7 fotosCrise hídrica em São Paulo chega ao ‘Charlie Hebdo’Diretor da revista Laurent Sourisseau, sobrevivente do atentado terrorista em Paris, retrata a rotina do desabastecimentoMaría MartínSão Paulo - 29 jul. 2015 - 19:21BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinLink de cópiaDurante visita ao Brasil neste mês, Sourisseau, que ainda se recupera do tiro que levou no ombro durante o ataque, visitou o sistema Cantareira, que abastece 5,2 milhões de pessoas em São Paulo e beira o colapso desde o ano passado. Acompanhado por agentes armados, responsáveis pela sua proteção, o cartunista tomou notas sobre a situação dos seis reservatórios que abastecem São Paulo.Thiago Mundano"São Paulo, a cidade mais populosa do Brasil, enfrenta a uma escassez de água inédita", afirma a charge. A crise hídrica é considerada a pior dos últimos 84 anos e trouxe cortes de abastecimento desde fevereiro do ano passado.O cartunista relata as ações dos moradores para economizar água, como reaproveitar a água do chuveiro para dar descarga. Apesar de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmar que ninguém ficou sem água, todos os bairros de São Paulo sofrem cortes de até 20 horas no abastecimento.O artista urbano Thiago Mundano, cuja segunda exposição sobre a crise hídrica está em cartaz na cidade, acompanhou ao francês até o Cantareira. Uma das conclusões do cartunista foi que, nos bairros de classe média, a falta de água se conta em horas, enquanto nas favelas o cortes podem durar dias. O Riss reparou também que alguns restaurantes começaram a usar pratos descartáveis e menciona "um projeto em andamento que pretende ligar os rios [poluídos] aos reservatórios". "O governador do Estado, que gere a água, responde a todos os questionamentos dizendo que ou é dessa forma ou não haverá mais água", escreve. O quadrinho menciona também um dos principais gargalos para a Sabesp executar obras emergências a tempo e sem as devidas licenças ambientais, como acusam vários ativistas. "Todas as leis ambientais foram suspensas para a realização de procedimentos urgentes.""Ele ficou surpreendido com as coisas que contei, dos absurdos dessa má gestão de recursos hídricos e com o fato de que não podemos usar a água do rio Tietê e de outros reservatório por estar poluída", relata o artista Thiago Mundano que acompanhou Riss na expedição. "A primeira coisa que ele disse ao chegar no Cantareira é que fazia tempo que ele não sentia tanta paz e tranquilidade, porque desde janeiro ele vive uma rotina intensa em Paris, e São Paulo não estava diferente", lembra Mundano.O cartunista mostra a lógica que seguem os contratos de demanda firme da Sabesp, aqueles que premiam com descontos os maiores consumidores de São Paulo. "Para a indústria e a agricultura, que são os que mais consomem, a lógica é a inversa à aplicada aos particulares: quanto mais eles consomem, menos eles pagam", diz a charge, que inclui incorretamente a agricultura, que não se beneficia do tipo de contrato.O cartunista retrata os dois agentes da Polícia Federal que o acompanharam até o Cantareira, a 150 quilômetros de São Paulo. Riss ressalta o chão da represa, seco e coberto de mato, e desenha uma foto antiga onde o chão aparece completamente rachado. O relato acusa a Sabesp de não fazer os investimentos necessários para enfrentar a crise e ironiza o fato de a companhia cotizar na Bolsa de Nova York.