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Coluna
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Meus contistas preferidos

Devido à pouca extensão e à falsa sensação de simplicidade, muitos iniciam-se pela narrativa curta como uma espécie de exercício formal para o romance

Ocorre com o conto um curioso fenômeno. Talvez, dos gêneros literários, seja o mais visitado por candidatos a escritor. Devido à pouca extensão, e por consequência à falsa sensação de simplicidade, muitos iniciam-se pela narrativa curta como uma espécie de exercício formal para o romance – o que trata-se de um enorme equívoco, pois seria como alguém se preparar para correr 50 metros rasos acreditando habilitar-se para uma maratona. Narrativas curtas e longas pertencem a distintas naturezas.

No entanto, por conta dos ditames do mercado editorial, escritor tornou-se sinônimo de romancista. O público não compra narrativas curtas, propalam editores nacionais e estrangeiros, e continuam ganhando dinheiro com livros de autores exclusivamente contistas, como Tchekov ou Borges ou Alice Munro – ou, no Brasil, Dalton Trevisan, Murilo Rubião, Rubem Braga (este, um nome à parte, senhor de obra inclassificável). Com isso, o gênero vem sendo relegado à margem da história literária. Raros os jovens escritores que se assumem unicamente contistas, como o carioca Marcelo Moutinho.

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Tudo isso, para justificar a lista abaixo – sim, adoro listas –, que enumera os vinte maiores contistas de todos os tempos, segundo o meu ponto de vista, numa singela homenagem aos que ainda cultivam a narrativa breve com a convicção de que filiam-se a um gênero maior, e aos leitores que, como eu, mantêm-se apaixonados pela história curta. Deixei de lado contos de fada (Charles Perrrault, Irmãos Grimm, Hans Christian Andersen) e fábulas (Esopo, La Fontaine), por me limitar a relatos adultos, e também As mil e uma noites, por ser um compêndio de autoria coletiva.

Eis a lista:

AKUTAGAWA, Ryonosuke (1892-1927) – Japonês. Publicou mais de 150 contos, sempre explorando a questão do egoísmo e da deterioração dos costumes da sociedade japonesa no entre-séculos.

BORGES, Jorge Luís (1899-1986) – Argentino. Poeta e ensaísta, escreveu narrativas breves que abarcam temática variada, desde sangrentos duelos nos Pampas até profundas discussões metafísicas.

CARVER, Raymond (1938-1988) – Norte-americano. Poeta e dramaturgo, seus contos minimalistas flagram homens e mulheres em situações absolutamente corriqueiras.

CONRAD, Joseph (1857-1924) – Polonês que escreveu em inglês. Também romancista, sua extensa obra retrata o homem mergulhado na violência provocada pelo entrechoque de culturas.

GUIMARÃES ROSA (1908-1967) – Também romancista, seus contos, partindo do espaço mítico do sertão de Minas Gerais, atingem dimensões de fábulas, fora do tempo.

HEMINGWAY, Ernest (1899-1961) – Norte-americano. Jornalista e romancista, criou um estilo telegráfico próprio de escrita para falar do heroísmo posto em xeque, em batalhas na Europa, em caçadas na África, em bares sórdidos do interior dos EUA.

JOYCE, James (1882-1941) – Irlandês. Romancista, poeta, autor de um único volume de contos, Dublinenses, que incorpora, do jargão eclesiástico, o termo "epifania" para designar o momento exato em que tomamos consciência de algo.

KAFKA, Franz (1883-1924) – Autor judeu de expressão alemã, nascido na República Tcheca. Também romancista, suas narrativas breves, algumas brevíssimas, mostram o homem submetido à máquina do poder. Kafkiano, sinônimo de absurdo, tornou-se palavra universal.

MACHADO DE ASSIS (1839-1908) –Romancista, dramaturgo, ensaísta e cronista, suas análises psicológicas, sob um viés de desencanto, inserem seu nome entre os maiores escritores da literatura universal de todos os tempos.

MANSFIELD, Katherine (1888-1923) – Neozelandesa de origem britânica. Poeta e ensaísta, escreveu cerca de 80 contos que expõem, dentro de uma atmosfera fugidia, a fragilidade da condição humana.

MAUPASSANT, Guy de (1850-1893) – Francês. Romancista e dramaturgo, escreveu mais de 300 contos, todos de valor literário indiscutível, tematizando os mais variados aspectos da sociedade francesa do século XIX.

MELVILLE, Hermann (1819-1891) – Norte-americano. Poeta, romancista, ensaísta, suas narrativas curtas partem de situações concretas (embora muitas vezes estranhas) para mergulhar no oceano ignoto da alma humana.

O'CONNOR, Flannery (1925-1964) – Norte-americana. Autora de uma obra pequena (dois romances e 31 contos), que descrevem a vida no sul dos Estados Unidos, racista, conservador, violento.

PIRANDELLO, Luigi (1867-1936) – Italiano. Romancista, dramaturgo, ensaísta, muitos de seus textos curtos, que exploram o patético da vida cotidiana, foram reutilizados como base para seus romances e peças de teatro.

POE, Edgard Allan (1809-1949) – Norte-americano. Inventou um subgênero da narrativa curta, o conto policial, e aperfeiçoou dois outros subgêneros, o conto de mistério e o conto de ficção científica.

QUIROGA, Horácio (1878-1937) – Uruguaio. Criador de estranhas atmosferas, macabras e violentas, que iriam mais tarde influenciar o surgimento do chamado realismo mágico latino-americano.

RULFO, Juan (1917-1986) – Mexicano. Autor de uma obra exígua e absolutamente original (um romance, uma novela, 17 contos), seus textos recriam um espaço ao mesmo temo real e mítico, onde homens e mulheres sobrevivem apenas como espectros.

SCHULZ, Bruno (1892-1942) – Polonês de origem judia, nascido numa cidade que hoje pertence à Ucrânia. Também crítico literário, escreveu cerca de 30 contos, de fundo autobiográfico, narrando as experiências de uma pequena comunidade judaica de classe média.

TCHEKOV, Anton (1860-1904) – Russo. Também dramaturgo, escreveu mais de duas centenas de narrativas curtas, grande parte delas obras-primas do gênero, abarcando todas as classes sociais da Rússia pré-revolucionária.

TOLSTÓI, Liev (1828-1910) – Russo. Embora mais conhecido como romancista, deixou também uma farta obra composta por pequenos relatos, que tratam dos vários aspectos da complexa sociedade russa do século XIX.

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