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A história de uma mulher escrava por dois anos horroriza o México

Vítima, de 22 anos, estava acorrentada em uma tinturaria no sul da capital

Luis Pablo Beauregard

O pesadelo da Ana (nome falso) durou dois anos. Só chegou ao fim há alguns dias, quando percebeu que a corrente que a mantinha atada ao ferro de passar roupa de uma tinturaria do sul da Cidade do México estava frouxa. Soltou-se e saiu à rua, onde foi encontrada por um policial. Depois de pedir ajuda foi levada ao Ministério Público para denunciar seus captores. Sua história surpreendeu os habitantes da capital do México, que ouviram um arrepiante relato de escravidão no século XXI.

Ana conheceu seus captores, a família Molina, há seis anos. Começou a trabalhar para eles engomando roupa quando era adolescente. O trato não era ruim, mas ela ficou pouco tempo trabalhando para eles porque se mudou durante certo tempo para a casa da mãe, que vivia em Tamaulipas, no nordeste do país. Em 2013, entretanto, retornou à casa da família Molina para trabalhar e ganhar um salário.

As irmãs Leticia e Fanny começaram a responsabilizá-la por roubos. Esse foi o início dos maus-tratos. Deixaram de pagar-lhe um salário e proibiram que deixasse a casa, localizada na rua de Izamal, no bairro de Tlalpan.

Ana declarou às autoridades que seus captores a alimentavam uma vez ao dia com caldo de frango com feijão e algumas tortillas. Para mitigar a fome o resto do dia mastigava o plástico que usava para cobrir as roupas da tinturaria. Para matar a sede bebia a água destilada dos ferros de passar. A má alimentação faz com que a vítima pareça uma pessoa muito menor. “A jovem tem um aspecto físico de 14 anos, mas seus órgãos e as funções dos mesmos são como os de uma pessoa de 81 anos, pelos danos deixados pelo cativeiro”, explicaram agentes da Procuradoria de Justiça da Cidade do México (PGJDF). Os médicos consideram que as sequelas pelos maus-tratos significam um risco para sua vida.

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As autoridades afirmaram que quando a mulher tentava descansar “era golpeada com uma chave mecânica” ou com um pilão. Suas costas também eram queimadas com o ferro. A família que a escravizava não permitia que suas feridas cicatrizassem, o que deixou marcas em todo o corpo parecidas com as da varicela. “Trata-se do primeiro caso desse tipo registrado na Cidade do México”, disseram estupefatos os agentes da procuradoria.

Cinco pessoas foram detidas. José de Jesus Sánchez Vera; as irmãs Leticia e Fani Molina Ochoa e Ivette e Janet Hernández Molina foram apreendidas na casa que serviu de prisão a Ana. A promotoria acusou-as do delito de tráfico de pessoas na modalidade de trabalhos forçados.

Manlio Fabio Beltrones, o líder do PRI na Câmara de deputados reprovou o fato. “Parece-me grave e vergonhoso que ainda em alguns espaços na República Mexicana exista a escravidão tradicional como essa”, afirmou. O Congresso trabalha uma lei contra o tráfico de pessoas, que ainda aguarda aprovação no Senado.

Na segunda-feira Ana voltou para a casa em que foi mantida em cativeiro. Lá descreveu aos agentes encarregados do caso as condições nas quais trabalhou durante dois anos. As marcas em suas costas e as cicatrizes em seu pescoço expressam melhor do que as palavras o horror ao que foi submetida.

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