Atos de islamofobia triplicam na França em 2015
Um dos piores surtos de islamofobia aconteceu no em um bairro da cidade de Ajaccio
Os atos de islamofobia, principalmente ameaças e pichações contra muçulmanos, dispararam na França em 2015, ano marcado pelos ataques jihadistas em Paris em janeiro e novembro. A Delegação Interministerial de Combate ao Racismo e o Antissemitismo (Dilcra), subordinada ao gabinete do primeiro-ministro, estima que em 2015 serão contabilizadas mais de 400 agressões desse tipo, três vezes mais do que em 2014. A cidade de Ajaccio, na ilha da Córsega, viveu no fim de semana passado dois dias de manifestações islamofóbicas.
As agressões contra muçulmanos que se registraram na França em 2015 foram físicas em algumas ocasiões, mas consistiram principalmente em saques e profanações de locais de culto –por exemplo, a colocação de cabeças de porco diante das mesquitas–tentativas de incêndio, insultos a mulheres que usam o véu islâmico e discursos de chamamento ao ódio.
“Não há uma tipologia clara e muitos atos são ameaças e pichações antimuçulmanas cujos autores muitas vezes não são identificados”, explica Gilles Clavreul, responsável pelo organismo oficial de luta contra o racismo. Os autores costumam ser, principalmente, membros de grupos de extrema direita, de acordo com Clavreul. No total, em 2013 foram registrados 133 ataques deste tipo, frente a mais de 400 em 2015. Os dados, ainda provisórios, podem estar subestimados, admite Clavreul, porque nem todas as vítimas denunciam os ataques.
Um dos piores surtos de islamofobia aconteceu na semana passada no bairro popular de Jardins de l’Empereur, na cidade de Ajaccio, na Córsega. Centenas de pessoas se manifestaram durante dois dias com slogans como “estamos em nossa casa” e “árabes fora”. No dia 25 à noite, um grupo chegou a saquear uma sala de oração muçulmana e um restaurante de kebab.
No início, a manifestação se apresentou como uma concentração pacífica de apoio a dois bombeiros e um policial feridos na véspera; cerca de vinte encapuzados os haviam atacado com bastões de beisebol e barras de ferro depois de atraí-los para o lugar com um incêndio provocado.
“Na Córsega, não cabe a violência nem o racismo”, disse no dia 29 de dezembro o ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, que visitou tanto o quartel dos bombeiros que sofreram os ataques da véspera do Natal como o bairro de Jardins de l’Empereur. “Quero expressar minha mais forte desaprovação a quem perpetrou atos antimuçulmanos, racistas e xenófobos”, afirmou. A segurança será reforçada na cidade e especialmente no bairro afetado pelos incidentes.
Para Clavreul, o aumento dos atos islamofóbicos em todo o ano é consequência direta dos atentados terroristas jihadistas de Paris: os de janeiro contra a revista satírica Charlie Hebdo e um supermercado judaico, nos quais 17 pessoas morreram, e os cometidos em novembro, que mataram 130 pessoas. Os ataques islamofóbicos foram muito mais numerosos depois do primeiro ataque (76) do que após o segundo (34).
“Parece que houve uma tomada de consciência coletiva de que os responsáveis não são os muçulmanos da França, mas de que se trata de jihadistas organizados e coordenados de fora”, interpretou o ministro. A natureza indiscriminada dos ataques de novembro contra um estádio de futebol, vários terraços e uma sala de concertos, e nos quais diversos muçulmanos estão entre as vítimas, “deixou claro que era um atentado contra o conjunto da comunidade nacional”, acrescentou.
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