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Deputados de seis siglas pedem a STF afastamento de Cunha na Câmara

No dia do acosso da PF, peemedebista comanda sessão na Casa e ignora os adversários

Cunha durante entrevista coletiva.
Cunha durante entrevista coletiva.Andressa Anholete (AFP)

Quase todas as vezes que um parlamentar usa da palavra na Câmara dos Deputados para pedir a renúncia de Eduardo Cunha ou para simplesmente criticá-lo, o presidente da Casa tem a típica atitude de ignorar o orador. Ou faz cara de paisagem ou conversa com qualquer um que aparecer do seu lado. Isso ocorreu em ao menos três ocasiões nesta terça-feira, o dia que a Polícia Federal vasculhou suas casas durante a operação Catilinária, um desdobramento da Lava Jato.

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Quando a bancada do PSOL apresentou nova carta em que pede seu afastamento, Cunha virou de costas para o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), e começou a papear com dois senadores que visitavam a Câmara. Alguns dos  deputados que assinam o documento —que inclui nomes também do PT, Rede, PSB, PPS e PCdoB— também tentaram emplacar em seus discursos em plenário parte dos argumentos do texto em que apelam ao Supremo Tribunal Federal que afaste Cunha por usar as funções que ocupa para se proteger. O presidente da Casa permaneceu impassível liderando a sessão.

Enquanto ignora seus adversários, Cunha usou o dia para vociferar contra o PT e a Procuradoria-Geral da República. Poucas horas depois de ter sua casa revirada pelos policiais federais em cumprimento a um dos 53 mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça dentro da Catalinária, Cunha manteve sua rotina. Almoçou com líderes partidários em sua casa e garantiu a eles que não renunciaria ao cargo. Assim que chegou à Câmara, à tarde, caminhou entre seus seguranças até o púlpito onde costuma falar diariamente com uma horda de jornalistas no salão verde. De lá disse ser “absolutamente inocente”, que estranha que a operação tenha acontecido no mesmo dia em que o Conselho de Ética votaria o seu caso e na véspera do Supremo Tribunal Federal analisar o rito do impeachment em sessão plenária.

“Todo dia tem denúncia do PT. Como o povo é inteligente e sabe que o dia de hoje é o dia do Conselho de Ética e a véspera da decisão sobre o impeachment, sabe que tem alguma coisa estranha no ar”.

Especialista em atacar quando é atacado, Cunha disse que a estratégia do Governo Dilma Rousseff (PT) é jogar os holofotes nele e em seu partido: “O Governo quer desviar a mídia do processo de impeachment e colocar em mim e no PMDB a concentração dos atos. Nada mais natural do que ele querer buscar revanchismo”.

O clima bélico dele tem contagiado parte dos funcionários da Casa. Nesta terça-feira, Evelyn Silva, uma secretária parlamentar do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), estava calada, segurando uma camiseta com os dizeres “Fora Cunha” nas proximidades da entrada principal do plenário da Câmara e assistindo a entrevista coletiva do peemedebista. Um agente da Polícia Legislativa tomou sua camiseta e quando ela foi pegá-la de volta, levou um soco e um empurrão, caindo. “Esta é a polícia do Cunha, que agride mulheres que estão exercendo seu legítimo direito de manifestação”.

Não foi o primeiro caso. Na semana passada, no corredor de acesso ao plenário onde ocorria uma das inconclusas reuniões do Conselho de Ética, um grupo de cinco jovens levantou cartazes contra Cunha e foi abordado de maneira agressiva por policiais legislativos. Aos berros e segurando um deles firmemente pelos braços, determinaram que os cartazes não poderiam ser distribuídos, nem erguidos atrás de deputados que davam entrevistas para emissoras de TV. Depois de muita discussão, só permitiram que eles continuassem no local se escondessem a parte do cartaz que tinha a frase #ForaCunha.

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