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Belas Artes, o patrimônio afetivo dos paulistanos

Templo do cinema em São Paulo, o Belas Artes comemora um ano de volta a uma programação de filmes de arte variada e ‘duradoura’

Público compra ingressos no dia da reabertura do Belas Artes, em julho de 2014.
Público compra ingressos no dia da reabertura do Belas Artes, em julho de 2014.Oswaldo Corneti (Fotos Públicas)

Tem coisas que só o Belas Artes faz por um cinéfilo paulistano. Até três anos atrás, quando o cinema mais emblemático de São Paulo fechou as portas — por um aumento proibitivo no preço do aluguel do imóvel —, era lá que os espectadores assistiam a Medos privados em lugares públicos e a outros hits do cinema de arte, tão alheio às salas de shopping com seus blockbusters. O filme de 2006, dirigido pelo francês Alain Resnais, ficou nada menos que três anos e meio em cartaz na esquina entre as avenidas Paulista e Consolação, e teve 80.000 espectadores.

Quando um dos mais queridos e resistentes cinemas de rua da cidade parou, pararam também muitos corações. A sociedade civil se organizou em prol de sua reabertura, uma parceria público-privada viabilizou um novo patrocínio e André Sturm, que administra a casa, pôde recuperar a prática de deixar um (bom) filme o maior tempo possível em cartaz. Hoje, um ano depois de sua retomada, o agora Caixa Belas Artes tem Relatos selvagens, do argentino Damián Szifrón, em suas telas há quase 40 semanas –e sem previsão de saída.

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A comoção popular contra o fechamento do cinema de rua até aumentou seu público. Segundo uma pesquisa realizada pelo cinema em redes sociais, 41% dos frequentadores atuais conheceram o espaço depois das manifestações pela sua reabertura.

Outro trunfo do cinema, dizem seus fãs, é a permanente diversidade de filmes exibidos, que ajudam o público a formar repertório misturando novidades a clássicos e cults. “No Belas Artes, você tem a certeza de uma variedade de títulos brasileiros, europeus, asiáticos, latinos... Costumo pegar um dia da semana para assistir a três filmes de uma vez”, diz o ator Sérgio Mamberti, conhecido por seus papeis na TV e no cinema. “É uma referência que humaniza a cidade. Quanto mais diversificada, mais feliz ela é”, complementa o frequentador das salas da esquina paulistana desde antes de elas virarem o Belas Artes, em 1967.

Sturm confirma que “o desejo é dar aos filmes a chance de encontrar seu público, sempre em busca de diversidade e originalidade”. No último ano, o cinema exibiu 563 filmes de um total de 45 países. Desses, 120 deles são estreias, 37 delas de títulos nacionais, e outros tantos ajudaram a compor oito mostras especiais, 12 cineclubes e 11 edições do famoso e raro Noitão, em que o cinema funciona madrugada afora com uma programação festiva (acompanhada de música, comida e bebida) de três filmes em sequência.

Dia de festa

Neste domingo, 19 de julho, se celebra esse renascimento. Além de ações especiais já em curso em meio à programação do cinema, como um cineclube em homenagem a Ingmar Bergman, e de atrações infantis na parte da manhã, uma agenda especial foi organizada pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e o Movimento Cine Belas Artes a partir das 18h.

Haverá ainda a exibição do inédito Que horas ela volta?, o filme mais recente da diretora paulistana Anna Muylaert – premiado nos festivais de Berlim e de Sundance em 2015.

Junto ao público em geral, o Movimento Cine Belas Artes respira aliviado. Criado em 2011 para lutar contra o fechamento, ele passa a atuar através de um conselho representativo para garantir que o cinema continue garantindo sua cota de diversidade e sociabilidade em São Paulo. E, em parceria com o secretário de Cultura da cidade, Nabil Bonduki, que foi um de seus fundadores, já angariou novas tarefas para si, como a criação de áreas de preservação cultural na cidade, pensando nesse e em outros patrimônios afetivos paulistanos.

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