PMDB anti-Dilma quer usar ação da Lava Jato para defender rompimento
Comportamento de vice Temer e de Renan, que tem acenado ao Planalto, serão definidores
Engana-se quem pensa que o Planalto só tem motivos para comemorar as operações da Polícia Federal desta terça-feira, que colocaram contra a parede o inimigo declarado do Governo Eduardo Cunha. A operação Catilinárias — voltada contra alvos da Lava Jato com foro privilegiado — mirou não apenas o presidente da Câmara, mas também ministros do PMDB e políticos ligados ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aliado do Planalto. Se por um lado as ações da PF podem precipitar a derrocada de Cunha, principal artífice do impeachment de Dilma Rousseff e grande alvo das operações desta terça, a Catilinárias tem potencial de imprimir mais força aos que defendem que a maior bancada do Congresso fique definitivamente fora do Governo — e contra ele.
Neste momento, é o vice-presidente Michel Temer quem reforça seu papel como grande liderança do PMDB e com poder para definir a balança. Ao contrário de Cunha e Renan, não pesam contra ele denúncias da Lava Jato —por ora. Um termômetro disso foi a agenda de Temer nesta terça. Ele se reuniu com as duas alas do partido: tanto a que defende a saída de Dilma Rousseff como os que querem a permanência no Governo. Em sua diatribe contra o Planalto, Cunha afirmou, como esperado, que “o PMDB tem que decidir rapidamente a sua saída" da base. Mais tarde, foi a vez da Fundação Ulysses Guimarães, influente e ligada ao PMDB, entregar carta a Temer que "traz conteúdo de apoio ao vice-presidente em reafirmar a independência do PMDB ao formular caminhos que devem ser adotados para o bem estar da nação”, informou-se no Twitter oficial da organização.
O que está em jogo são os próximos passos da sigla. Temer, que também preside o PMDB, reúne nesta quarta a executiva do partido em meio à expectativa de parte da legenda de que a operação da Polícia Federal ajude a antecipar o convenção nacional do partido, que estava prevista para março, com o objetivo justamente de discutir o desembarque definitivo da legenda.
Se o Governo continuar agindo somente contra o nosso partido, ele estará antecipando um desembarque do PMDB de sua base"
Congressistas do PMDB dizem que o rompimento com o Governo pode, inclusive, ocorrer nas próximas semanas. Uma das estratégias para obter o resultado é evitar que Leonardo Picciani, o ex-líder do partido pró-Dilma que foi apeado do cargo na semana passada, retorne à função. O primeiro movimento da ala pró-Governo era engordar o PMDB filiando novos deputados e fazendo com que alguns peemedebistas que estão afastados retornem à Câmara e garantir a recondução. O plano, contudo, já começou a sofrer retaliações. Os deputados Altineu Côrtes (PR-RJ) e Nelson Nahim (PSD-RJ) tiveram suas filiações ao PMDB barradas nesta semana. Ambos serão submetidos a uma análise do diretório nacional para decidir se os "estrangeiros" serão aceitos. O vice-líder peemedebista na Câmara afirmou que "se o Governo continuar agindo somente contra o nosso partido, ele estará antecipando um desembarque do PMDB de sua base".
Efeito no Senado e coesão
“O Temer tem muito mais controle sobre a bancada do que o grupo político do PMDB carioca, de Eduardo Paes, Pezão, e de Picciani”, diz David Fleischer, cientista político da UnB. Ontem o prefeito do Rio de Janeiro defendeu Dilma e atacou a ala peemedebista ligada ao vice-presidente. Para o professor, esse posicionamento não encontra eco em outros caciques do partido. “Temer se fortalecerá em um cenário onde sua legenda ficará com raiva do Governo. Isso em um cenário onde os ânimos já estavam acirrados após a tentativa de recondução do Picciani à cabeça da bancada”, afirma.
Para Fleischer, ao mirar o ex-ministro e senador Edison Lobão (PMDB-MA), e o diretório estadual peemedebista de Alagoas, reduto eleitoral de Renan, a Lava Jato pode provocar uma “radicalização do PMDB no Senado”. Para o Planalto, abertura de uma nova frente de atrito político seria uma grande derrota, uma vez que existe a possibilidade de que a palavra final do impeachment fique nas mãos desta Casa legislativa. Até o momento, Renan tem tido uma atuação moderada, com alguns acenos ao Governo, mas a Catilinária pode mudar esse cenário. “Até agora a Procuradoria Geral da República estava demorando para avançar nos inquéritos contra o Renan. Acho que as operações no diretório do partido são um tiro de aviso de que ele será a bola da vez”, afirma o professor.
Os destinos do impeachment
O cientista político Ricardo Caldas diz que a ação da Polícia Federal contra quadros do PMDB pode fazer com que haja uma “coesão pró-impeachment” dentro da legenda. “O cálculo político dos deputados pode ser o de que precisam apoiar o partido neste momento de crise, tendo em vista que cabe à executiva deixar ou não que disputem a reeleição na chapa peemedebista no próximo pleito”, afirma.
A Lava Jato pode provocar uma “radicalização do PMDB no Senado”
O processo do afastamento de Dilma está parado depois que o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fachin aceitou pedido de liminar para sustar a sessão onde foi eleita uma chapa anti-Dilma para a Comissão Especial do Impeachment na Câmara. A corte deve voltar a se posicionar sobre o assunto nesta quarta.
Se Caldas está correto, é um revés maiúsculo para o PT, na opinião de seu colega Cláudio Couto, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “O PT precisa do apoio de parte do PMDB para conseguir barrar o afastamento de Dilma no plenário da Câmara”. De acordo com Couto, mesmo em caso de ruptura da legenda com o Governo, é provável que alguns peemedebistas continuem contrários ao impedimento da mandatária. “Vai depender do desgaste adicional que o Governo sofrer até que o processo se desenrole”, afirma Couto, que cita como variáveis importantes a crise econômica, a impopularidade da presidenta — pesquisa CNI/Ibope divulgada hoje aponta que apenas 9% consideram a gestão Dilma ótima — e a própria perda de apoio político, “que tem um efeito bola de neve”. Ele acredita ainda que parte da bancada pode bandear para o lado favorável ao impeachment por retaliação, “por acreditar que houve o dedo do PT na ação da PF”. “Tudo isso pode precipitar mudanças na opinião dos deputados fiéis ao Planalto. Diante da percepção de que não há muito a perder, pelo menos podem tentar obter o controle do Governo”, diz. Na equação, lembra Caldas, ainda não se pode descartar o fator Cunha: “Ele ainda controla uma bancada. Uma bancada cada vez mais constrangida, mas fiel”.
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