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“Cunha vai durar menos tempo que o pedido de impeachment de Dilma”

Para Thiago de Aragão, processo para depor Dilma levará até sete meses Brasil terá mais um ano de paralisia, avalia o cientista político

Carla Jiménez
Thiago Aragão, cientista político da Arko Advice
Thiago Aragão, cientista político da Arko Advice

O cientista político Thiago de Aragão, da Arko Advice, dizia, semanas atrás, que o Brasil havia chegado a um ponto onde a certeza do disparate supera a expectativa da normalidade. Nesta quarta, o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, deflagrado pelo presidente Eduardo Cunha no mesmo dia em que o Conselho de Ética mostrava rechaço a sua permanência no cargo pelas denúncias de corrupção, parece ser mais um disparate da política brasileira.

Pergunta. Qual a chance do impeachment prosperar e a Dilma cair?

Resposta. A chance ainda está em aberto. Obviamente, a chance de ocorrer se aproxima, pois o primeiro passo foi dado. O que definirá não é possíveis acordos e lealdades dentro da Câmara, mas a pressão das ruas e da imprensa que levará os deputados a tomarem suas decisões. Essas decisões virão das pressões populares e não das alianças frágeis que foram mal formuladas por esse Governo.

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P. Ela tem margem de manobra?

R. A margem de manobra do Governo sempre é oferecer uma maior participação de alguns grupos na máquina estatal. O problema é quando existe 100% de recursos para 300% de demandas. Um presidente com credibilidade compensa a falta de recursos com carisma, com política. A Dilma não, isso gera um rastro de insatisfação que diminui a margem de manobra dela.

P. O que acontece com a política brasileira agora?

R. A política brasileira se volta para um grande tópico em um momento em que temos vários grandes assuntos para resolver. Muita agenda para poucos líderes. A política fica enclausurada na agenda da crise, sem conseguir avançar o básico e o necessário. O impeachment de Dilma não deve ser celebrado nem pela oposição. Se chegamos nesse ponto, significa uma fase difícil para todos.

P. Em quanto tempo se define o impeachment?

R. O impeachment levará meses. Provavelmente seis, sete meses. Existem procedimentos, como a comissão especial e a possibilidade de defesa da presidente, mas existirão debates políticos intensos que consumirão a agenda. Não é um caminho simples. Ninguém ganhará e, se já perdemos um ano afogados na ineficiência e em múltiplas crises, perderemos mais outro.

P. O que acontece com projetos essenciais para a economia no Congresso?

R. Os projetos essenciais na área da economia andarão. Afetados pelo clima de impeachment mas andarão. Outros, importantes mas sem grande repercussão, serão penalizados e esquecidos temporariamente. Vejo temas de economia no primeiro nível. Há um consenso de sua importância. O resto, infelizmente virará resto.

P. E Cunha? O que acontece com ele?

R. Cunha durará menos tempo que o processo de impeachment. São coisas separadas. Ele pode ter agido por vingança? Pode. Ele pode ter agido com base na tecnicalidade? Pode também. Não importa. Cunha seguirá um caminho paralelo onde as chances de sobreviver se reduzem. Ele não tem mais margem para negociar com o Governo e já fez o que a oposição queria.

P. Na linha sucessória, caso Dilma saia, é o vice-presidente, Michel Temer, quem deve assumir. A Lava Jato pode embaralhar esse processo de sucessão?

R. Sim, é Temer. Não vejo a Lava Jato embaralhando. O caminho do TSE é um caminho longo, cinza e improvável. Caso Dilma realmente se vá, Temer terminará o Governo.

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