_
_
_
_
Movimento Passe Livre
Tribuna
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Nem aumento, nem tarifa

Uma cidade aberta e democrática só existe para quem pode circular por ela

Em setembro de 2015 a PEC 90 estabeleceu o transporte como direito social. Reconheceu-se, finalmente, que transporte é um direito que o Estado é obrigado a atender, por meio de uma política pública que o assegure a todos os cidadãos. O aumento nas tarifas de ônibus, trens e metrôs vai na contramão do reconhecimento desse direito, já que não só dificulta ainda mais o acesso ao transporte, mas principalmente à cidade, aumentando a parcela excluída. Não a toa a pesquisa do IPEA aponta que mais de 400.000 pessoas podem ser obrigadas a deixar de usar o transporte que, insistimos em afirmar, é público.

Protesto do Passe Livre no dia 19 de janeiro.
Protesto do Passe Livre no dia 19 de janeiro.SEBASTIAO MOREIRA (EFE)
Mais informações
Para onde vai o MPL?
Fim do assédio sexual e mais 10 pontos para o “busão dos sonhos” paulistano
Por que você deveria prestar atenção na licitação de ônibus de São Paulo
Tarifa de transporte em São Paulo vai a 3,80 reais e MPL marca protesto para o dia 8
Paulo Mendes da Rocha: “O que está em debate em São Paulo é a estupidez do automóvel”
Manifestação do MPL cresce, mas Haddad e Alckmin não acenam com recuo
Eliane Brum | 'Tarifa não é dinheiro, é tempo'

Não aumentar o custo do transporte para usuárias e usuários finais não significa apenas "permitir" que se pague menos para se deslocar pela cidade, mas sim reconhecer o direito de quem nela circula de construí-la no dia a dia. Uma cidade aberta e democrática de verdade só existe para quem pode circular por ela, e isso só é possível com um transporte acessível a todas e todos. Um transporte que permita que as pessoas pensem, construam e circulem pela cidade só pode ser possível se for completamente gratuito. Isso significa alterar completamente a forma como transporte é pensado na cidade: enquanto este for tratado como mercadoria, a cidade será consumível, excluindo todas e todos que não puderem pagar por ela. A realidade da tarifa, e seu aumento periódico no deslocamento dos usuários, torna a cidade cada vez mais cara, e consequentemente cada vez mais excludente.

Ao mesmo tempo que afirma-se que o custo do sistema de transportes de São Paulo seria de 8 bilhões - admitindo que se precifique direitos - articula-se uma licitação milionária para os próximos 20 anos em que serão cortados 1.800 ônibus, demitidos 4.000 cobradores e reorganizadas linhas. Tudo isso sem consultar a população, que usa o transporte público, em nenhum momento. Pra além dos custos, o subsídio para as empresas foi aumentado mesmo sem uma licitação aprovada. Se aprovado esse edital que segue impedido pelo Tribunal de Contas do Município, a remuneração será também através de um cálculo de "produtividade", reiterando a mercantilização do transporte, que interessa na medida que gera mais lucro aos empresários, e não aumenta a participação da população.

Mesmo os programas de gratuidade atuais de São Paulo não são benefícios. São reconhecimentos de direitos que foram conquistados com muita luta, como o passe escolar. E mesmo esses benefícios não aumentam o acesso à cidade, já que se restringem a dias letivos e desconsideram viver a cidade como parte da formação. E pior, na lógica da tarifa cobrada por passageiro, quem arca com esses benefícios são os próprios usuários e usuárias do transporte preservando assim a desigualdade social. Tarifa Zero é a política defendida pelo movimento Passe Livre de amplo acesso ao transporte e assim à cidade. Não se trata de exigir almoço grátis, que é sim possível se sairmos da lógica capitalista do valor, da troca e da exploração do trabalho. Trata-se de entender que os custos de operação desse transporte não devem ser pagos diretamente no serviço e entendendo que, mesmo nesse atual modelo de cidade ela já seria possível. Se são oito bilhões o custo da Tarifa Zero, examinemos também os milhões da dívida pública, o lucro dos empresários ou os custos dos impostos dos mais ricos, que lucram justamente com a mobilidade de trabalhadoras e trabalhadores.

Pra além da tarifa, quem deve decidir como o transporte opera são as pessoas que utilizam diariamente esses meios. A lógica é muito simples: deve-se garantir o transporte assim como a educação, saúde, lazer, segurança. Não questionamos os custos da educação ou da saúde porque elas são necessárias, direitos conquistados. O transporte é a mesma coisa: não deve ser pensado como uma fonte de lucros para os de cima ou subsídios despendidos pelo governo, mas sim uma forma de diminuir a desigualdade social e garantir que todas e todos compartilhem a cidade. O atual projeto de cidade, mesmo com seus avanços em mobilidade urbana - resultados de luta e não benefícios - ainda insiste na reprodução da cidade mercadoria, e não em um projeto de toda a cidade para todas e todos. A cidade hoje só existe para quem pode pagar para se locomover por ela.

Claro está que, para a Tarifa Zero, não é possível mexer apenas no transporte urbano, afinal não se trata só do transporte urbano. A Tarifa Zero é uma forma de repensar a forma como produzimos e vivemos na cidade, e a luta contra o aumento e a tarifa já são mostras dessas formas. Estamos nas ruas lutando por outra forma de pensar o transporte público e por outro modelo de cidade. Nossa luta só acabará quando não houver mais catracas.

NEM TARIFA

NEM AUMENTO

POR UMA VIDA SEM CATRACAS

Movimento Passe Livre - SP

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_