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México obstrui investigação de especialistas externos no ‘caso Iguala’

Inspetores pedem acesso ao batalhão da região onde desapareceram 43 estudantes

Pablo de Llano Neira
Especialistas externos do ‘caso Iguala' em entrevista à imprensa.
Especialistas externos do ‘caso Iguala' em entrevista à imprensa.O. T. (AFP)

Faltando pouco mais de um mês para se completar um ano do desaparecimento de 43 estudantes no México, os especialistas internacionais designados para investigar o caso criticaram o Governo, em declarações à imprensa nesta segunda, por não lhes permitir entrevistar soldados do batalhão da região do crime. “Dizem que podemos fazer perguntas, mas não fazê-las diretamente nem estar presentes durante a declaração dos militares”, explicou Carlos Beristain, perito espanhol em atendimento a vítimas.

O argumento do Governo, acrescentou o advogado chileno Francisco Cox, é que as entrevistas diretas com militares “poriam em risco a legalidade da investigação”. No entanto, foi permitido que mantenham esse tipo de encontro com policiais, com testemunhas e até com réus processados pelo crime, conhecido como caso Iguala, em referência ao nome do lugar dos fatos, um município de Guerrero, um Estado ao sul do México, pobre e com graves problemas de criminalidade e corrupção.

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Os especialistas, nomeados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com o aval do Governo do México, decidiram não entregar um questionário de perguntas, proposta feita pelas autoridades como alternativa às entrevistas.

Ao longo da instrução do caso, a presença de um batalhão permanente no lugar, em uma caótica noite na qual policiais locais atiraram contra ônibus com estudantes da reivindicativa escola de magistério rural de Ayotzinapa e entregaram em seguida os jovens a um grupo de narcotraficantes, foi um ponto de controvérsia midiática e social. “O motivo pelo qual queremos entrevistar os soldados é que foram testemunhas de certos fatos, mas não temos nada que os vincule”, esclareceu Cox.

Os peritos também expuseram sua “especial preocupação” pela falta de atenção e perda de evidências que detectaram desde o início de sua missão, em março, período em que trabalharam no local e com os “115 volumes” do expediente.

Revisando esses documentos em junho, nove meses depois do crime, leram que no dia seguinte ao desaparecimento foram recolhidos objetos e roupas que poderiam ser das vítimas. Perguntaram por essas provas à Procuradoria Geral da República (PGR), responsável pela investigação, e descobriram que “nada sabia” sobre elas. “É um fato grave”, denunciou na entrevista à imprensa Claudia Paz, que foi a primeira mulher procuradora geral na Guatemala.

As autoridades tinham guardado parte do material em Guerrero e outra parte na Cidade do México (capital federal), e tudo estava “empilhado, com fungos e umidade”. Mostras dessa roupa serão enviadas ao laboratório austríaco encarregado das análises genéticas do caso, sobretudo dos pedaços de ossos encontrados dentro de um saco em um rio e que, segundo as pesquisas da PGR, são restos dos corpos dos estudantes, queimados em um lixão em uma fogueira alimentada durante horas com pneus. Até o momento entre esses restos foi identificado um dos 43 alunos.

Os especialistas também reportaram a perda de vídeos feitos por câmeras de segurança em um dos cenários dos desaparecimentos, diante do Palácio de Justiça de Iguala. O grupo de peritos apresentará seu relatório completo no México, em 6 de setembro, e pediu a prorrogação por mais seis meses do acordo de investigação para que possa completar seu trabalho.

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