Lula faz ato pró-Petrobras no dia em que estatal perde grau de investimento
Petista lidera ato para 'salvar' imagem de empresa rebaixada nesta terça pela Moody's
Não foi uma coincidência feliz. No dia escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para iniciar atos públicos em defesa do Governo petista e do legado do partido na Petrobras, a principal empresa brasileira recebeu mais um golpe relacionado ao esquema de corrupção que desviou bilhões, revelado pela Operação Lava Jato.
A agência de classificação de risco Moody's rebaixou as notas da estatal em dois degraus, de investimento ao nível especulativo. Ou seja, aplicações na companhia, que vive uma das maiores crises de sua história, não são mais recomendadas como seguras aos investidores. A Moody's citou as dificuldades da Petrobras em divulgar o balanço do terceiro trimestre de 2014, auditado conforme a lei e já com as baixas causadas pelo esquema de desvios contabilizadas, como um dos motivos.
Enquanto o mercado americano reagia à notícia da Moodys, com queda nas ações da Petrobras, no Rio, o ex-presidente Lula lembrava o momento, que parece distante, em que a companhia realizava sem melindres "a maior capitalização da história" para um ambicioso plano de investimentos, agora congelado.
"O objetivo é penalizar a Petrobras e criminalizar a política", disse o petista, criticando a cobertura da imprensa brasileira às investigações da Polícia Federal, que obrigaram o governo Dilma Rousseff a trocar toda a diretoria da empresa no começo deste mês.
O evento foi organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), que lançou um manifesto no ato, do qual participaram artistas, intelectuais e representantes de diversos movimentos sociais. O objetivo declarado era alertar a população sobre a "ofensiva" para desvalorizar a Petrobras por meio de vazamento de informações "direcionadas" contra o PT cuja meta final, pregavam os participantes, é a privatização da estatal.
"Estou percebendo que eles estão fazendo hoje o que fizeram a vida inteira. A ideia básica é criminalizar antes de ser julgado, criminalizar antes pela imprensa. Se eu conto uma inverdade muitas vezes, ela vira verdade no inconsciente de milhares de pessoas", disse Lula, com desenvoltura habitual, na semana em que se espera que o Ministério Público Federal entregue à corte máxima do país os nomes dos políticos envolvidos no escândalo. "Ao invés de ficar reclamando, vamos defender o que é nosso, a Petrobras, que isso é defender a democracia", seguiu.
Em seu discurso, Lula defendeu ainda o ressurgimento da indústria naval brasileira nos governos petistas, alavancada pela Petrobras e pelas políticas industriais do governo. O setor é, no entanto, um dos afetados em cheio pelo escândalo de corrupção na Petrobras e Operação Lava Jato. Em meio às denúncias, que afetam as principais construtoras do país, a petroleira tem deixado de pagar fornecedores. No último domingo, o Estaleiro Atlântico Sul, das construtoras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, rompeu um contrato de 6 bilhões de dólares para a construção de sondas do pré-sal que era gerenciado pela Sete Brasil. O argumento da empresa é que não recebe pagamentos desde novembro.
Lula, a carta na manga
O ato de Luiz Inácio Lula da Silva pela Petrobras marca a volta às ruas do popular ex-presidente, carta na manga do Partido dos Trabalhadores para os momentos de crise. O petista começa a colocar em prática seu plano de proteção do PT e de sua sucessora na presidência, Dilma Rousseff.
A participação no evento é a primeira medida pública concreta de Lula, que pretende, neste semestre, “colocar o bloco na rua”, conforme definem os petistas. Ele assumirá uma série de compromissos nos Estados, onde se encontrará com movimentos sociais, sindicais, prefeitos e governadores aliados. Seu papel será o de articular a reaproximação do partido com as ruas e, também, com o rebelde aliado PMDB.
O ato em defesa da Petrobras já havia sido anunciado pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, na celebração dos 35 anos do PT em Belo Horizonte, no último dia 7. Freitas esteve na mesa principal da comemoração, ao lado de Lula, Rousseff, do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, e do coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), Alexandre Conceição. A presença dos líderes dos movimentos na mesa principal foi o aceno do PT de que precisará contar com a ajuda deles neste momento turbulento, apesar das medidas fiscais que o Governo tenta implementar e que afetam os trabalhadores.
É das ruas que o Governo quer tirar a sustentação que falta a ele na base de apoio no Congresso Nacional, que passa por um motim liderado pelo deputado Eduardo Cunha, do PMDB. A avaliação do PT é que o poder de Cunha para aprovar medidas que desagradam o Governo, como a reforma política que prevê constitucionalizar o financiamento privado de campanha, pode ser barrado pela mobilização popular. "Nós derrotamos eles nas urnas. Mas eles nos derrotaram no Congresso e na mídia. Nós só temos uma forma de derrotá-los outra vez: nas ruas", definiu João Pedro Stédile, um dos líderes do MST, presente no ato. Um novo ato em defesa da Petrobras está marcado para o próximo dia 13, em diferentes cidades do país. Lula afirmou que pretende participar. "Estamos precisando ir para as ruas, para defender a nossa Petrobras, a reforma política e a democracia", disse ele.
Mas o ex-presidente também vê a necessidade de melhorar as relações do PT com o PMDB. No último dia 11, ele esteve no Rio, onde se reuniu com o prefeito Eduardo Paes e com o ex-governador Sérgio Cabral, ambos do partido. No dia seguinte, em uma conversa privada com Rousseff, em São Paulo, orientou que o Governo mudasse sua estratégia e se reaproximasse do aliado. Segundo uma fonte próxima a Lula, ele teria ainda dado um "puxão de orelha" na sucessora pela trapalhada feita por sua articulação política durante as eleições para a presidência da Câmara. A avaliação do Governo era de que o candidato do PT, Arlindo Chinaglia, teria condições de derrotar Cunha no segundo turno. Mas a estratégia de tentar se desvencilhar do fisiológico PMDB, sem ter uma alternativa para se apoiar, como o novo PL, que o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, pretende criar, mostrou-se trágica. A disputa não passou nem do primeiro turno.
A vitória folgada do peemedebista deu ao partido, o mesmo do vice-presidente Michel Temer, um enorme poder diante do Governo, que tem sido aproveitado por Cunha. Dilma, no entanto, parece ter escutado Lula. Nesta segunda-feira, o ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante se reuniu com o presidente da Câmara, onde teria sinalizado com uma maior participação do partido nas decisões do Governo e com a possibilidade de oferecer mais cargos no segundo escalão, segundo reportagem da Folha de S.Paulo desta terça-feira.
Na noite da própria segunda, Cunha também jantou com os ministros Joaquim Levy (da Fazenda) e Nelson Barbosa (do Planejamento), que explicaram a ele a importância da aprovação do pacote fiscal do Governo. O PMDB já teria indicado que pretende apoiá-lo.
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