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Venezuela toma agenda doméstica e governistas também visitam Caracas

Após missão de oposicionistas, senadores oficialistas tem agenda no país em crise

Senador Lindberg Farias conversa com Aécio Neves.
Senador Lindberg Farias conversa com Aécio Neves.Agencia Senado

O Brasil atravessa uma situação econômica difícil, a presidenta Dilma Rousseff tem índices de popularidade sofríveis, o dono da maior empreiteira do país está na cadeia e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acaba de dizer que seu partido, o PT, envelheceu e só pensa em cargos. Ainda assim, senadores se revezaram no Senado brasileiro na última terça para tratar de um assunto: a Venezuela. O debate foi mais um termômetro de que a crise política no país de Nicolas Maduro ocupa lugar nobre na agenda doméstica brasileira e voltou a se tornar um embate de grande apelo, especialmente para a oposição liderada pelo ex-candidato a presidente Aécio Neves.

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A contenda terá um novo round nesta quinta, quando um quarteto de senadores ligados ao Governo Dilma Rousseff cumpre agenda na capital venezuelana e promete encontrar tanto o presidente da Assembleia Nacional e número 2 do chavismo, Diosdado Cabello, como integrantes moderados da oposição venezuelana — ainda que não planejem visitar o oposicionista radical detido há mais de um ano, Leopoldo López.

A visita é uma resposta à conturbada missão de senadores brasileiros de oposição à Venezuela na semana passada. Liderados por Aécio Neves, o grupo foi hostilizado por manifestantes chavistas numa estrada, teve problemas de deslocamento que atribuíram ao Governo Maduro e acabaram abortando o plano de visitar López na cadeia. O revés não diminuiu a repercussão, mas a amplificou. Um dos integrantes da comitiva falou do tema, ao vivo na TV, no Programa do Datena, um popular programa policial em que política externa nunca é notícia. Como na campanha, a oposição voltou a usar associação entre o PT e Governo Dilma Rousseff e o aliado Governo da Venezuela em crise para  constranger o Planalto.

"Não vamos ser incendiários. Vamos buscar falar com todos. Com a oposição, com parlamentares governistas, com membros do Ministério Público. Não vamos na prisão ver Leopoldo López. Seria uma provocação", disse ao EL PAÍS a senadora Vanessa Grazziotin, do PC do B do Amazonas, que compõe comitiva ao lado dos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Telmário Mota (PDT-RR) e Roberto Requião (PMDB-PR), este último um interlocutor de Hugo Chávez (1954-2013) no Brasil.

Questionada se Leopoldo López, acusado de conspirar contra Maduro, está submetido a condições justas de prisão e tendo acesso ao devido processo legal, ela disse: "Estamos indo para nos informar". A comitiva pretende visitar também vítimas das guarimbas, como são chamados dos protestos violentos feitos pela oposição durante os protestos de 2014.

Capriles: Governo Dilma mais crítico

"Não fomos à Venezuela armados. Não fomos atentar contra um presidente da República eleito. Fomos cobrar aquilo que cobraremos até o dia das eleições: a transparência nas eleições que estão por vir. A grave omissão do Brasil nesta questão foi suprida pela presença firme, corajosa e altaneira dos senadores brasileiros", disse Aécio Neves na tribuna do Senado.

O oposicionista comemorou o anúncio da data das eleições venezuelanas feitas nesta semana e voltou a criticar o Governo Dilma Rousseff. O tema subiu tanto de tom que Aécio lançou a proposta de rever a participação da Venezuela no Mercosul. O senador José Medeiros (PPS-MT) chegou a protocolar o pedido de exclusão do país no bloco.

Apesar do alinhamento do PT com Caracas, o Governo Dilma Rousseff e sua diplomacia dão sinais de que estão dispostos a enviar recados de alerta à Venezuela. Foram ao menos trës notas de tom crítico, incluindo a mais recente após a missão abortada na semana passada, onde o Ministério das Relações Exteriores cobrou explicações da Venezuela e considerou "inaceitáveis" as hostilidades sofridas pelos senadores oposicionistas.

"Eles (os senadores oposicionistas) optaram pelo factóide", disse no embate no Senado, o petista Lindberg Farias, que também está em Caracas. Ele citou entrevista do líder oposicionista Henrique Capriles `a Folha de S. Paulo no fim de semana para rebater a acusação de que Brasil é omisso na crise venezuelana. Na entrevista ao jornal, Capriles disse conversar com diplomatas brasileiros em Caracas e ter contado com a pressão do Governo brasileiro para participar de uma reunião sobre a crise política promovida pela Unasul. "Na última reunião de chanceleres e oposição em março, o governo venezuelano vetou minha participação, disseram: ‘Capriles não vai’. Sabe quem me pôs lá? O Brasil”, afirmou o governador de Miranda à Folha.

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