Chefe da polícia de Ferguson se demite após críticas por racismo
Governo dos EUA concluiu que os agentes atuam baseados em preconceitos raciais
A investigação do Departamento de Justiça sobre Ferguson se traduziu em demissões na cúpula desse município do estado de Missouri. Uma semana depois de o Governo federal denunciar um padrão de discriminação racial seguido pelas divisões policial, judicial e penitenciária desse subúrbio de Saint Louis, o chefe da polícia local, Thomas Jackson, apresentou na quarta-feira sua renúncia.
Na terça-feira, o administrador de Ferguson, o cargo público mais importante da cidade, já havia se demitido. Nos dias anteriores, foram suspensos três trabalhadores que enviaram e-mails racistas e o juiz municipal também apresentou sua renúncia depois de a cidade transferir suas funções a um magistrado estadual devido às acusações apresentadas pelo relatório federal.
A demissão de Jackson se tornará válida a partir do dia 19 de março e ele receberá uma indenização por deixar o cargo e um ano de seguro médico, segundo um comunicado da prefeitura de Ferguson. A pressão para que Jackson abandonasse seu posto não deixou de crescer desde que, em agosto de 2014, um jovem negro desarmado foi assassinado a tiros por um policial branco.
Em carta, publicada pelo jornal Saint Louis Post, Jackson disse "que é tempo de virar a página" e que foi "uma honra e um privilégio" servir à cidade de Ferguson e que "continuará" fazendo o mesmo como cidadão. No entanto, o texto não explica os motivos de sua renúncia.
Segundo a investigação federal, o chefe da polícia cedeu à demanda de emitir mais multas imposta pela prefeitura
Embora as vozes que pedem uma completa reestruturação da polícia tenham crescido após as acusações do Departamento de Justiça, o prefeito da cidade, James Knowles, disse em entrevista coletiva que, apesar da saída de Jackson, sua intenção é manter o atual corpo policial de Ferguson.
O Governo federal pode iniciar uma negociação com as autoridades de Ferguson para forçar determinadas mudanças ou processar a cidade por uma violação constitucional. Nos últimos seis anos, foram realizadas cerca de 20 investimentos de direitos civis em corpos policiais.
O caso de Michael Brown suscitou uma onda de protestos em Ferguson propiciadas, em grande parte, por uma ira enquistada na comunidade afro-americana sobre um padrão de abusos policiais. No município de 21.000 habitantes, no Meio Oeste dos EUA, a maioria dos cidadãos é negra, mas os brancos dominam a estrutura política, policial e educacional.
O Departamento de Justiça concluiu que os agentes de polícia violaram de maneira rotineira os direitos constitucionais dos cidadãos negros de Ferguson mediante o uso excessivo da força e abordagens de trânsito injustificadas que superavam amplamente o peso demográfico dessa comunidade. Os abusos tinham fins arrecadatórios e se alimentavam de uma cultura racista.
Apesar de os negros representarem 67% da população de Ferguson, são 88% dos casos em que a polícia usa a força e 93% das detenções
O relatório aponta diretamente Jackson, no cargo desde 2010, ao ressaltar que a prefeitura o encorajou para que os agentes emitissem mais multas para arrecadar mais e que ele respondeu que fazer isso seria possível. A reputação do chefe policial também foi seriamente danificada pelo clima de impunidade e violência gratuita dos agentes com a comunidade afro-americana, descrito no informe.
Jackson, de aspecto tranquilo, pareceu, desde o princípio, superado pelos protestos. Divulgou informações contraditórias que alteraram os ânimos dos manifestantes e suas posteriores tentativas conciliadoras fracassaram. Nos últimos meses, ele resistiu à pressão para que renunciasse. Mas as acusações do Departamento de Justiça tornaram sua continuidade insustentável.
Após centenas de reuniões e de revisar 35.000 páginas de relatórios policiais, os investigadores concluíram que, apesar de formarem 67% da população de Ferguson, os negros também representam 85% das abordagens de trânsito, 88% dos casos em que a Polícia emprega a força, 90% das intimações judiciais e 93% das detenções na cidade.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.
Arquivado Em
- Distúrbios Ferguson
- Distúrbios raciais
- Ferguson
- Michael Brown
- Afro-Americanos
- Violência racial
- Distúrbios
- Missouri
- Afrodescendientes
- Estados Unidos
- Conflitos raciais
- Negros
- Violência
- Racismo
- América do Norte
- Grupos sociais
- Delitos ódio
- Acontecimentos
- Discriminação
- América
- Preconceitos
- Delitos
- Conflitos
- Justiça
- Problemas sociais