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Ricardo Tripoli: “Transposição de pessoas precisa ser estudada em São Paulo”

Pré-candidato do PSDB para a Prefeitura aposta em medidas "inovadoras" para a metrópole

O deputado federal Ricardo Tripoli.
O deputado federal Ricardo Tripoli.Roni
Gil Alessi

O deputado federal Ricardo Tripoli é uma espécie de azarão na disputa das prévias do PSDB para ver quem será o candidato da legenda nas eleições municipais de 2016 para a Prefeitura de São Paulo. Enquanto que seus adversários têm o apoio de caciques tucanos do calibre do governador Geraldo Alckmin, que endossou o nome de João Doria Jr., e Fernando Henrique Cardoso, que apoia Andrea Matarazzo, Tripoli foi escolhido por uma chapa composta pelo deputado federal Bruno Covas e por José Aníbal, presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela.  Enquanto seus rivais são empresários, o parlamentar, formado em direito, é ambientalista e ligado à proteção dos animais. As prévias tucanas estão marcadas para o dia 28 de fevereiro.

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Se por um lado o ex-secretário do Meio Ambiente de Mário Covas e Geraldo Alckmin evita tirar coelhos da cartola - "o primeiro passo de qualquer gestor da cidade deve ser a renegociação da dívida do município com a União" -, ele arrisca algumas soluções que ele considera "inovadoras" para os problemas da metrópole. Uma delas, para a qual diz ser preciso fazer um estudo de viabilidade, é o que chama de transposição de pessoas, que ajudaria a solucionar a crise de mobilidade. "Se você tem uma pessoa que é caixa de banco, mora na zona leste e trabalha na zona sul, você vai ter outra que mora na zona sul e trabalha na zona leste. No mesmo emprego. Você só troca a pessoa de posição", explica. Em tese, a medida, sobre a qual não há literatura especializada, vai na mesma direção de outras iniciativas para reduzir o fluxo de pessoas que precisam cruzar São Paulo para trabalhar, como oferecer incentivos fiscais para que empresas se instalem em outras zonas da cidade.

Pergunta. Das pré-candidaturas do PSDB, a sua é a única que não tem um cacique forte do partido por trás. Isso enfraquece sua proposta?

Resposta. Eu tenho simpatia por todos. Mas não gostaria de ser candidato de A, de B, de C. Quero ser o candidato do militante, do filiado. Por isso a busca pelo consenso, por tentar juntar essas partes. Momentaneamente as ideias são diferentes, mas espero que a gente consiga caminhar por uma área comum. Não vejo problema nisso. Como quem vai votar é o militante, e o voto de cada um é um voto, ninguém tem dois votos, aí você vê a importância de uma prévia: o voto de uma liderança tem o mesmo peso que o Zé do Cocaia [bairro do Grajaú], que a dona Cleusa tem aqui no Morro Doce [distrito de Anhanguera], que o Geleia tem no Tatuapé [zona leste]. Eu me dou bem com todas as lideranças do partido. Mas agora acho que chegou a hora do filiado, do militante.

P. O que o militante tucano espera do candidato da legenda para a prefeitura?

R. Eles querem ser ouvidos. Eu costumo criticar um pouco o partido, porque às vezes numa campanha eleitoral você diz "o partido precisa ajuda". Aí mandam um pouco de adesivo, bandeira, mas não há uma discussão política. O partido precisa ser o ouvido da Prefeitura. Você tem que escutar qual o problema de cada local, cada região, o que é bom em tal bairro, o que é ruim, o que funciona. Eles querem participação. Segundo: querem que o escolhido por eles seja o candidato, porque aí eles ficam estimulados para trabalhar pela campanha. E por último, unidade. Eu tenho buscado muito a unidade, o consenso é fundamental. O PSDB tem que ir unido para a eleição, porque não será fácil. Temos vários candidatos de outros partidos já colocados.

P. Como você pretende atrair o eleitor do chamado cinturão vermelho, nas periferias da cidade, onde o PSDB costuma ter mais dificuldade?

