Alemanha restabelece controles na fronteira com a Áustria
Munique está sobrecarregada pela chegada de refugiados
O Governo alemão decidiu restabelecer os controles na fronteira com a Áustria, diante da chegada em massa de refugiados. O ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, afirmou que os controles serão reinstalados “temporariamente”. A medida entrou em vigor na mesma tarde do anúncio. Uma porta-voz da empresa ferroviária austríaca ÖBB citada pela agência Reuters informou que o tráfego pela via férrea parou na fronteira a partir das 17h (horário local).
A entrada em massa de refugiados, que chegam às centenas à cidade de Munique, no Estado federado da Bavária, sobrecarregou as autoridades. Diante dessa situação, o Governo alemão decidiu restabelecer os controles na fronteira Sul do país. O anúncio, que a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, tinha comentado por telefone com seu par austríaco, Werner Faymann, foi feito pelo ministro do Interior.
“O objetivo desta medida é interromper o fluxo em direção à Alemanha e voltar a um processo ordenado”, explicou o ministro em entrevista coletiva. De Maizière alegou motivos de segurança para a decisão e revelou que ela resulta de um acordo, após “debate amistoso resolvido” dentro da coalizão de governo, formada pela União Democrata Cristão (CDU), da chanceler Angela Merkel, e pelo Partido Social Democrata (SPD).
Munique, a capital do Estado federado da Bavária, atingiu neste fim de semana o limite de sua capacidade de assistência humanitária numa estação central de trens que foi lotada por refugiados. Até a meia-noite de sábado, a polícia federal tinha contabilizado a chegada de 12.200 pessoas, e para o domingo se esperava que chegasse quantidade semelhante ou maior.
A chegada em massa de refugiados e a impotência da cidade para lhes oferecer um teto e uma cama levaram o prefeito de Munique, Dieter Reiter, a enviar um pedido de ajuda a seus colegas de outras cidades alemãs e, indiretamente, ao Governo Federal. “Já não sabemos o que fazer com os refugiados”, disse o prefeito diante das câmeras da segunda maior rede de TV, a ZDF, na noite de sábado. “Munique e a Bavária são incapazes de enfrentar este grande desafio sozinhas, e me sinto desapontado ao ter que admitir que já não temos mais lugares para os refugiados que chegam à cidade”, acrescentou o prefeito, confessando sua impotência para oferecer acolhimento digno aos refugiados.
Munique se tornou o ponto chave de chegada dos refugiados da chamada rota dos Bálcãs, que atravessam a Sérvia, a Hungria e a Áustria para chegar à Alemanha. Nas últimas duas semanas, mais de 60.000 refugiados chegaram à cidade alemã.
Frente à falta de albergues, centenas de pessoas tiveram que dormir na noite de sábado para domingo nos corredores da estação ferroviária central, realidade que voltou a despertar a solidariedade da população. Graças ao apelo do prefeito, centenas de habitantes de Munique foram à estação doar colchões e sacos de dormir.
Para evitar uma catástrofe na estação de Munique, a empresa alemã de ferrovias, Deutsche Bahn, pôs à disposição vários trens de alta velocidade (ICE) para evacuar os refugiados. Em razão do alto número de refugiados que estão chegando a Munique, o Governo regional, presidido por Horst Seehofer, convocou reunião de urgência de seu gabinete para aprovar um pacote extraordinário de medidas destinadas a fazer frente a uma situação que no momento está fora de controle.
A dramática situação vivida pela capital do Estado federado mais rico do país provocou uma onda de reações contra a chanceler Angela Merkel, que decidiu, sem consultar ninguém, abrir as fronteiras de seu país aos refugiados da Síria e de outros países que estavam, quase na condição de prisioneiros, na estação ferroviária de Budapeste.
Durante uma conferência por telefone interna na semana passada, os ministros do Interior dos 16 Estados federados alemães reclamaram da política promovida pela chanceler e admitiram que sua decisão os havia “surpreendido”. Durante a reunião, os ministros concordaram que a chegada massiva de refugiados ao país poderia provocar um caos nacional, tanto pela falta de centros de acolhimento quanto pelos riscos à segurança interna do país.
