Promotor de Paris acusa El Khazzani de motivação terrorista
Suposto autor do atentado viu no telefone, já no trem, um vídeo terrorista
O promotor-chefe de Paris e responsável pela operação antiterrorista, François Molins, acusou na Ayoub El Khazzani, cidadão marroquino de 26 anos, que na sexta-feira abriu fogo em um trem entre Amsterdã e Paris, de tentativa de homicídio com motivação terrorista, tendo em vista as provas obtidas durante a investigação.
Numa conferência de imprensa nesta terça-feira, Molins justificou sua acusação como o fato de que "teria viajado recentemente à Turquia, via possível de acesso à Síria", carregando um grande arsenal (levava, entre outras armas, 270 balas, um fuzil de assalto e uma garrafa de gasolina, disse), bem como explicações "pouco plausíveis" de como havia obtido essas armas. O promotor também mencionou a contradição entre os limitados meios de subsistência que afirmava ter e a capacidade de pagar 140 euros (570 reais) em dinheiro por uma passagem em primeira classe no trem.
Outro elemento destacado pelo promotor é que El Khazzani assistiu, já no trem, "a um vídeo que convoca ações violentas em nome do islamismo radical"; o suspeito teria um plano, como mostra o fato de ter se recusado a pegar um trem mais cedo como proposto pela empresa ferroviária, e a "atitude determinada" de usar as armas, relatada pelas testemunhas do incidente, no qual três pessoas ficaram feridas.
Em sua passagem pela Espanha, Molins disse que El Khazzani, natural de Tetuán, foi condenado e preso por crimes comuns, tais como tráfico de drogas ou infrações de trânsito em várias ocasiões em Algeciras e Madri. De fato, foi a Espanha que enviou uma foto do suspeito à França, disse o promotor.
Após quatro dias de interrogatório na subdireção antiterrorista da polícia judiciária, nos arredores de Paris, os investigadores descobriram várias pistas apontando que o marroquino, que carregava um arsenal considerável, pode ter cúmplices. Acharam dois celulares em seu poder (um dos quais o suposto terrorista ativou no dia do ataque), e quando já estava preso alguém desativou sua conta no Facebook.
O agressor, que viveu na Espanha e o qual a polícia espanhola vincula a extremistas islâmicos, comparecerá perante o juiz que vai decidir sobre o tipo de prisão e as acusações contra ele. El Khazzani afirma que encontrou uma mochila cheia de armas em um parque de Bruxelas e que pretendia roubar os passageiros, declarou sua advogada, Sophie David. Mas os investigadores não acreditam na versão do detido, fichado pelos serviços secretos devido aos seus laços com o islamismo radical.
Os investigadores estão convencidos desde o início que El Khazzani tinha cúmplices devido ao arsenal que carregava: um fuzil AKM (não um Kalashnikov, como se pensava), segundo detalhado nesta terça-feira pelo promotor, uma pistola Luger e uma dúzia de carregadores. A ativação do celular no mesmo dia é uma técnica comum entre criminosos que temem ter o telefone grampeado e indicaria que precisava estar em contato com outras pessoas.
Outro elemento leva os investigadores à pista de possíveis cúmplices. Na noite de sábado, quando El Khazzani já estava sendo interrogado nas dependências da polícia antiterrorista, alguém próximo o suficiente do suspeito, pelo fato de ter sua senha de acesso, desativou seu perfil no Facebook.
El Khazzani tinha 76 "amigos" na rede social. Depois dos atentados de janeiro em Paris contra a revista satírica Charlie Hebdo e um supermercado judaico, no qual 17 pessoas morreram, o agressor do trem Thalys publicou uma fotomontagem da guerra da Argélia, criticando o Ocidente, "uma civilização terrorista e um Estado criminoso, e acusava os judeus e cristãos" de serem os responsáveis pelo "terrorismo".
Ao mesmo tempo, são revelados mais detalhes sobre seus passos desde que, no início de 2014, o serviço secreto espanhol alertou os franceses sobre o potencial perigo oferecido por ele e seu projeto de se mudar para a França. El Khazzani morou efetivamente no país por pelo menos dois meses, onde trabalhou na empresa de telefonia móvel Lycamobile. Especificamente, distribuía folhetos para um escritório da empresa em Saint-Denis, na periferia ao norte de Paris. Seu contrato, de 3 fevereiro a 3 abril, não foi renovado porque seus papéis não lhe permitiam trabalhar na França, segundo informou o diretor-geral da Lycamobile Service na França, Alain Jomichek.
Pouco se sabe sobre suas andanças depois disso. Os serviços secretos franceses emitiram uma ficha S, que significa Segurança do Estado. Isso não implica uma vigilância automática, mas uma espécie de aviso em caso de ser controlado pelas forças de segurança ou pelos serviços aduaneiros. Foi assim que as autoridades voltaram a seguir El Khazzani em maio de 2015, em Berlim, quando embarcou em um voo com destino a Istambul, onde poderia ter viajado à Síria para participar da jihad (guerra santa). Durante seu interrogatório, El Khazzani negou ter ido à Síria e disse ter se deslocado nos últimos seis meses pela Bélgica, Alemanha, Áustria, França e Andorra, sempre de trem, segundo sua advogada.
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