R. Eu fui o deputado federal mais votado do PSDB em São Paulo, e o lugar onde fui mais votado foi no Tatuapé. Do Tatuapé para o fundo. Então isso demonstra que hoje a cidade não é como há 20 ou 30 anos, quando você tinha diferenças entre as pessoas. Logicamente, você tem uma diferença social enorme. Isso é nítido. Você não pode comparar a avenida São Miguel [zona leste] com a Faria Lima. Mas você tem claro que o que precisa ser feito é projetar uma maneira nova de governar, sem fazer distinção entre nós e eles. Aquela história antiga, isso é besteira.

Antes de você anunciar o que vai fazer é preciso cuidar da saúde financeira de São Paulo. É uma cidade que tem uma dívida de cerca de 50 bilhões de reais

P. Quais as prioridades da cidade?

R. Antes de você anunciar o que vai fazer é preciso cuidar da saúde financeira de São Paulo. É uma cidade que tem uma dívida de cerca de 50 bilhões de reais, sendo 30 bilhões com a União, 15 bilhões de precatórios e 5 bilhões com bancos privados. Se você pegar esse valor mais o custeio da máquina pública, você vai ver que sobra muito pouco para investimento. Por isso acho que o prefeito atual tem feito essa coisa de pintar faixa de ciclofaixa, ciclovia, diminuir velocidade de automóvel, mudar nome de lugar público...

P. Você já está trabalhando em um plano de Governo?

R. Seria muito leviano da minha parte começar a fazer um programa dizendo o que nós vamos fazer. Vou montar meu programa com o partido. Uma coisa que eu acho que está antes do programa é discutir a questão da dívida. É o que acontece com o Brasil. O Governo Federal gastou mais do que arrecadou. Como você apresenta uma proposta para São Paulo se você não tem caixa? Você vai contar uma história só para vender mídia na TV. "Vou fazer isso, aquil". Vai fazer como? Com que recurso? Você sabe que eu aprendi que as pessoas muitas vezes preferem um "não" discutido do que um "sim" que elas sabem que nunca será cumprido.

P. Faltou habilidade do prefeito na negociação da divida com a União?

R. Não tenho dúvida! No primeiro dia do prefeito ele tem que discutir a repactuação da divida do município. Como você pode pegar uma cidade como São Paulo, que colabora com 11% do PIB nacional, e recebe de volta só 0,01% disso? É muito pouco. Não é que São Paulo quer mais, São Paulo quer o que lhe é de direito. Porque é um direito reaver esse dinheiro, para não ficar de chapéu na mão. Achei que o atual prefeito, pela forma como ele lidou com o vínculo com o Governo Federal, fosse fazer, num primeiro momento, o enfrentamento. Não é uma defesa que você faz em nome de um partido, mas em nome da cidade... É lógico, São Paulo tem que colaborar com os municípios e Estados mais pobres, não vejo nenhum problema nisso. Mas voltar 0,01%...

P. Mas colocar na propaganda eleitoral que a proposta do PSDB para a cidade é renegociar a dívida não atrairá muitos votos, certo?

R. Por isso que estou falando que o programa de Governo será feito com o partido. O que estou lhe dizendo é que quando acabarem as prévias quero sentar com o partido e discutir. Chamar os pré-candidatos, os 58 diretórios regionais e dialogar e discutir nosso programa de Governo.

P. Como se resolve o problema de mobilidade de São Paulo?

R. É preciso ouvir um motorista de ônibus, um taxista, um motoboy, um ciclista e um pedestre. Você reúne essas figuras e depois, à partir do que elas disseram, você chama um engenheiro de trânsito e diz: "Tá aqui ó, veja como fazer". É uma maneira de comprometer as pessoas.

