México obstrui investigação de especialistas externos no ‘caso Iguala’

Inspetores pedem acesso ao batalhão da região onde desapareceram 43 estudantes

Pablo de Llano
Cidade do México - 17 ago. 2015 - 20:43
Especialistas externos do ‘caso Iguala' em entrevista à imprensa.
Especialistas externos do ‘caso Iguala' em entrevista à imprensa.O. T. (AFP)

Faltando pouco mais de um mês para se completar um ano do desaparecimento de 43 estudantes no México, os especialistas internacionais designados para investigar o caso criticaram o Governo, em declarações à imprensa nesta segunda, por não lhes permitir entrevistar soldados do batalhão da região do crime. “Dizem que podemos fazer perguntas, mas não fazê-las diretamente nem estar presentes durante a declaração dos militares”, explicou Carlos Beristain, perito espanhol em atendimento a vítimas.

O argumento do Governo, acrescentou o advogado chileno Francisco Cox, é que as entrevistas diretas com militares “poriam em risco a legalidade da investigação”. No entanto, foi permitido que mantenham esse tipo de encontro com policiais, com testemunhas e até com réus processados pelo crime, conhecido como caso Iguala, em referência ao nome do lugar dos fatos, um município de Guerrero, um Estado ao sul do México, pobre e com graves problemas de criminalidade e corrupção.

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Os especialistas, nomeados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com o aval do Governo do México, decidiram não entregar um questionário de perguntas, proposta feita pelas autoridades como alternativa às entrevistas.

Ao longo da instrução do caso, a presença de um batalhão permanente no lugar, em uma caótica noite na qual policiais locais atiraram contra ônibus com estudantes da reivindicativa escola de magistério rural de Ayotzinapa e entregaram em seguida os jovens a um grupo de narcotraficantes, foi um ponto de controvérsia midiática e social. “O motivo pelo qual queremos entrevistar os soldados é que foram testemunhas de certos fatos, mas não temos nada que os vincule”, esclareceu Cox.

Os peritos também expuseram sua “especial preocupação” pela falta de atenção e perda de evidências que detectaram desde o início de sua missão, em março, período em que trabalharam no local e com os “115 volumes” do expediente.

Revisando esses documentos em junho, nove meses depois do crime, leram que no dia seguinte ao desaparecimento foram recolhidos objetos e roupas que poderiam ser das vítimas. Perguntaram por essas provas à Procuradoria Geral da República (PGR), responsável pela investigação, e descobriram que “nada sabia” sobre elas. “É um fato grave”, denunciou na entrevista à imprensa Claudia Paz, que foi a primeira mulher procuradora geral na Guatemala.

As autoridades tinham guardado parte do material em Guerrero e outra parte na Cidade do México (capital federal), e tudo estava “empilhado, com fungos e umidade”. Mostras dessa roupa serão enviadas ao laboratório austríaco encarregado das análises genéticas do caso, sobretudo dos pedaços de ossos encontrados dentro de um saco em um rio e que, segundo as pesquisas da PGR, são restos dos corpos dos estudantes, queimados em um lixão em uma fogueira alimentada durante horas com pneus. Até o momento entre esses restos foi identificado um dos 43 alunos.

Os especialistas também reportaram a perda de vídeos feitos por câmeras de segurança em um dos cenários dos desaparecimentos, diante do Palácio de Justiça de Iguala. O grupo de peritos apresentará seu relatório completo no México, em 6 de setembro, e pediu a prorrogação por mais seis meses do acordo de investigação para que possa completar seu trabalho.

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