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Coreia do Norte anuncia que realizou teste com bomba de hidrogênio

Equipes sismológicas detectaram um tremor de magnitude 5,1 no norte do país

Foto: reuters_live | Vídeo: Reuters Live! / AFP
Macarena Vidal Liy

A Coreia do Norte deu um salto qualitativo em sua série de desafios à ordem internacional. Em uma declaração televisionada, o regime de Pyongyang anunciou ter realizado com sucesso o seu quarto teste nuclear, o primeiro usando uma bomba de hidrogênio, muito mais potente que os artefatos atômicos lançados em 1945 contra Hiroshima e Nagasaki.

Pyongyang “se integrou com confiança às fileiras das potências nucleares possuidoras de bombas de hidrogênio ao executar com perfeição um teste histórico de uma bomba H” miniaturizada, disse a apresentadora Ri Chun Hui num “anúncio especial” feito pela emissora estatal de TV da Coreia do Norte.

O teste ocorreu às 10h desta quarta-feira (23h30 de terça em Brasília). O Departamento de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) detectou nessa hora um tremor de magnitude 5,1 no nordeste da Coreia do Norte, na região de Kilju, onde o regime realizou os três testes nucleares anteriores.

Gráfico das provas nucleares anteriores.
Gráfico das provas nucleares anteriores.

O teste ocorre a apenas dois dias do aniversário do líder supremo norte-coreano, Kim Jong-un, e pouco menos de um mês depois de o próprio Kim afirmar que seu país já contava com a bomba H. Na ocasião, suas declarações foram recebidas com ceticismo por especialistas ocidentais, que consideravam que Pyongyang ainda não contava com uma tecnologia suficientemente avançada.

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Segundo a agência oficial de notícias do país, a KCNA, Kim Jong-un deu seu aval para o teste em 15 de dezembro. A TV local divulgou uma imagem da ordem assinada pelo líder supremo. “Que o mundo veja este Estado forte, autossuficiente, de posse da bomba nuclear”, diz o texto.

Diferentemente das bombas nucleares, acionadas pela fissão dos núcleos de átomos de plutônio ou urânio, a bomba de hidrogênio, também chamada termonuclear, funciona com base na fusão dos átomos de hidrogênio para gerar uma explosão. Trata-se de uma técnica muito mais complexa, que também exige um processo inicial de fissão, mas que resulta em uma arma muito mais potente.

O que é uma bomba de hidrogênio?

Enquanto as bombas atômicas se baseiam na fissão dos núcleos dos átomos de plutônio e urânio, a bomba de hidrogênio (bomba H) – ou termonuclear – baseia seu processo na fusão dos átomos de componentes do hidrogênio para gerar uma explosão nuclear.

É uma técnica muito mais complicada e que precisa de um processo de fissão inicial, mas que resulta em uma arma muito mais potente. Seu poder é devastador. A força de sua explosão equivale, de acordo com os especialistas, minimamente a 50.000 toneladas de TNT.

Dada a maior eficiência e a alta capacidade destrutiva dos dispositivos termonucleares, estima-se que todas as armas atômicas disponíveis atualmente nas mãos dos cinco países que têm arsenais e são signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China) são desse tipo.

As bombas de hidrogênio nunca foram utilizadas.

Depois do anúncio norte-coreano, os especialistas se dividiram a respeito da veracidade do relato e das chances de que Pyongyang conte com uma arma termonuclear. Os que duvidam de que se trate de uma bomba H completa afirmam que o tremor resultante do teste não teve a potência esperada. O terceiro teste nuclear norte-coreano, em 2013, também havia gerado um sismo de magnitude 5,1.

“É difícil considerar este teste como sendo o de uma bomba de hidrogênio”, declarou uma fonte militar sul-coreana à agência de notícias do seu país, a Yonhap. “Só alguns poucos países, incluindo os EUA e a Rússia, realizaram testes de bombas de hidrogênio, e as detonações alcançaram entre 20 e os 50 megatons”, disse a fonte, que calcula que a detonação da quarta-feira tenha sido de apenas 6 quilotons. Um quiloton é a potência equivalente à detonação de mil toneladas de dinamite; um megaton representa mil quilotons.

Uma possibilidade mencionada por alguns especialistas é que se trate de uma bomba a meio caminho entre uma atômica e uma termonuclear, ou seja, uma bomba que utilize um processo de fissão reforçado, na qual possivelmente se introduziu algum isótopo de hidrogênio.

“Parece que a Coreia do Norte obteve uma bomba nuclear reforçada, que está a meio caminho para o desenvolvimento de uma bomba H. Os países que têm bombas atômicas tentam obter bombas reforçadas, mas é difícil obter os materiais para fabricá-las”, declarou Lee Chun-geun, pesquisador do Instituto de Política Científica e Tecnológica da Coreia do Sul, ao site especializado NK News.

O novo teste nuclear do regime de Pyongyang, o segundo sob o mandato de Kim Jong-un, foi condenado de forma generalizada na comunidade internacional. Pyongyang, um dos regimes mais isolados politicamente do mundo, utiliza periodicamente os testes de armas nucleares e de mísseis balísticos para tentar obter concessões dos EUA e Coreia do Sul, países que considera serem seus principais inimigos. O regime também considera que o programa nuclear é uma espécie de seguro de vida contra qualquer tentativa de desestabilização.

A Casa Branca declarou que não tem como confirmar se a Coreia do Norte de fato testou uma bomba de hidrogênio, mas observou que reagirá de maneira adequada a qualquer provocação. Em Tóquio, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, descreveu o teste como uma “grave ameaça à nossa segurança nacional, que em nenhum caso podemos tolerar”.

A China, tradicionalmente o principal aliado de Pyongyang, também expressou sua condenação. Em uma etapa de frieza entre ambas as capitais, o Ministério de Relações Exteriores chinês indicou que convocará o embaixador norte-coreano em Pequim para manifestar seu protesto. Moradores chineses na zona fronteiriça foram retirados de suas casas após o tremor.

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