Atirador mata nove em igreja afro-americana nos Estados Unidos
Massacre ocorreu num histórico centro religioso da maioria negra Cidade onde atentado ocorreu foi cenário de recentes protestos raciais
Uma tragédia, aparentemente motivada por ódio racial, sacudiu a cidade de Charleston, nos Estados Unidos, na noite de quarta-feira. Um homem abriu fogo numa histórica igreja afro-americana nessa localidade da Carolina do Sul, causando a morte de nove pessoas, segundo a polícia. O suspeito foi identificado posteriormente como Dylann Roof, um rapaz branco de 21 anos. Oito das vítimas morreram dentro da igreja e a nona faleceu enquanto era levada ao hospital junto com outro ferido.
As informações foram confirmadas pelo chefe da polícia local, Gregory Mullen, em entrevista coletiva no começo da madrugada desta quinta-feira (horário local). “Acredito que seja um crime de ódio”, disse Mullen. As autoridades ainda relataram que os primeiros indícios apontam para o envolvimento de um único agressor – um jovem de 20 a 30 anos, branco e magro, que vestia moletom com capuz e calça jeans.
O nome e a etnia das vítimas não foram divulgados, mas o reverendo Al Sharpton, ativista dos direitos civis, anunciou pelo Twitter que Clementa Pinckney, pastor da igreja e senador estadual na Carolina do Sul, está entre os mortos.
“A única razão que pode levar alguém a entrar numa igreja e atirar em pessoas rezando é estar transbordando de ódio. É o maior ato de covardia”, afirmou o prefeito da cidade, Joe Riley. Carros e helicópteros policiais vasculham a cidade em busca do suspeito.
A chacina ocorreu por volta de 21h (22h em Brasília), na Igreja Africana Metodista Episcopal de Emanuel, construída no século XIX – uma das mais antigas da comunidade negra no sul dos Estados Unidos. Depois do ataque, grupos de pessoas se aglomeravam nos arredores da igreja, fazendo círculos de mãos dadas. “Acreditávamos que os assuntos raciais estavam superados”, disse um dos participantes da vigília ao jornal The Post and Courier.
Charleston não escapa das tensões raciais que sacodem outras partes dos EUA. Isso ficou evidente no começo de abril, quando Walter Scott, um homem negro de 50 anos, desarmado, foi morto com oito tiros por um policial branco, em plena luz do dia, numa área ajardinada da cidade. A cena foi gravada em vídeo por um transeunte, e a divulgação das imagens resultou no indiciamento do policial e em intensos protestos da comunidade negra, que se diz vítima de discriminação policial sistemática.
As queixas contra a polícia no caso do massacre de Charleston ecoam outros casos ocorridos no último ano nos EUA. Antes, incidentes semelhantes, em que policiais mataram negros desarmados, haviam motivado protestos em Ferguson (Missouri) e Nova York.
Em abril, um homem negro e desarmado foi morto com oito tiros por um policial branco
Charleston é uma cidade de 127.000 habitantes. Cerca de dois terços da população do condado é composta por brancos, e os negros são 29%, segundo dados do Censo federal. Como boa parte do sul dos Estados Unidos, a Carolina do Sul tem um reprovável histórico de discriminação racial. O Estado manteve a escravidão dos negros durante boa parte do século XIX, e a população afro-americana sofreu algum tipo de marginalização até o fim oficial da segregação racial, há meio século.
Heart is breaking for Charleston and South Carolina. My prayers are with Emanuel AME and Pastor Pinckney.
— Tim Scott (@SenatorTimScott) June 18, 2015
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