Ataque ao trem de Paris levanta o debate sobre falta de segurança
A eficiência do trem como meio de transporte e a livre circulação no espaço Schengen reduzem os controles nos acessos aos trens
O ataque em um Thalys – trem que vai de Paris a Bruxelas e Amsterdã – na sexta-feira, dia 21 de agosto, no norte da França, abriu o debate sobre a segurança nos trens europeus. Na França, só existem controles nos acessos ao Eurostar, que vai para Londres, porque o Reino Unido não faz parte do espaço Schengen. O Governo francês estuda, no entanto, novas medidas para evitar este tipo de atentados. No momento, a companhia ferroviária SNCF apela para a vigilância de seus passageiros e vai criar um número de telefone especial.
O número especial, 3117, já existe para alertar sobre diferentes comportamentos impróprios. A partir de 1o de setembro, será ampliado para casos de terrorismo. “Trata-se de um número gratuito de vigilância cidadã para que qualquer pessoa que observe algo fora do comum ou perturbador, em uma estação ou trem, possa informar”, explicou Guillaume, presidente da SNCF, em uma entrevista ao Journal du Dimanche.
Para avaliar a seriedade da ameaça, a SNCF contratará 40 agentes especializados que filtrarão as chamadas e tomarão as medidas adequadas. A empresa aumentará também o número de sinais de advertência nas estações e nos trens e reforçará as patrulhas de segurança.
No entanto, o presidente da SNCF, Guillaume Pepy, descarta no momento criar zonas de embarque com pórticos e controle sistemático das bagagens nos acessos aos trens. “O tráfego ferroviário na França é 20% superior ao aéreo. Já se sabe como são as medidas de controle de embarque nos aeroportos, no caso dos trens teríamos de multiplicar por 20. Não podemos contar com essa medida”, admitiu.
A companhia ferroviária habilitará um número de telefone para suspeitas terroristas
“É preciso escolher: ou temos uma segurança razoável ou uma baixa eficiência de transporte”, reconheceu Pepy. Em declarações à AFP, Raffaello Pantucci, do centro de análise britânico RUSI, admitiu que não é possível transferir a segurança que se aplica nos aeroportos ao serviço ferroviário. “Os aviões têm um ponto determinado de partida e de chegada e em volta disso se pode construir um aparato de segurança. Mas não é possível transferir esse modelo aos trens, porque teria de ser feito em cada estação.” Isso sem levar em conta o custo enorme que a medida representaria, como reconhecem diversos especialistas.
Na França, só há esse tipo de controle nos acessos ao Eurostar, uma vez que vai ao Reino Unido. Como nos aeroportos, o embarque neste trem exige que os passageiros se dirijam a um terminal específico, pelo menos meia hora antes da partida do trem, e há controles de identidade e escaneamento da bagagem antes do embarque.
Espaço Schengen
O trem no qual Ayoub El Khazzani supostamente estava disposto a perpetrar uma matança partiu da Holanda com destino à França, atravessando a Bélgica. Os três países integram o espaço Schengen, no qual não há controles de identidade para uma maior liberdade de movimento, nem registros de bagagem. El Khazzani, fichado pelos serviços de inteligência espanhóis e franceses, conseguiu assim subir na estação de Bruxelas com um verdadeiro arsenal nas costas – um Kalashnikov, uma pistola, várias armas brancas e uma dezena de carregadores – sem ser abordado.
Para o primeiro-ministro belga, Charles Michel, o ataque colocou em evidência a necessidade de revisar o acordo de Schengen. “Estamos diante de novas ameaças na Europa e temos de pensar em uma adaptação e novas regras em relação aos controles de identidade e de bagagem”, afirmou no sábado, e pediu uma reunião sobre o tema com os países vizinhos.
O Governo francês anunciou a “mobilização plena do Estado” para garantir a segurança nos transportes públicos franceses. “Diante do alto nível de ameaça que continua pesando sobre o país, o Governo ordena a plena mobilização dos serviços do Estado para garantir a segurança de todos em todos os pontos do território, especialmente no transporte público”, informou o Ministério do Interior francês em um comunicado.
Paris mantém cerca de 7.000 militares, além de 3.000 agentes de segurança dos trens e 1.250 agentes da rede de metrô que patrulham cerca de 5.000 lugares considerados objetivos potenciais do terrorismo, entre eles as estações de trem e os aeroportos. Desde os atentados de janeiro passado, que deixaram 17 mortos, o país está em estado de alerta terrorista máximo e sob o plano antiterrorista Vigipirate.
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