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Rodrigo Janot, o homem que mantém o Brasil em suspense

O Procurador-Geral da República encaminhou ao STF a lista com os nomes dos políticos envolvidos no 'caso Petrobras'

Antonio Jiménez Barca
Rodrigo Janot, em Brasília nesta terça.
Rodrigo Janot, em Brasília nesta terça. UESLEI MARCELINO (REUTERS)

Muitos colunistas e analistas políticos brasileiros têm recorrido à mesma expressão divertida para ilustrar o momento de suspense e ansiedade vivido pelo país: “Esperando Janot”. Janot é Rodrigo Janot, o Procurador-Geral da República, e o que todo mundo espera dele é que seja revelada a lista com os nomes dos políticos envolvidos no caso Petrobras, que ele encaminhou ao Supremo Tribunal Federal. Com 58 anos, nascido em Belo Horizonte, tranquilo e amável, procurador desde 1984, este homem que todos os poderes do Brasil observam com reserva garante que, quando chega em casa, dorme sem problemas.

Ele foi o encarregado, junto com sua equipe, de avaliar as extensas informações desse caso infinito, e de selecionar os políticos que, de acordo com o procurador, devem ser investigados por corrupção ou por suspeita de corrupção. Para isso, examinou muito detalhadamente, durante meses, as denúncias e as informações, entre outros, de Alberto Yousseff, o especialista em lavar dinheiro e a alma dessa trama que desviava recursos procedentes em sua maioria de empresas que, através de subornos, conseguiam contratos com a Petrobras, recheavam as contas de altos funcionários da petrolífera, os bolsos de alguns políticos ou os cofres de determinados partidos para financiar campanhas eleitorais.

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Alguns advogados de pessoas envolvidas no caso consultados por este jornal endossam a discrição de um juiz que soube, ainda comandando um processo explosivo (na lista estão, segundo a imprensa, o presidente da Câmara de Deputados e o presidente do Senado, entre outros), atravessar uma atribulada campanha eleitoral em outubro sem que falassem (muito) dele, nem que vazassem muitos nomes decisivos.

É Procurador-Geral desde 2014. Foi ratificado pela presidenta Dilma Rousseff, eleito pela opinião da Associação Nacional dos Procuradores da República, que havia votado em sua maioria por Janot: desde a época de Lula, o presidente da República aceita a opinião dessa associação com o objetivo de garantir a independência da instituição, coisa que o presidente anterior, Fernando Henrique Cardoso, não fazia.

Tem consciência do terremoto social e midiático desencadeado pela lista elaborada por ele. Numa entrevista para este jornal, realizada em dezembro de 2014, quando ainda investigava as denúncias de Youssef, revelou, com um sorriso tranquilo, sua marca própria: “Ainda não sei o tamanho da Caixa de Pandora da Petrobras”. Também sabe que em setembro deixará o cargo. Mas afirma que não vai se transformar em ministro da Justiça, nem nada parecido. Continuará no Judiciário. “Já tenho trabalho”, assegurou.

Boa parte da sociedade lhe observa e o segue como um baluarte contra a corrupção e a impunidade que, durante muitas décadas, envenenaram o país. Outros, diretamente, o consideram um super-herói. Na segunda-feira passada, em Brasília, um pequeno grupo de cidadãos o aplaudiu na porta do seu tribunal numa noite, e lhe entregou um cartaz escrito à mão que dizia: “Você, a esperança do Brasil”. Num dos poucos gestos descontraídos feitos em público nos últimos meses, o juiz posou com o cartaz para uma foto que no dia seguinte saiu na capa do jornal Folha de S. Paulo.

Meses antes, no escritório envidraçado sobre a planície onde está Brasília, havia dado sua opinião sobre os super-heróis da Justiça: “O que temos que ter são instituições fortes. Cada um deve desempenhar seu papel. Nisso consiste a democracia”. 

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