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O masturbador de Dom João VI e outras pérolas nacionais

O escritor Mario Prata esculca a História do Brasil para entrevistar brasileiros já mortos. Seu novo livro, cheio de fatos verídicos e picantes, sai em maio

D. João VI, c. 1820, por Simplício de Sá.
D. João VI, c. 1820, por Simplício de Sá.

O que você diria se tivesse a chance de se encontrar, cara a cara, com Pedro Álvares Cabral? A Mario Prata – escritor, dramaturgo, jornalista e grande personalidade da cultura brasileira – lhe ocorreu perguntar se é verdade que estavam todos bêbados quando ele e sua tripulação (1.500 homens em 13 navios carregados de vinho) descobriram o Brasil. A resposta é positiva e está no livro Mario Prata entrevista uns brasileiros, em que ele conversa com Cabral e com personalidades marcantes para o país, brasileiros de fato ou “naturalizados”.

Têm a palavra o escritor, político e jurista Ruy Barbosa, “o maior baiano de todos os tempos”, Pero Fernandes Sardinha, nosso primeiro bispo, e o revolucionário Tiradentes, “nascido e enforcado Joaquim José da Silva Xavier”, entre outros. No total, são 22 personagens que protagonizaram capítulos da história nacional, sem, no entanto, ter um que outro fato picante de sua vida trazido à tona – e muito menos a chance de explicá-los. Dom João VI, por exemplo, comenta como foi isso de trazer em sua comitiva que saiu às pressas de Portugal o seu ‘masturbador oficial’.

Festival da Mantiqueira

Enquanto planeja mais um livro de entrevistas póstumas, desta vez só com estrangeiros (Marylin Monroe, James Dean e outros personagens menos pop), Mario Prata é um dos convidados do 8o Festival da Mantiqueira – Diálogos com a literatura, que acontece em São Francisco Xavier de 10 a 12 de abril.

Com curadoria do escritor Luiz Ruffato, colunista do EL PAÍS, o evento tem a missão de fazer um retrato da atual produção literária brasileira. Este ano, gira ao redor do tema "Todos os cantos", com o objetivo de fazer um balanço das tendências da nossa literatura.

Mario Prata participa, ao lado do cineasta Sergio Goldenberg e da atriz e diretora mineira Grace Passô, de uma mesa sobre o status da dramaturgia brasileira. Sobre o tema, Mario, responsável por grandes sucessos nacionais do teatro e da televisão, não é tão otimista como de costume. “Minha geração vivia de teatro, inclusive economicamente, e sentiam enorme prazer com isso. Hoje, com esse negócio de Lei Rouanet, virou uma prestação de serviço. O teatro minguou, embora existam algumas pessoas que ainda lutam por ele”.

O projeto nasceu de sua colaboração com a Revista Brasileiros, onde Mario Prata passou a publicar entrevistas em 2013. “Eles me convidaram, e eu disse que faria, se me deixassem entrevistar pessoas mortas”. Entrevistado bom é entrevistado morto? “Na verdade, alguns deram muito trabalho. Mas os vivos mentem, enquanto os mortos inventam”, diz. O tom é sempre cômico – característica imprescindível dos escritos de Mario –, e o autor se faz narrador e personagem de papos fictícios. No entanto, é preciso destacar que as informações contidas neles são verídicas, fruto de uma intensa pesquisa e submetidas ao crivo de historiadores como Angela Marques da Costa, Mary Del Priore, Mattew Shirts e Fernando de Moraes. “Faço uma brincadeira respeitosa, de admiração por todos eles”, explica.

As conversas resultaram tão elucidativas e saborosas, que a editora Record o convidou para lançar um livro, que chegará às livrarias em maio. À sua vez, Mario se deu conta, ao publicar as entrevistas em ordem cronológica, que tinha logrado uma espécie de análise histórico-racial do país. “Isso soa presunçoso. Melhor dizendo, notei que tinha feito um negócio aí sobre a nossa raça. Os entrevistados são índios, europeus, negros e tudo isso misturado”, conta. O livro termina com o responsável pela chegada do futebol ao Brasil, Charles Miller, que nasceu no bairro paulistano do Brás, de pai inglês e mãe escocesa. Foi juiz, técnico e jogador no primeiro jogo de futebol que aconteceu em território nacional e – agora a gente sabe – vivia imerso em problemas matrimoniais.

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