas foram colocadas em diferentes cargos sem uma função específica, sem uma designação concreta, às vezes com recursos ilimitados, sem ater-se a orçamentos. Estamos revendo tudo. É um ato de justiça. Os trabalhadores que não cumprem funções, que têm um contrato por vínculos políticos, prejudicam aquele que faz uma tarefa específica e executa bem o seu trabalho”, acrescenta.

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