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Vale se esquiva de responsabilidade em Mariana e promete fundo para rio

Companhia, acionista da mineradora Samarco, não informou quanto pretende investir

Diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira.
Diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira. TASSO MARCELO (AFP)

A pressão sobre a Vale por causa da tragédia de Mariana cresce e a maior mineradora do mundo age para conter os danos em sua imagem. Apesar de repetir que, legalmente, não pode ser responsabilizada pelo rompimento da barragem de rejeitos da Samarco, da qual é acionista, a Vale  informou que irá criar um fundo voluntário para resgatar e recuperar o rio Doce. Após o desastre, o curso d’água foi fortemente afetado pelo tsunami de rejeitos que escoou até a foz do rio, no Espírito Santo. A companhia não revelou, no entanto, quanto investirá no projeto que também terá a participação da BHP, a outra acionista da Samarco, e deve contar com apoio financeiro de outras organizações.

O anúncio foi feito pelo diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira, em entrevista coletiva na sede da Vale no Rio. O executivo aproveitou o momento  para defender a Vale das críticas sobre a atuação da empresa após o a tragédia. “Tenho certeza que estávamos totalmente comprometidos em ajudar naquilo que foi possível", disse.

Ferreira tratou, no entanto, de distanciar a Vale da Samarco, ressaltando a posição de acionista da companhia e afirmou que, por questões concorrenciais, não pode interferir nas operações da mineradora. "Quando a gente diz que não tem interferência direta na Samarco, é porque não podemos. Nunca fui ao escritório da Samarco em Belo Horizonte ou em suas operações em Mariana por questões de governança", garantiu.

No entendimento dos executivos da Vale, a empresa não tem responsabilidade sobre a tragédia em Mariana que deixou, até o momento, 13 mortos e oito desaparecidos. “A Samarco é uma empresa grande. Ela tem recursos para arcar com problemas em suas operações”, afirmou Clovis Torres, diretor de integridade corporativa, que garantiu que a Vale só poderia ser responsabilizada caso a Samarco não fosse capaz de arcar com os prejuízos. Ressaltou que “não há de se falar em negligência nesse momento”.

A companhia afirmou ainda que realizou novas vistorias em suas barragens após a tragédia e que estão todas em boas condições. A Vale tem 168 barragens no Brasil, sendo 123 só em Minas Gerais. A companhia explicou também que tem plano para reduzir a produção de rejeito, para diminuir a construção de barragens.

Torres disse ainda que foi um "equívoco" as declarações do juiz Frederico Esteves Duarte Gonçalves, de Mariana, sobre o sumiço de 292 milhões de reais da conta da Samarco. Segundo ele, a mineradora mantém seus recursos no exterior e precisaria de certo tempo para trazer ao Brasil o montante para cobrir o dinheiro que foi bloqueado pela Justiça. No dia 13 deste mês, Gonçalves havia deferido uma liminar para o bloqueio de 300 milhões de reais em conta da empresa porém, segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, foram encontrados apenas 8 milhões.

Rejeitos da Vale

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Sobre a Vale ter lançado parte de rejeitos de uma mina na barragem de Fundão, que se rompeu no dia 5 de novembro na região de Mariana, o diretor-executivo da Vale, Peter Poppinga afirmou que não há irregularidades na operação. “A Vale lançou entre 4% e 5% de rejeitos na barragem de Fundão. Para isso, a Samarco definiu um local fixo onde a Vale poderia fazer este deposito, e a Vale pagou por isso. É a Samarco que direciona o fluxo do rejeito”, disse, sobre a utilização revelada pela Folha. Sobre a investigação da tragédia, ele afirmou não ter informações sobre as causas.

A companhia, assim como a Samarco, negou a contaminação da água por elementos tóxicos nos rejeitos que vazaram da barragem de Fundão. No entanto, um relatório sobre a qualidade do Rio Doce apontou presença de metais pesados acima do limite legal nas áreas atingidas pela lama. De acordo com a diretora de Recursos Humanos, Saúde e Segurança, Sustentabilidade e Energia da Vale, Vania Somavilla, os elementos químicos não estariam dentro da barragem, mas nas margens e no fundo do rio, e acabaram sendo misturados à água pela passagem do volume de lama. Segundo Somavilla, esses materiais não se dissolvem na água, e que por isso não teria gerado contaminação.

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