P. Qual sua opinião sobre a implantação de ciclofaixas e ciclovias?

R. Tem coisas que você vê e chamam a atenção. Sábado eu fui a São Miguel Paulista [zona leste], e eu vi uma ciclovia em cima de uma calçada. Aquilo me deixou horrorizado. Poxa, o cidadão tem que ir pra rua e o sujeito fica na calçada. O pedestre corria o risco de ser atropelado. Isso é impossível. Acho que a ciclofaixa de final de semana [ciclofaixa de lazer], por exemplo, funcionou. Porque foi mais planejado, as pessoas gostam e respeitam.

São Paulo tem um problema sério, a cidade não é plana. Outro dia vi uma ciclofaixa que pensei: ‘Essa é só para descer, e não subir’, porque era em uma ladeira

P. Mas a ciclofaixa de lazer não é uma solução para problemas de mobilidade.

R. Não, não é. Acho que você tem que enfrentar o problema primeiro culturalmente. É preciso discutir com as pessoas se essa é a solução. Porque São Paulo tem um problema sério, a cidade não é plana. Outro dia vi uma ciclofaixa que pensei: "Essa é só para descer, e não subir", porque era em uma ladeira. A ciclovia é parte da solução para o problema de mobilidade de São Paulo. Eu não vejo problema. A bicicleta é saudável. Mas precisa ser rediscutido. Se você não tem alguns agentes que usam, você não chega ao ponto de ver o que é racional ou não.

P. Mas qual seria a sua solução para o problema?

R. Conversando com um senhor enquanto eu tomava café na padaria, ele me disse: "Tenho uma ideia interessante. Sabe o que podia ser feito em São Paulo e que ajudaria bastante a questão do transporte? A transposição de pessoas". Como funciona isso: se você tem uma pessoa que é caixa de banco, mora na zona leste e trabalha na zona sul, você vai ter outra que mora na zona sul e trabalha na zona leste. No mesmo emprego. Você só troca a pessoa de posição. Ele vai trabalhar a um quarteirão de casa, ou então pegará uma condução. Você podia pegar o comércio, que contrata em grande volume, mercados, bancos, Prefeitura, etc, e recolocar as pessoas mais próximas de seus trabalhos. Achei interessante, porque é uma novidade. Pode ajudar a diminuir o fluxo, de pessoas. Todos os dias, um Uruguai de pessoas sai da zona leste para trabalhar. São três milhões de pessoas que saem da zona leste todos os dias para trabalhar. Se você fixa um terço disso na região, você já ajudou muito a questão da mobilidade.

P. Seria viável a transposição de pessoas?

R. É questão de você estudar. Não custa levar para o estudo. Se foi um cidadão que me apresentou esta ideia, numa padaria tomando um café, é sinal que ele vive o dia a dia e sabe dos problemas da cidade. É preciso levar isso em consideração. Aí com o término do estudo você apresenta para a sociedade. Não podemos ficar presos às questões antigas. As coisas convencionais, vamos melhorar as que existem, mas vamos pensar em coisas novas. Agora, ouvindo. Vou ouvir muito. Acho que é importante que as pessoas possam participar. Não pode ser programa de governo que quando você tira cópia dos programas de diversos partidos e é tudo igual. Isso eu não vou fazer.

P. O senhor usa transporte público?

R. Uso o metrô de vez em quando. Aqui na Vila Madalena [zona oeste] tem metrô, e às vezes vou para o centro da cidade assim.

P. Como avalia o serviço?

R. O metrô é bom. Interessante quando você preserva e cuida as pessoas não depredam. Os ônibus antigamente todo mundo depredava, rasgava o banco...

P. O preço da tarifa, 3,80 reais, é adequado para o que o serviço entrega?

Você só troca a pessoa de posição. Ele vai trabalhar a um quarteirão de casa, ou então pegará uma condução.

R. Você precisa pegar o índice de passageiro por km, para ver se deve subsidiar ou não. Ver quem está utilizando, se tem condições de pagar ou não. Para não levar déficit para ninguém mas também para não achatar o coitado do trabalhador, que às vezes pega mais de uma condução. O que falta é diálogo. Ser franco. Você não pode tocar goela abaixo algo que você acha [como o reajuste da tarifa]. Não, você discute antes. O transporte precisa ser de qualidade.