“Os Estados federados estão totalmente surpresos pela permissão autorizada pela chanceler”, disse o presidente da conferência interministerial, o social-democrata Roger Lewentz. “Precisávamos de muito tempo para nos prepararmos, e seria necessário saber com antecedência o que aconteceria. Os Länder estão no limite de suas possibilidades”, afirmou, ao resumir com poucas palavras o ânimo que impera nos 16 Estados federados do país.
Os ministros do Interior dos 16 Estados federados alemães também expressaram sua preocupação em relação à possível chegada de terroristas do Estado Islâmico ao país, infiltrados entre os refugiados sírios que fogem da guerra em seu país.
Oposição à divisão por cotas na República Tcheca e na Romênia
A poucas horas da reunião dos ministros europeus do Interior para decidir a distribuição de 120.000 refugiados, dois países do Leste voltaram a manifestar seu repúdio ao sistema de cotas proposto por Bruxelas. O primeiro-ministro da República Tcheca, Bohuslav Sobotka, declarou neste domingo que vê como “impossível” recuar em sua negativa de aceitar as cotas de acolhimento de refugiados propostas pela UE, ao passo que a Romênia anunciou que também votará contra.
“Creio que seja impossível voltar atrás. Nossa posição é firme”, afirmou Sobotka num programa de TV sobre o plano europeu para acolher 120.000 refugiados provenientes da África e do Oriente Médio, que se somariam aos 40.000 demandantes de asilo que Bruxelas já pediu para realocar em maio.
O ministro do Interior da Romênia, Gabriel Oprea, manifestou que votará contra as cotas obrigatórias de divisão de refugiados durante o encontro que acontecerá nesta segunda-feira com seus pares europeus. “Tenho a ordem clara, por parte do presidente, do primeiro-ministro e do Governo, de dizer de maneira simples, mas também com dignidade: a Romênia respeita o compromisso inicial de receber 1.785 imigrantes e, claro, de votar contra as cotas obrigatórias”, declarou Oprea aos meios de comunicação.
No início desta semana, o presidente romeno, Klaus Iohannis, criticou duramente a Comissão Europeia, acusando-a de fazer uma divisão “burocrática” dos refugiados. Iohannis reiterou que a Romênia só pode aceitar 1.785 refugiados, ao passo que a CE lhe pede que receba 6.351.
A Romênia tem apoio nessa postura de outros países do Leste da Europa, como a Hungria, a República Tcheca, a Polônia e a Eslováquia.
Enquanto isso, milhares de refugiados continuam tentando chegar à União Europeia. Ao todo 4.330 pessoas passaram no sábado para a Hungria a partir da Sérvia, o número mais alto de entradas num só dia registrado até agora, informou neste domingo a polícia húngara.
Os refugiados, a maioria da Síria, Iraque e Afeganistão, apressam-se para entrar na Hungria pelo passo fronteiriço de Röszke, onde o Governo de Viktor Orbán finaliza o fechamento da única brecha ainda aberta em seus limites com a Sérvia, enquanto ergue uma segunda cerca mais alta, que inclui arame farpado. Além disso, está previsto que a Hungria aprove no dia 15 uma nova legislação estabelecendo pena de até cinco anos de prisão para quem cruzar ilegalmente sua fronteira.
Na estação ferroviária de Keleti, na capital húngara, milhares de pessoas esperavam para embarcar em trens que as levassem para perto da fronteira com a Áustria. Em Nickelsdorf, na parte austríaca da fronteira, foi registrada neste sábado a chegada de 6.600 pessoas.
À espera de comprovar o efeito do muro construído pela Hungria e da aplicação da nova lei, as autoridades policiais austríacas preveem que a partir do dia 15 o fluxo de refugiados tome outra rota para evitar o solo húngaro: da Sérvia para a Croácia e de lá para a Eslovênia, para entrar na Áustria pelo Sul.
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