Estado Islâmico desafia o poder hegemônico do Hamas em Gaza
Mísseis lançados pelos grupos salafistas ameaçam a trégua com Israel

O grupo salafista ligado ao Estado Islâmico (EI) que disparou dois mísseis de Gaza contra Israel já foi desarticulado. Um membro do alto escalão do Hamas, a organização palestina que controla o poder na Faixa, foi quem confirmou a informação. O ataque jihadista ameaçou, no início de junho, a trégua com o Estado judeu, que está em vigor há 10 meses, desde o conflito mais recente, que resultou na morte de mais de 2.200 palestinos, e na destruição de 12.600 casas, além das que foram gravemente danificadas.
O grupo radical Brigadas de Omar reivindicou a autoria dos lançamentos como medida de represália contra o Hamas, grupo que culpa pela morte de alguns de seus militantes durante uma ação das forças de segurança de Gaza. “Eram 26 jihadistas e 20 já estão detidos”, explicou o deputado palestino Salah Baradauil em um escritório do canal al-Aqsa. A sede da emissora de televisão do Hamas sofreu sucessivos ataques aéreos de Israel nos conflitos de 2008-2009, 2012 e 2014 e é reconstruída em cada período de paz.
“Nós não rompemos a trégua com Israel”, garantiu Bardauil, que é membro da cúpula de dirigentes do Hamas. "Os mísseis que esses grupos jihadistas lançam tem uma potência muito baixa e não representam uma ameaça real”, especificou, antes de relatar que o jovem abatido pelas forças de segurança de Gaza tinha a intenção de realizar o ataque com um lançador de granadas.
O dirigente do Hamas garante que sua organização é “um movimento islamita moderado” em comparação com o Califado, que demonstra “uma atitude radical que não é a do islã”.
“Os grupos salafistas de Gaza são minoritários e contavam com três recrutadores com mais de 40 anos de idade, e o resto eram jovens de entre 20 e 25 anos captados através da internet. Nenhum deles mantém contato com o Estado Islâmico”, detalhou Bardauil.
“Os grupos salafistas de Gaza são minoritários e não mantêm contato com o Estado Islâmico”, afirma o dirigente do Hamas Salah Bardauil
Não é a primeira vez que o Hamas combate os grupos salafistas em Gaza. Seus militares mataram, em agosto de 2009, cerca de 20 jihadistas e detiveram mais de 120 em uma mesquita do sul de Gaza depois que o grupo Jund Ansar Allah (Soldados dos seguidores de Deus) proclamou o Emirado de Rafah na fronteira com o Egito.
O Hamas parece ter expressado com a represália aos grupos salafistas sua vontade de manter em vigor a trégua que assinou com Israel em agosto do ano passado. Enquanto isso, analistas israelenses e palestinos afirmam que existem contatos indiretos entre ambas as partes para negociar uma hudna: um cessar-fogo de cinco ou 10 anos de duração para permitir a reconstrução de Gaza. “Não vai ser tomada nenhuma decisão a curto prazo nesse sentido”, afirmou Bardauil sobre as supostas negociações.
A desarticulação dos grupos salafistas também beneficia o Egito, que combate as organizações jihadistas que operam na Península do Sinai. O Governo do Cairo abriu, na última semana, a passagem fronteiriça de Rafah em ambos os sentidos pela primeira vez em três meses, coincidindo com o início do mês sagrado do Ramadã. “O Egito nos pediu que o apoiássemos na luta contra os salafistas do Sinai, mas nós não vamos intervir nos assuntos internos de outro país”, revelou o dirigente do Hamas.
Do outro lado da fronteira, Israel observa com preocupação o aparente auge dos partidários do Estado Islâmico em Gaza. O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o tenente-general Gadi Eisenkot, declarou na terça-feira em um comparecimento perante a Comissão de Defesa do Knesset que “14% dos habitantes da Faixa de Gaza apoiam o Estado Islâmico”. “Organizações mais extremistas que o Hamas cresceram com força nos últimos tempos”, reconheceu Eisenkot perante os dirigentes reunidos. “Estes grupos filiados ao EI se instalaram também no Sinai e cooperam com terroristas em Gaza”, afirmou o tenente-general.
Os cenários de destruição no sul e no leste da Faixa, nas zonas limítrofes com Israel, se assemelham às imagens da guerra da Síria. Apenas uma pequena parte das 144.000 pessoas que perderam suas casas e das 60.000 que ainda continuam desabrigadas por causa do conflito foram realojadas nos últimos 10 meses.
“Organizações mais extremistas que o Hamas cresceram com força nos últimos tempos”, reconheceu o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas
O compromisso internacional para fornecer 1,3 bilhão de dólares (cerca de 4 milhões de reais) para a reconstrução não chegou a ser cumprido em Gaza, território que o Banco Mundial acaba de ranquear como detentor da taxa de desemprego mais alta do mundo. A terra, a água, os alimentos… quase tudo está contaminado, segundo os governantes do Hamas. Nesse campo de cultivo do desespero, a emergência de grupos radicais afiliados ao Estado Islâmico só coloca mais lenha na fogueira do explosivo território de Gaza.
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