P. A questão do passe livre nos transportes públicos é viável? O atual prefeito afirmou que a medida custaria praticamente a arrecadação total do IPTU, cerca de oito bilhões...

R. É uma questão que tem que ser discutida. Qual o volume de pessoas que utilizam esse transporte mas não tem condições de pagar? Essa é a questão mais importante. Não adianta liberar para todo mundo, quem pode pagar estará não pagando pelo outro. O que é publico é de todos. Passe da juventude, do Idoso... Na minha opinião tem coisas mais importantes. Como incluir o idoso na sociedade. O Brasil tem uma visão equivocada. A longevidade aumentou muito, e a pessoa quando envelhece leva com ela a experiência. Porque já erraram muito e acertaram muito. Quando a pessoa está capacitada para ensinar, para passar para frente esse conhecimento ela se aposenta. São Paulo não é uma cidade preconceituosa. É preciso pensar grande, pensar no futuro.

P. Por que o paulistano escolherias um prefeito ambientalista? Existem tantos outros problemas na cidade, como falta de escolas, creches, ônibus lotados...

R. O paulistano busca qualidade de vida. Esse é o foco, o caminho, Disso não podemos abrir mão. Eu ia para a periferia 20 anos atrás, e as pessoas pediam emprego. Hoje pedem área de lazer na região onde elas moram. A pessoa não quer mais sair da zona norte para ir ao Parque do Carmo, na zona leste, não quer sair da zona leste para ir ao Ibirapuera, na zona sul. As pessoas querem isso, qualidade de vida.

P. Você foi secretário do Meio Ambiente da gestão de Mário Covas e de parte da primeira gestão do Alckmin. Como você avalia a gestão ambiental do Governador, levando em conta os milhões que já foram gastos por sucessivos governos tucanos para despoluir os rios Tietê e Pinheiros, a crise hídrica, etc.

R. O Governo do Estado tem como missão emitir políticas públicas ambientais. As questões locais demandam as prefeituras cuidarem. Você não pode ter um direcionamento político na cidade de São Paulo se não tiver interface com o Ibama do Governo Federal. Você às vezes tem o duto da Sabesp [que é do Estado], mas não tem os coletores, que seriam responsabilidade da Prefeitura. Coleta de lixo, quem licencia o aterro é o Estado, mas quem utiliza é o município.

P. Mas o que faltou para despoluir os rios?

R. Tive um problema sério, quando estava no fim do meu mandato. O PT ganhou na Justiça federal uma liminar. Eles não queriam que nós bombeássemos água potável para a Billings. E não tinha como... Fiquei dois anos com Covas e dois anos com o Alckmin. Tentamos a todo custo demonstrar que a água que seria bombeada era de melhor qualidade do que a da Billings, logo não teria problema. Usaríamos um sistema de flotação e com isso estaríamos limpando o rio Pinheiros. Isso seria emblemático. Fizemos essa intervenção, a discussão ficou muitos anos, um procurador federal foi muito mal assessorado, acho até que um pouco ligado a questões politico-partidárias, e contaminou o processo. Acho que eles tinham recesso de que naquela época, a gente despoluindo o Pinheiros, seria um grande cartão de visitas da gestão. E seria mesmo.

Vamos convencer as montadoras de que o carro elétrico será muito bem vindo aqui

P. Na condição de prefeito-ambientalista, você pensa em fazer alguma restrição à circulação de carros no centro ou algo do tipo?

R. Não sei, vai depender. É preciso ouvir os atores. Como você pode em uma cidade com o volume de automóveis que temos dizer que será inimigo do carro... Você tem que implantar uma cultura, rodízio.

P. Não é uma contradição um ambientalista não ser inimigo dos carros?

R. Não! Existem carros elétricos! Vamos convencer as montadoras de que o carro elétrico será muito bem vindo aqui. É uma maneira de mudar a cultura das pessoas.

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