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Maduro pede que “guerra econômica” contra o Governo seja investigada

O presidente da Venezuela solicita ao Parlamento que sejam abertas averiguações sobre uma suposta trama empresarial para derrubá-lo semeando o caos ao limitar alimentos

Simpatizantes do chavismo nesta sexta-feira em Caracas.
Simpatizantes do chavismo nesta sexta-feira em Caracas.SANTI DONAIRE (EFE)

O governo da Venezuela comemorou o 57º aniversário da queda da última ditadura, a do general Marcos Pérez Jiménez, anunciando diversas medidas para enfrentar a escassez e o desabastecimento que assolam o país.

O ato, encabeçado pelo próprio presidente Nicolás Maduro, parece ter tido o objetivo de unir o eleitorado chavista mais fiel. Durante seu discurso, o governante venezuelano pediu ao presidente da Assembleia Nacional e homem número dois do regime, Diosdado Cabello, que iniciasse na próxima sessão do Parlamento, prevista para a terça-feira, uma averiguação sobre o que o relato oficial denomina “guerra econômica”. O Governo diz enfrentar uma conspiração empresarial que procura derrubá-lo e que consiste em esconder os alimentos e insumos básicos para provocar o caos.

Foi a estratégia escolhida para explicar ao país por que as prateleiras estão vazias e os usuários fazem longas filas nos arredores dos supermercados. O chavismo evita mencionar os argumentos dos empresários, que decidiram não produzir para ter prejuízo, já que na Venezuela os preços da maioria dos produtos mais demandados estão regulados pelo Estado, e trabalham com os poucos dólares que o Governo disponibiliza. O colapso do controle de divisas, vigente desde 2003, convertido em um foco de corrupção e pelo qual já foram roubados, segundo cifras oficiais, ao redor de 25 bilhões de dólares (64,5 bilhões de reais), e a queda do preço do petróleo fizeram com o setor privado não recebesse a grande quantidade de moeda norte-americana como nos tempos do falecido Hugo Chávez.

Maduro anunciou que na última quinta-feira o vice-presidente Jorge Arreaza se reuniu com 70 distribuidoras do país para que assinassem um documento mediante o qual se comprometiam a regularizar a distribuição de produtos. “É o último chamado que faço para que respeitem o povo. Não quero proceder da maneira mais drástica”, disse o chefe de Estado para seus seguidores reunidos na praça O'Leary, no centro de Caracas. E mais adiante, afirmou: “Quando tiver que tomar medidas duras, preciso do apoio das pessoas nas ruas, que não haja vacilos, que não haja dúvidas. Contem comigo que vou até o fim. Vamos derrotar a guerra econômica. Tremam, oligarcas.”

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A fina linha entre monopólio e estoque é o novo motivo de enfrentamento entre empresários e o regime, e deu argumentos para a posição do governo. Este ano houve intervenção em uma fábrica processadora de leite, a Zuly Milk, que guardava 160 toneladas de matéria-prima para produzir um bem escasso nestes dias, e uma distribuidora, a Herrera, que armazenava produtos prontos para consumo. Os dois procedimentos, amplamente divulgados pelos meios oficiais, reforçam entre o chavismo a ideia de que a burguesia esconde os alimentos exigidos pelo povo.

Durante o discurso de Maduro foi impossível não se lembrar das bravatas do finado Chávez. De muitas maneiras, ele esteve presente: no início do ato, no hino nacional emanado de sua inconfundível voz forte e reproduzida através dos alto-falantes; nas constantes alusões feitas por seu sucessor a seu legado e que pareciam sugerir que jamais se desviaria do caminho ao socialismo de inspiração cubana contido no Plano da Pátria, o programa de governo para o período de 2013 a 2019. E também nas desqualificações: “Esses são os traidores da pátria. A oligarquia parasita e traidora da Venezuela. A oligarquia não pode voltar nunca mais ao poder político, não importa o que acontecer. O povo deve ser o poder, só o povo.”

A oposição venezuelana, enquanto isso, voltará às ruas neste sábado para comemorar a data de fundação da democracia venezuelana confinada a seu bastião no leste de Caracas. Foi uma decisão condicionada pelas circunstâncias. O prefeito oficialista do município de Libertador (centro-oeste de Caracas) não permite concentrações opositoras em seu território, composto pelos bairros mais populares de Caracas. Além disso, para o fim de semana estão anunciadas as visitas dos ex-presidentes do Chile, Sebastián Piñera, e da Colômbia, Andrés Pastrana, ao lugar em que o opositor Leopoldo López está preso. Na segunda-feira se juntará a eles o ex-presidente mexicano Felipe Calderón.

Maduro se encarregou de dar uma hostil mensagem de boas-vindas: “Quero dizer a eles que podem entrar no país, mas deve ficar claro que eles estão apoiando um grupo de extrema-direita que não reconhece o governo.” E finalizou: “Damos as boas-vindas e afirmamos que o povo os repudia e rechaça. Eles se transformaram em um clube de presidentes vagabundos que recebem dinheiro sujo para vir apoiar um golpe de Estado.”

A líder opositora María Corina Machado, que organiza a visita, rechaçou essas expressões: “Maduro deixou em evidência o quanto teme a verdade, que estes ex-presidentes possam ver em primeira mão o drama que vivemos hoje todos os cidadãos: a escassez, as filas, as humilhações, a perseguição, a violência desatada e a impunidade.”

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