A educação sentimental de Geraldo Alckmin
Se é preciso deixar bem claro e justificado o motivo para fechar uma escola que seja no Brasil, o que dizer de mais de 90?
Depois de cerca de 200 escolas espalhadas pelo Estado de São Paulo terem sido ocupadas e de os alunos terem tomado as ruas da cidade em protesto, a reorganização escolar paulista foi suspensa. A mobilização dos estudantes da rede estadual de ensino foi uma reação ao plano que previa o fechamento de 93 escolas. E não é que eles estivessem se posicionando contra o plano, porque, a julgar pelo que dizem, os alunos não o conhecem. Daí a pergunta: se em um país com o histórico educacional do Brasil é preciso deixar bem claro e justificado o motivo para fechar uma escola que seja, o que dizer de mais de 90?
Ninguém elabora um projeto educacional pra fechar dezenas de escolas por pura maldade — ou imaginando que o ensino vá piorar em consequência disso. Então, poupemos por enquanto o secretário Herman Voorwald em relação ao plano. Até porque o membro do Governo Geraldo Alckmin já foi condenado em julgamento popular pela falta de transparência desse processo. À sombra das meninas em flor que desabrocharam pelas ruas do país nesta primavera, já devia estar bem claro às autoridades e gestores públicos que não dá mais para ignorar a população, principalmente em decisões que afetam diretamente a vida das pessoas.
Essas pessoas que vão para as ruas e ocupam espaços públicos não estão necessariamente corretas em suas demandas ou opiniões. Na maioria dos casos, inclusive, devem estar erradas — não são especialistas em educação, em deposição de presidentes ou segurança de barragens, só para ficar nos últimos acontecimentos. Mas o fato de estarem saindo às ruas sem a tradicional mobilização partidária é um ótimo indicativo de vontade de participar. E o caso das escolas de São Paulo, mais do que qualquer outro dos motivos que geraram protestos neste ano, parece o mais emblemático da distância entre o poder público e a população.
Isso ficou claro nas propostas do Governo para negociar com os estudantes que ocupam as escolas. A Secretaria de Educação de São Paulo basicamente se propôs, em sete diferentes tópicos, a informar as escolas sobre o plano e ouvir a opinião de grêmios, associações de pais e conselhos escolares acerca do projeto. Se esses procedimentos já não haviam sido feitos, resta perguntar aos responsáveis o que exatamente eles fizeram para elaborar a reorganização. Porque se as escolas não são posse dos alunos que as tomaram, também não pertencem aos governos que vêm e vão, e muito menos aos que simplesmente permanecem, anos a fio.
Em meio a tudo isso, o governador que, especula-se, pretende virar presidente da República em 2018, seguiu impassível, tocando sua agenda normalmente por semanas até optar pela suspensão, na esperança de que os encontros entre estudantes e policiais pelas ruas da cidade — que só renderam imagens diárias de jovens feridos — resolvessem um problema criado dentro dos gabinetes do próprio Governo. Por mais brilhante e efetiva que a reorganização escolar pudesse vir a se provar, aparentemente ela foi sepultada pela falta de traquejo político-social dos responsáveis pelo projeto. Para quem ainda tem alguma ambição política, essa não pode ser uma lição tão difícil de aprender — ou pelo menos decorar.
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