Bataclan, uma casa de shows histórica de Paris
Local atacado pelos terroristas funcionava desde meados do século XIX
O Bataclan, a casa de espetáculos onde os terroristas fizeram reféns na onda de ataques desta sexta-feira em Paris, entrou para a mitologia do rock lá por 1972. Em 29 de janeiro daquele ano, ali se reuniram Lou Reed, John Cale e Nico. Ou seja, os três elementos mais visíveis da primeira formação do The Velvet Underground, que não pisavam no mesmo palco desde 1967. O concerto foi transmitido pela televisão e quase imediatamente se tornou um dos mais vendidos no mercado dos bootlegs (discos piratas com material inédito). Apesar de suas deficiências, a gravação foi tão popular que chegaram a ser publicados até mesmo, atenção, os ensaios prévios ao concerto.
Na realidade, o Bataclan parisiense, que inspirou o nome do Bataclan de Ilhéus (BA), imortalizado por Jorge Amado em Gabriela Cravo e Canela, fazia parte da história de Paris desde sua inauguração, em 1865. Destacava-se entre os edifícios do distrito 11 por sua arquitetura vistosa, inspirada nos pagodes chineses. Seu nome derivava de Ba-ta-clan, uma opereta de temática oriental estrelada em 1855 pelo popularíssimo Jacques Offenbach. No térreo, funcionava como barzinho, além de oferecer salas de bilhar; seu primeiro piso acolhia uma pista de dança.
Depois de várias reformas, o Bataclan terminou especializando-se em shows de variedades e teatro de revista; de fato, o nome se identificou de tal forma com a “alegre Paris” que até se formaram companhias para fazer turnês por outros países; em algumas latitudes, o próprio nome passou a designar espetáculos picantes. Mais exoticamente, também acolheu antigos heróis reconvertidos em figuras do show business, como Buffalo Bill. Maurice Chevalier foi um dos chansonniers que fizeram sua fama ali.
Já no século XX, o local superou um incêndio, várias reabilitações e longos períodos em que funcionou como cinema. A partir de 1969, foi reciclado em casa de espetáculos que também apresentava humoristas e servia de discoteca (como explicava sua página na Internet, oferecia “Concerts, spectacles et soirées”). Seu endereço (Boulevard Voltaire, 50) era bem conhecido entre o público do rock: ali se apresentaram grupos em ascensão, como Oasis, ou superestrelas da categoria de Prince, quando queriam oferecer um show intimista. Ali foram gravados numerosos discos ao vivo, assinados por artistas tão variados como Jeff Buckley, Gongo, Jane Birkin e Sapho.
Nesses dias, estavam em cartaz no Bataclan concertos de potentes grupos norte-americanos: na sexta-feira se apresentavam os Eagles of Death Metal, liderados pelo carismático Josh Homme; os Deftones tocariam de sábado a segunda-feira. Não vai ser fácil o Bataclan superar a identificação com uma tragédia acompanhada ao vivo pelo mundo inteiro.
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